Filho de pedreiro, ele tem empresa que monitora encostas e fatura R$ 11 mi

Luciano Machado, 47, se inspirou no pai pedreiro ao decidir fazer faculdade de engenharia civil. Em 2014, fundou a MMF Projetos de Infraestrutura, em parceria com seu sócio Ricardo Mirisola. Hoje, a empresa administra mais de cem projetos, entre eles alguns de contenção e monitoramento de encostas —inclusive na África. Em 2024, faturou R$ 11 milhões.

Inspiração na profissão do pai

Machado vem de uma família simples. Eles moravam no bairro Vila Miriam, na zona oeste de São Paulo.

O pai, Júlio, era pedreiro. Machado diz que o pai passou por todas as etapas de um funcionário "sem estudo na construção civil". "Ele foi ajudante de pedreiro, pedreiro, encarregado, mestre de obras e empresário", diz. Atuou na área por mais de 20 anos. Hoje, Júlio está aposentado. Na adolescência, Machado chegou a trabalhar no mesmo canteiro de obras do pai, mas na área administrativa.

Sempre tive admiração pelo trabalho do meu pai, que não teve formação, mas tinha muito talento e disposição nas obras. Um dia meu pai me chamou e disse: 'Se quiser fazer engenharia, vai. Tenho certeza de que terá muito sucesso'. E foi assim que minha trajetória na engenharia começou.
Luciano Machado, CEO e sócio fundador da MMF Projetos

O que a empresa faz

Equipe da MMF Projetos na BR 470 destruída após chuvas no Rio Grande do Sul
Equipe da MMF Projetos na BR 470 destruída após chuvas no Rio Grande do Sul Imagem: Divulgação

A MMF Projetos foi aberta em 2014, em São Paulo. O investimento inicial foi de R$ 10 mil.

A empresa é especializada em serviços de engenharia na área de infraestrutura. Desenvolve projetos e gerencia obras em algumas áreas, como ambiental, viária e de edificações. A empresa também faz projetos para a construção de pontes, viadutos e muros de arrimo, entre outros. Hoje, são mais de cem projetos em andamento.

Contenção de encosta é destaque. Na área de geotecnia, o destaque são projetos para contenção e monitoramento de encostas. A MMF desenvolveu o projeto "De Olho na Encosta", para monitorar e prevenir desastres naturais, como deslizamentos de terra, especialmente em áreas urbanas com morros e comunidades vulneráveis. "O objetivo principal é reduzir riscos, proteger vidas e minimizar danos materiais, sobretudo durante períodos de chuvas intensas", diz Machado.

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O projeto atua com base em três pilares. O primeiro é o monitoramento das encostas (por meio de sensores de alta precisão e sistemas de alerta), participação comunitária (envolvendo a população em ações de prevenção e conscientização) e alertas emergenciais (para evacuações rápidas em situações de risco iminente). Um projeto-piloto foi feito em parceria com a Prefeitura de Campos do Jordão (SP), entre 2022 e 2024.

Como funciona. "Nós utilizamos equipamentos automatizados, como inclinômetros para medir a movimentação do solo e sistemas que avaliam a elasticidade e resistência do terreno. O monitoramento é feito de forma remota e contínua, integrando dados climáticos e análises geotécnicas. O sistema emite alertas com 4 a 12 horas de antecedência, permitindo evacuações seguras e evitando riscos de vida", diz Machado.

MMF Projetos no RS. Outro projeto em andamento é a contenção de encostas ao longo de diversos trechos da BR-470, no Rio Grande do Sul.

Em 2024, o faturamento foi de R$ 11 milhões. O lucro foi de R$ 2,8 milhões. Entre os principais clientes, estão Grupo Arteris, Grupo EPR e Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

A empresa tem 50 funcionários — 50% são negros. Além de Machado e Mirisola, a MMF tem mais três sócios: Fernanda Castells (diretora de projetos), Denis Suzuki (diretor de instrumentação) e Douglas Oliveira (diretor de serviços).

Expansão da operação para a África

Luciano Machado e Ricardo Mirisola (à dir.) em visita a obra em Praia, em Cabo Verde
Luciano Machado e Ricardo Mirisola (à dir.) em visita a obra em Praia, em Cabo Verde Imagem: Divulgação
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Desde 2025, a MMF desenvolve projetos para dois países da África. Em Cabo Verde, a empresa tem dois projetos em andamento: uma ponte na cidade de Ribeira Grande de Santiago e barragens e diques, em um projeto de micro e macro drenagem, na capital Praia. "A finalidade principal é conter as inundações geradas durante os períodos de chuva nesses locais e reservar água para os períodos de seca", diz Machado.

Em Angola, a empresa desenvolve projeto de contenção de encostas em um porto em Luanda. A meta deste ano é desenvolver projetos em Guiné-Bissau; empresa já está em negociação.

Internacionalização exige cuidados

A construção civil é um segmento em expansão. "A MMF tem uma diversificação de produtos e serviços, o que a faz atender públicos diferentes. E a parte de contenção de encostas, que está muito atrelado ao desenvolvimento urbano, é um viés que tende a crescer, o que faz com que o ramo dele sempre tenha uma demanda potencial", diz Adriano Augusto de Souza, consultor de negócios do Sebrae-SP.

Valor agregado do negócio. "Ter atuação forte em contenção de encostas aumenta a proposta de valor do negócio, pois está além da empresa, ao resolver um problema da comunidade e impactar a vida de milhares de pessoas", declara.

A internacionalização da operação da empresa exige cuidados. Para o consultor, é preciso avaliar a situação financeira da empresa. "Quando uma empresa expande seu negócio para o exterior, os custos operacionais e a busca por parceiros locais devem ser considerados. O planejamento deve levar em conta as demandas locais, em relação à língua, cultura, qualificação da mão de obra e às questões burocráticas", diz.