IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Foi sapateiro aos 11, perdeu R$ 1 mi em assalto e agora ensina empresários

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/05/2018 04h00

Depois de ser aprendiz de sapateiro aos 11 anos de idade, montar uma fábrica de joias aos 21 e sofrer um assalto à mão armada no qual amargou um prejuízo de R$ 1 milhão, o empresário Wilson Roberto Giustino, 58, virou dono de uma rede de escolas que forma empreendedores. Ele abriu o Cebrac, que oferece cursos profissionalizantes.

No ano passado, o Cebrac (Centro Brasileiro de Cursos) faturou R$ 206 milhões. O lucro não foi revelado. O investimento inicial foi de R$ 150 mil.

Leia também:

“Temos cursos voltados ao empreendedorismo, como o administrativo completo, que ensina como criar e administrar uma empresa”, diz Giustino.

40 cursos e 60 mil alunos

Atualmente, a rede oferece 40 cursos em sete áreas (administrativa, tecnológica, industrial, comercial, pessoal, saúde e línguas). Entre os cursos, estão administrativo completo, geração web, mecânica industrial, vendas, cuidador de idosos, assistente de farmácia e inglês.

Os cursos têm duração de oito a 18 meses, e o preço médio da mensalidade é de R$ 195 (não estão inclusos taxa de matrícula nem material didático).

O Cebrac tem 150 unidades, sendo  uma própria em Londrina (PR), sede da empresa, e 149 franquias em todo o país (exceto no Acre). Em Londrina, funciona também a escola-piloto, onde é realizado o treinamento dos franqueados. São 80 funcionários na franqueadora. A rede tem cerca de 60 mil alunos.

Confira dos dados da franquia, fornecidos pela empresa:

  • Investimento inicial: R$ 350 mil (inclui taxa de franquia + capital de instalação e capital de giro). Não inclui adequação do imóvel
  • Royalties: 10% sobre o faturamento bruto
  • Faturamento médio mensal: de R$ 170 mil a R$ 250 mil
  • Lucro médio mensal: média de 20% do faturamento bruto
  • Prazo de retorno: de 21 meses a 23 meses

Pediu ao pai para ser sapateiro aos 11 anos

A história profissional de Giustino começa no início da década de 1970. Ele diz que, aos 11 anos, pediu ao pai para trabalhar numa fábrica de sapatos, no Belém (zona leste de São Paulo), pois queria começar a ter a sua independência financeira.

“Dava uma parte do salário à minha mãe para comprar as coisinhas dela e, com o restante, eu comprava coisas para mim, como roupas, sapatos, bola. Até uma bicicleta eu comprei com o dinheiro que juntava”, afirma ele.

Segundo Giustino, a família não era pobre, mas de classe média. O pai era joalheiro e dono de uma pequena oficina em casa mesmo.

“Meu pai fazia conserto de joias e fabricava peças sob encomenda, como alianças, anéis e pingentes. Ele trabalhava só no varejo. Nunca me interessei em trabalhar ali, porque meu pai dava conta sozinho do serviço e depois por não querer ficar sob a tutela dele. Queria conhecer coisas novas”, declara.

Dos 16 aos 18 anos, Giustino trabalhou como balconista e depois gerente numa loja de material elétrico. Saiu para trabalhar na Justino Ribas, uma das cinco lojas atacadistas de joias de seus primos, no centro de São Paulo. As lojas existem até hoje.

Foi lá que Giustino teve a ideia de abrir sua própria fábrica de joias. Montou, aos 21 anos, a fábrica Wilney Joias, que montava as peças e revendia para as lojas da família.

Fábrica fechou após assalto à mão armada

Em 1982, sua fábrica de joias sofreu um assalto. “Aquele assalto à mão armada me causou um prejuízo estimado em R$ 1 milhão. Os assaltantes levaram todo o estoque, matéria-prima e até joias de clientes que estavam lá para conserto. Fiquei numa situação delicada e fechei a fábrica”, declara Giustino.

Ele se mudou para Campinas (93 km a noroeste de São Paulo), na esperança de trabalhar com um tio como vendedor numa fábrica de chocolate. Não conseguiu a vaga, mas arrumou um emprego de vendedor de cursos de informática na empresa CIC (Centro de Informática e Computação).

“Na época, cursos de computação eram uma novidade. Havia apenas o Basic I e Basic II. Vendia muito”, diz. Ele ficou dois anos no emprego.

Teve prejuízo com Plano Collor

Aos 24 anos, Giustino teve a ideia de montar sua própria escola e diz não ter hesitado em pedir ajuda ao dono da CIC. “Ele me deu várias dicas, e eu montei uma unidade em Poços de Caldas (MG), com o nome de Centro de Informática Caldense, usando a mesma sigla CIC”, diz.

Ao abrir a segunda unidade da rede, em Atibaia (64 km ao norte de São Paulo), Giustino trocou o nome da escola para Center Soft.

Em 1990, o Plano Collor foi, no entanto, um baque. “O meu dinheiro ficou preso e, para honrar meus compromissos e manter as seis unidades em funcionamento, tive que vender patrimônio”, declara.

Cursos de informática ficaram fora de moda

Em 1995, ele diz ter percebido que cursos de informática naquele modelo já haviam perdido o interesse do público. Por isso, implantou o curso de contabilidade e secretariado informatizado na unidade de Ourinhos (378 km a oeste de São Paulo).

“Foi um sucesso tremendo”, diz ele, que replicou o curso para as demais unidades da rede e trocou, de novo, o nome da escola. Dessa vez, para Cebrac.

Em 2003, a rede tinha 42 unidades licenciadas. “Resolvi, então, profissionalizar o negócio, entrei na ABF (Associação Brasileira de Franchising) e fizemos a formatação da franquia. Trocamos todos os contratos de licenciamento para os de franquia”, diz ele, que tem hoje dois sócios, Jefferson Vendrametto, 42, e Rogério Silva, 42.

Precisa de metas para crescer e enfrentar concorrência

Para o gerente regional do Sebrae-SP Alexandre Robazza, o empresário Giustino tem as principais características de um empreendedor, como buscar por oportunidades e informações, ter persistência e ser comprometido com o negócio, por exemplo.

“Olhando sua trajetória, podemos observar que ele se antecipou aos fatos, criando oportunidades de negócios e desenvolvendo soluções inovadoras. Mesmo em momentos difíceis, ele não desistiu e foi persistente”, diz.

Ter planejamento e monitorar os resultados também é apontado por Robazza como fundamental para o negócio. “A falta de planejamento faz o empreendedor quebrar nos dois primeiros anos”, afirma.

Ao criar cursos pensando em novos públicos, com o curso de contabilidade e secretariado informatizado na década de 1990 e o de administrativo completo para formar empreendedores agora, Giustino mostra “senso de oportunidade aguçado”, diz o gerente do Sebrae.

Para ele, no entanto, o empresário deve ficar atento ao estabelecimento de metas para seguir crescendo. “O negócio dele pode chegar a um ponto que não evolua mais, pois o mercado vai ficar cada vez mais concorrido. Por isso trabalhar com metas pode ser o regulador para o crescimento”, afirma.

Onde encontrar:

Cebrac - http://www.cebrac.com.br/