OIT: paridade salarial entre mulheres e homens vai levar mais de 70 anos
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que a paridade salarial entre mulheres e homens vai levar mais de 70 anos para ser alcançada. A nível global, a diferença diminuiu apenas 0,6% entre 1995 e 2015.
A conclusão consta do relatório Mulheres no Trabalho: Tendências 2016, divulgado nesta segunda-feira (7). O documento diz ainda que "o progresso alcançado para colocar mais mulheres no mercado de trabalho foi insuficiente".
Desvalorização
Atualmente, as mulheres ganham 77% do salário que os homens recebem para executar o mesmo tipo de função. A OIT afirma que isso não pode ser explicado apenas por diferenças na educação ou idade.
Segundo a agência, essa lacuna está ligada à desvalorização do trabalho realizado pelas mulheres e das habilidades exigidas pelos setores ou empregos dominados por elas.
Em entrevista à Rádio ONU, o diretor do escritório da OIT em Nova York, Vinícius Pinheiro, falou sobre os principais pontos do documento.
"O relatório mostra, por exemplo, que a brecha em relação à participação da mulher no mercado de trabalho é de 27 pontos percentuais. O relatório mostra também que as mulheres têm uma maior probabilidade de estar desempregadas e de estar em empregos de baixa qualidade e empregos na economia informal. O relatório mostra que as mulheres trabalham um maior número de horas do que os homens e ganham menos em relação à mesma posição."
Pinheiro falou também sobre as recomendações da OIT para resolver esse problema.
"Primeiro, é fundamental acabar com essa diferença salarial no mercado de trabalho. Não existe qualquer motivo para que uma mulher que tenha o mesmo desempenho, que esteja na mesma posição de um homem na força de trabalho, tenha um salário diferente. Em segundo lugar, é fundamental reconhecer, reduzir e redistribuir o trabalho doméstico, que não é assalariado e que é feito em casa. As mulheres também têm uma carga maior em relação ao trabalho doméstico. O acesso ao sistema de proteção social também é fundamental, incluindo benefícios para a maternidade e creches."
178 países
O relatório da OIT mostra que a desigualdade entre homens e mulheres acontece numa grande variedade de todos os setores profissionais do mundo inteiro.
A pesquisa, feita em 178 países, revelou ainda que as mulheres trabalham mais horas do que os homens nos setores que pagam os salários mais baixos.
Segundo a agência da ONU, as opções de emprego para as mulheres estão piores agora em comparação a 1995. A proporção da força de trabalho feminina permaneceu praticamente igual nos últimos 20 anos.
Brasil
No Brasil, a OIT diz que 36% das mulheres ocupam empregos informais. Ao mesmo tempo, diz que o programa de microempresários, lançado pelo governo em 2009, reduziu os custos para a abertura de empresas por pessoas de baixa renda, especialmente mulheres.
O relatório mostra que no primeiro ano do programa, 1,9 milhão de pessoas se cadastraram, sendo que 46% foram mulheres.
A OIT mencionou os avanços em relação às trabalhadoras domésticas, que já têm o mesmo tipo de proteção dado aos outros trabalhadores, como por exemplo carga horária de 44 horas por semana. Segundo o documento, novas medidas, como o pagamento de hora extra, promovem ainda mais o trabalho decente no país.
Entre os programas de assistência social de maior impacto, a OIT diz que o Brasil sem Miséria, que amplia o Bolsa Família cobre as regiões Norte e Nordeste do país.
A agência explica que eles fornecem microcrédito e treinamento para mulheres. Além disso, cita também o Brasil Carinhoso para fornecer serviços de creche a crianças menores de seis anos. Pelo menos 580 mil estão sendo beneficiadas.
América Latina
Na América Latina, mais mulheres estão trabalhando. Houve um aumento percentual em comparação à população da região. As razões para essa alta foram a melhora da educação e redução dos índices de nascimentos.
As maiores diferenças salariais entre homens e mulheres foram registradas no Oriente Médio, norte da África e sudeste da Ásia.
Essa diferença tem um impacto também na aposentadoria. No mundo, as mulheres representam quase 65% das pessoas que estão na idade de receber os benefícios de aposentadoria e pensões, mas não recebem absolutamente nada.
200 milhões
Isso representa um total de 200 milhões de mulheres idosas sem qualquer rendimento pela sua idade ou pensão do marido. No caso dos homens, 115 milhões, pouco mais da metade, estão nessa situação.
O relatório confirmou algo que já é de conhecimento público há muito tempo, o fato de as mulheres ainda serem responsáveis pela maior parte dos afazeres domésticos.
Outro ponto mencionado pela OIT é que as mulheres também, em sua maioria, ficam responsáveis pelos cuidados de parentes doentes e fazem isso sem qualquer tipo de remuneração.
Para os especialistas da agência da ONU, "esses obstáculos impedem as mulheres de encontrar empregos de longo prazo, mais especializados e com salários mais altos".
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