A aposentadoria não é o fim: saiba como empreender na terceira idade

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Nilton Vidigal, 78, sempre trabalhou por conta própria, sendo proprietário de quatro negócios, entre os quais dois foram abertos após a aposentadoria. Entre empreendedores com mais de 55 anos, a ausência de empregos formais e a busca por complementos de renda estão entre as principais motivações para abrir um empreendimento.
Da gelateria para o forno à lenha
Aos 55 anos, em 1997, Nilton resolveu empreender no ramo da gastronomia ao se aposentar. Até 2011, ele gerenciou uma unidade da Gelateria Parmalat. "Ter um empreendimento ocupa a cabeça da gente. Quero estar sempre ocupado, ficar parado não em cai bem. Quem se aposenta também tem o teto do INSS, que não nos dá mais a mesma segurança financeira", comenta Nilton.
Mudança de rumos, sem abdicar do empreendedorismo. Com as dificuldades financeiras, a empresa italiana de laticínios decretou falência ao somar dívidas na casa dos 14 bilhões de euros. Em meio a compra da Parmalat pelo Grupo Lactalis, Nilton saltou da sorveteria para o forno à lenha.
Em 2013, se tornou franqueado da rede de food service Divino Fogão. Com vigor empreendedor, atualmente Nilton gerencia a unidade do Shopping Atrium, em Santo André, no ABC paulista, enquanto Ricardo, seu filho mais novo, toma conta da unidade em Santana Parque Shopping.
Em 2023, essas unidades do Divino Fogão cresceram 20% em relação ao ano anterior. A meta é continuar em crescimento, diz Nilton. "Mudar de ramo tem como maior desafio o conhecimento da área. O regime de franquias entrega tudo isso de uma forma mais fácil. Com a família, as coisas ficam mais fáceis também", pondera.
Como empreender após se aposentar?
O dilema entre oportunidade e necessidade pesa na balança dos "55 mais". Nessa faixa etária, 39,5% disseram ter apostado em um novo negócio por necessidade, enquanto 60,5% afirmam ter sido por oportunidade. Para o gerente nacional de gestão estratégica e inteligência no Sebrae, André Spínola, a oportunidade não é definida pela capacidade da pessoa em empreender, mas por um cenário de mercado.
Antes da competência do empreendedor ser um diferencial, ele precisa entender o mercado, saber como acessar o cliente, como se posicionar. Não é aquela história de saber cozinhar e, por isso, a pessoa vai abrir um restaurante. É preciso se preparar.
André Spínola, gerente nacional de gestão estratégica e inteligência do Sebrae e especialista em educação executiva
O investidor sênior é mais assertivo ao se comparar com jovens empreendedores. "Em termos de temores, a necessidade de complementar renda embaça as decisões. Porque isso faz com que as pessoas percam um tempo fundamental de estudo para colocar de pé um negócio. O sênior tem uma tranquilidade maior ao pensar em complementar a renda. O investidor mais jovem não tem a paciência de esperar o negócio dar certo", resume Spínola.
No público "55 mais", 29% têm mais de três anos de experiência empreendedora. Na faixa entre 18 e 34 anos, a proporção é de 19%. Além disso, 13% das pessoas com mais de 55 anos são empreendedoras em fase de implementação ou já operam seus negócios há três meses. Os dados são da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pelo Sebrae e pela ANGEPE (Associação Nacional de Estudo em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas).
Onde empreender depois da aposentadoria?

Serviços de consultoria, gastronomia, turismo e lazer estão entre as principais opções de empreendimento. "Essas são algumas áreas em que a persona, o jeito dessa pessoa, pode ser o diferencial desse negócio", diz. Segundo Spíndola, é importante que o empreendedor sênior utilize da sua bagagem profissional ao transformar essas experiências em negócios.
Aos 60 anos, Ana Cristina "Kika" Gama Lobo resolveu ser a promoter de uma festa para pessoas maduras. Organizada no Rio de Janeiro, a Festa Kikando - um trocadilho com o apelido de Ana Cristina - é um evento com música dos anos 1970 e 1980 organizada por ela e o DJ Marcos Mamede.
"Não é uma festa de velho em shopping, é uma festa em que as pessoas podem ir sozinhas", conta. Apesar de não poder abrir o faturamento da empreitada, Kika garante que é maior que o salário em regime CLT. Em 2025, essa será a quarta edição do evento que acontece a cada três meses, em média.
Diagnosticada com câncer endometrial, Kika fechou sua a agência de comunicação e foi para CLT. "Eu fiquei na CLT até acabar, porque ter mais de 60 anos e ter todas essas regalias é quase de Marte", comenta. Na instância do INSS, Kika enfrenta uma disputa jurídica que a impede de colher os direitos da aposentadoria. Porque, ao longo de 20 anos, ela foi um CNPJ aos olhos da legislação, o que dificulta a liberação desses benefícios.
As redes sociais também são uma alternativa de negócio. Na mesma época, ela começou a falar sobre sua situação clínica nas redes sociais, o que atraiu diversos públicos em postagens no Facebook e Instagram. Atualmente, Kika também é a apresentadora do podcast PodPau que aborda temas e temores sobre o envelhecimento masculino, como a impotência. Além disso, ela escreveu dois livros: "Kikando na Maturidade: uma senhora mudança" e "Crônicas de uma carioca grisalha", ambos da Editora Lacre.
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