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Ganhava R$ 20 por dia do marido; hoje exporta cosmético e fatura R$ 18 mi

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/12/2017 04h00

Com R$ 20 que o marido emprestava todo dia, Cristiane Cintra, 39, visitava dez salões de beleza em São Paulo para revender cosméticos e acessórios de empresas de grande porte. Em 2010, ela abriu seu próprio negócio: a SPHAIR Cosmetics, de produtos para cabelo, com foco em salões de beleza. No ano passado, a empresa faturou R$ 18 milhões e teve lucro de cerca de R$ 7 milhões.

A maior parte do faturamento (70%) vem da exportação para 23 países --11 deles no Oriente Médio, como Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, e de maioria islâmica. A marca também exporta para Argentina, Uruguai, México, EUA, além de países da Ásia, África e Europa. Segundo Cristiane, muitas mulheres do Oriente Médio viraram revendedoras da sua marca.

Nossos produtos para selagem e tratamento de cabelo caíram no gosto das mulheres islâmicas porque são saudáveis, não têm formol e estão dentro do que a religião delas permite.

Cristiane Cintra, dona da empresa

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não permite o uso do formol como alisante capilar. Ele pode ser usado em cosméticos capilares apenas como conservantes (limite máximo de 0,2%), e somente durante a fabricação do produto. Veja as orientações da Anvisa sobre alisantes.

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Foco nas mulheres islâmicas, com autorização dos maridos

Além da empresa, Cristiane criou um blog, no qual dava dicas de cosméticos, produtos e cuidados de beleza. Foi pelo blog que o árabe Ahned Oma, do Egito, a procurou e encomendou a linha sem formol. "Ele comprou 15 produtos de selagem para mulheres de sua família. Elas gostaram tanto, que viraram freguesas", relata Cristiane, que começou a exportar para o Egito em 2012.

Segundo ela, a pedido de Ahned Oma, as mulheres de sua família começaram a oferecer o produto nos salões do Cairo, onde homem não pode entrar. "Foi aí que tive um clique: atender mulheres islâmicas. Esse passou a ser o meu objetivo", afirma.

Para que essas mulheres pudessem trabalhar, Cristiane afirma que teve que convencer seus maridos. Ela diz que conversava com eles pelas redes sociais e usando um programa de tradução simultânea. "Como eles são comerciantes natos, peguei por essa veia, focava no aumento da renda. E deu certo."

R$ 20 para gasolina, coxinha e suco

Cristiane trabalhava em 1994 como vendedora em lojas de shoppings de São Paulo. Depois, fez curso de cabeleireira para ajudar a mãe, Sueli, no salão de beleza no Jardim Mirna, na zona sul de São Paulo. Foi lá, diz ela, que começou a ganhar experiência. Sueli, 56, tem o salão até hoje.

Em 2009, começou a revender produtos, cosméticos e acessórios de empresas de grande porte em salões de beleza e escolas de cabeleireiro. Ganhava 20% de comissão. Todo dia, emprestava R$ 20 do marido, Rogério Duarte, 39. 

Colocava R$ 19 de gasolina e usava R$ 1 para comer uma coxinha e um suco num boteco.

Cristiane Cintra, dona da empresa

Após quatro meses, começou a ser distribuidora. Chegou a ter a 20 revendedores e faturar R$ 100 mil por mês. Apesar de estar ganhando dinheiro, diz, ela se incomodava com a qualidade dos produtos que vendia. Por isso, decidiu desenvolver seu próprio produto de selagem e tratamento de cabelos sem formol.

Abriu a empresa e encomendou a fórmula para uma indústria química. Depois de muitos testes e sempre ouvindo a opinião de sua mãe, lançou, em 2011, as linhas Bioline e Rosa Perfeita Progressiva e Manutenção. O investimento inicial foi de R$ 6.000.

"Era muito difícil vender no Brasil. Conseguia apresentar os produtos em alguns salões de beleza, porém, os profissionais queriam progressivas com base de formol, o que não era nosso foco", afirma.

A empresa tem hoje 29 produtos, todos fabricados em uma indústria química em Franca (400 km ao norte de São Paulo). Hoje, são 80 distribuidores no Brasil e no exterior e 16 funcionários na sede da empresa, em São Paulo --entre eles, duas refugiadas sírias recém-contratadas que "ajudam a fazer contato em árabe com os clientes".

Banho de loja em 2017 e foco no Brasil em 2018

Neste ano, a empresa passou por um "banho de loja", na definição de Cristiane. "O produto é muito bom, mas a embalagem não estava acompanhando. Mudamos logotipo, design e embalagem dos produtos", diz. Para 2018, o foco é aumentar o faturamento em 30%, lançar novos produtos e investir em marketing nacional.

Ainda não desisti do Brasil.

Cristiane Cintra, dona da empresa

Mercado em expansão e cuidado com a concorrência

Paula Bravalhieri, consultora do Sebrae-SP, diz que o tino comercial da empresária da SPHAIR a ajudou a desbravar o mercado no Oriente Médio. "Ela soube entender a clientela de lá." Paula diz, no entanto, que a empresa precisa tomar cuidado com a concorrência no Brasil, ver se existem produtos similares e identificar quem é o seu público-alvo no país.

"As brasileiras são consumidoras muito exigentes e não querem apenas um cabelo da moda, mas fios saudáveis. Isso exige dos pequenos negócios uma maior multiplicidade de práticas e profissionais especializados", diz.

Onde encontrar:

SPHAIR Cosmetics - www.sphaircosmetics.com

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