Aceita calças como pagamento? Veja como free-lancers fogem dos caloteiros
Ricardo Marchesan
Do UOL, em São Paulo
12/12/2014 06h00
O desenhista Maurício Brancalion invadiu a sala de um médico e, quando saiu, tinha um cheque no bolso, diferentemente do que acontece com a maior parte das pessoas que vão a uma consulta.
O valor era por uma história em quadrinhos institucional que Brancalion tinha feito para o médico. "Ele não pagava de jeito nenhum. Tentei diversos contatos, esperei no consultório, mas nunca me atendia. Aproveitei entre uma consulta e outra e entrei. Foi bizarro", conta.
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"O médico ainda me disse 'você conseguiu, hein?', dando a entender que não foi a primeira vez que tinha feito isso". O cheque, para alegria do desenhista, tinha fundos.
A maioria dos profissionais que trabalham por conta própria, os free-lancers, tem histórias sobre pagamentos que nunca vieram.
"Já tive alunos que receberam em forma de produtos, como calças, e não dinheiro", conta o publicitário Ricardo Dória, que dá aulas sobre como ser um profissional free-lancer no projeto A Grande Escola, que fundou em Curitiba (PR).
"Outro não recebeu por um site que fez. Quando tirou a página do ar, o pagamento caiu em dez minutos."
Mercado de free-lancers está crescendo
Segundo Sebastián Siseles, diretor regional para a América Latina do site Freelancer.com, o número de autônomos no Brasil está crescendo, e o interesse dos jovens nesse tipo de trabalho, aumentando.
"Os jovens estão procurando um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, e o maior acesso à ferramentas digitais, como Skype e Google, está mudando o mundo do trabalho", afirma.
Atualmente, na plataforma Freelancer.com, utilizada para negócios entre autônomos e clientes, estão registrados mais de 200 mil brasileiros, sendo 185 mil free-lancers. Segundo Siseles, no ano passado, eram 100 mil usuários do país no site.
Experiência ajuda a prever o calote
Com o tempo de carreira, é possível diminuir o número de problemas, cultivando uma boa clientela e aprendendo a reconhecer potenciais caloteiros. "No começo, a gente acaba aceitando qualquer coisa", afirma Brancalion. "Muitos oferecem trabalho em troca de exposição ou permutas".
Se está começando na carreira e a experiência ainda não veio, a melhor forma para evitar problemas na hora de receber é se proteger antes de iniciar um projeto. "A realidade é que free-lancers raramente processam clientes. O trabalho e o custo de uma ação são muito altos", afirma Dória.