Ela queria viver de artesanato, mas bombou vendendo cursos de amigurumi

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Juliana Sanches, 33, largou o emprego onde ganhava um salário mínimo, para viver de artesanato. Mas ela estourou nas redes sociais anos depois, quando começou a fazer amigurumis (nome de uma técnica japonesa para criar bonequinhos de crochê ou tricô). Fez uma raposa para presentear o filho, vendeu a peça e viu ali uma oportunidade de negócio. Hoje, a Caco Amigurumi vende cursos para ensinar a técnica. Faturou R$ 5 milhões em 2024.
Cursos para ensinar a técnica
Ela criou o perfil @cacoamigurumi no Instagram em 2018. Durante o dia, produzia os amigurumis e escrevia receitas. À noite, se dedicava a estudar marketing digital em cursos online, buscando formas de profissionalizar sua presença nas redes e estruturar um negócio sólido.
Amigurumis personalizados eram seu carro-chefe. Em 2020, seu produto principal eram os Mini Mims: amigurumis personalizados de crianças, em que cada boneco era feito sob medida, com base na cor da pele, tipo e cor do cabelo, roupas e detalhes reais da criança homenageada.
Seguidoras pediam receitas. Com o crescimento do seu perfil e da produção dos Mini Mims, as seguidoras começaram a pedir também as receitas. "Elas queriam aprender a fazer e, principalmente, saber como transformar o amigurumi em uma fonte de renda. Esse foi o meu verdadeiro pulo do gato. Percebi que havia ali uma demanda muito maior do que imaginava e que poderia impactar muito mais vidas, ensinando outras mulheres a fazer e vender os seus próprios amigurumis", declara.
Venda de cursos. Juliana passou a escrever e vender suas receitas em PDF, explicando ponto a ponto como criar cada personagem. Foi nesse momento que o produto principal da empresa deixou de ser a produção manual de peças sob encomenda e passou a ser a criação e venda de receitas em PDF. Depois, ela começou a gravar vídeos, mostrando como fazia seus amigurumis do início ao fim, com linguagem acessível.
Isso nos permitiu escalar o negócio. Ao invés de atender uma cliente por vez, agora eu conseguia ensinar centenas de alunas ao mesmo tempo.
Juliana Sanches, fundadora e CEO da Caco Amigurumi
Instagram ajudou no crescimento do negócio. Juliana diz que usava os stories para mostrar os bastidores, suas técnicas, os erros e acertos, além de momentos em família. "Isso criou conexão real com o público", afirma. Hoje, a marca tem cerca de 269 mil seguidores no Instagram.
Empresa é focada na venda de cursos online. Não vende mais amigurumis prontos. São 14 cursos 100% online no portfólio. As alunas têm acesso a aulas gravadas, organizadas em módulos passo a passo: desde os pontos básicos até técnicas avançadas, como bordado de expressão, articulação, costura invisível e personalização de personagens. Um curso custa R$ 500, em média.
Os cursos foram pensados para atender mulheres que muitas vezes nunca fizeram crochê antes, mas também funcionam para quem já tem experiência e quer se destacar no mercado. A didática é simples, clara e com foco em resultado: fazer, vender e viver de amigurumi.
Juliana Sanches
São cerca de 10 mil alunos na plataforma. Além de cursos, a marca vende no seu e-commerce insumos para a produção dos amigurumis, como fios, agulhas e acessórios.
Em 2024, a empresa faturou R$ 5 milhões. O lucro foi de R$ 2 milhões.
Cursos em inglês e mentoria
Marca quer lançar cursos em inglês. Para isso, Juliana fez este ano um intercâmbio em Vancouver, no Canadá, com o objetivo de aprimorar o inglês e lançar cursos neste idioma. "A ideia é expandir a atuação da Caco Amigurumi para o mercado internacional, já que a empresa já conta com muitas alunas no exterior e há uma demanda crescente por conteúdos em inglês."
Mentoria individual para capacitar para o negócio. A mentoria será voltada para mulheres que já fazem amigurumi e desejam se tornar empresárias no segmento. A previsão é lançar a mentoria até agosto. O preço não foi divulgado.
Volta da venda dos amigurumis. Juliana diz que as alunas que fizerem a mentoria individual poderão vender seus amigurumis no e-commerce da marca.
Largou emprego para focar no artesanato
Trabalho na Igreja Adventista. Após se formar em administração, em 2012, Juliana trabalhou no departamento pessoal da Igreja Adventista, em Manaus (AM). Ficou lá até 2014, quando pediu demissão, após passar em um concurso público (a convocação só chegou sete anos depois). Na época, ela ganhava um salário mínimo.
A minha decisão de sair do emprego não foi apenas por causa do concurso. Eu já me sentia infeliz e queria trabalhar com algo mais criativo que permitisse gerar renda em casa e conciliar melhor com a vida pessoal.
Juliana Sanches
Apostou em artesanato para aumentar a renda. "Na época, eu já fazia algumas peças de artesanato, mas não conhecia os amigurumis. Fazia caricaturas, costurava fantasias e roupas de bebê e produzia pães integrais e bolos de aniversário", diz. Hoje, a família mora em Goiânia (GO).
Amigurumi de raposa para o filho
Presente para o filho. Em 2017, sem dinheiro para presentear o filho Theo, Juliana aprendeu a fazer amigurumi pela internet. "Queria dar a ele um presente especial. Como ele é autista, busquei algo que tivesse valor afetivo. Vi um post no Instagram de uma artesã mostrando um amigurumi. Me encantei na hora. Era delicado, feito ponto a ponto à mão, com um cuidado visível em cada detalhe", afirma.
Ela aprendeu a técnica em um dia. Fez uma raposa para o filho, mas Theo não se interessou muito pelo brinquedo. "Por ser autista, ele sempre teve preferências muito específicas: adorava Lego e tampinhas de garrafa, mas nunca brincava com bichinhos de pelúcia", diz a mãe. Ela, então, anunciou o amigurumi em um grupo de desapego no Facebook. Vendeu a peça por R$ 100 —havia gasto R$ 20 em material. "Com o lucro, comprei um Lego para ele". A partir daí, passou a fazer e vender amigurumis pela internet.
O ponto de virada veio quando conseguiu faturar R$ 3.000 em um único mês com a venda dos amigurumis. Foi aí que percebi que tinha um negócio nas mãos e que poderia crescer.
Juliana Sanches
Sou autista nível 1 e encontrei no amigurumi um hiperfoco terapêutico. Fazer amigurumis era uma válvula de escape.
Juliana Sanches
Precisa inovar para se destacar
Focar nos cursos foi um bom caminho. "É muito difícil viver de artesanato, mas Juliana ficou atenta às novas oportunidades e percebeu que focar o seu negócio na técnica, com os cursos online que oferece, pode ser um caminho mais viável", diz Beatriz Micheletto, analista de negócios do Sebrae-SP.
Inovar para se destacar da concorrência. Beatriz diz que a Caco Amigurumi precisa ter sempre receitas de produtos diferenciadas para se destacar no segmento. "Isso ajuda a empresa a dar credibilidade à sua marca, ser uma referência no setor e até se tornar uma grife com os seus amigurumis", declara.
Para quem está começando, vale apostar em nichos. Para Beatriz, como existem muitas artesãs fazendo amigurumis, qualquer pessoa que queria entrar nesse universo deve pensar em se especializar em linhas de amigurumis, como de personagens, de orixás, de animais, etc. "E se esmerar na qualidade do trabalho sempre. No artesanato, quando um faz, todo mundo quer copiar. Se você fizer sempre as mesmas coisas, o cliente pode ficar saturado. O mercado quer novidades o tempo todo. Portanto, a marca precisa ter inovação, com produtos que tenham o DNA do artesão", diz.
Cuidado com a precificação. "Artesão, no geral, não sabe colocar preço no seu trabalho. Isso é uma dor do setor. Por isso, vale buscar cursos para aprender a precificar e administrar as finanças", afirma a analista de negócios.
Planejar para crescer. Para Beatriz, planejamento, plano de ações e capacitação vão fazer a diferença para o empreendedor conseguir crescer. "Aquele que tem metas, e se prepara para isso, chega onde quiser", afirma.
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