Ganham R$ 8.000 para assistir a filmes, jogar games e dizer quem pode ver
Dá para ganhar dinheiro assistindo a TV e jogando videogame? A resposta é sim, ao menos para quem trabalha com a classificação indicativa do Ministério da Justiça.
Esse setor é responsável por recomendar às famílias quais idades seriam mais apropriadas para assistir e ter acesso a programas de TV, filmes, séries, jogos e livros de RPG (jogos de interpretação de personagens). A classificação pode ser livre ou não recomendada para menores de 10, 12, 14, 16 e 18 anos. São funcionários públicos e ganham salários de até R$ 8.000.
“As informações são passadas para a sociedade. Os pais avaliam a melhor maneira de usar determinado conteúdo e decidem quando seus filhos estão prontos para receber aquela informação”, afirma Eduardo Nepomuceno, coordenador de classificação indicativa do Ministério da Justiça.
Como funciona
A classificação indicativa vai verificar se há cenas de violência, sexo, nudez, drogas e linguagem imprópria. Ela é dividida em duas partes: a análise prévia e a autoclassificação.
Na análise prévia, os profissionais verificam os mercados de cinema e vídeo, jogos eletrônicos, aplicativos e livros de RPG. O funcionário precisa fazer um relatório detalhado sobre o que considera inapropriado.
"Se é uma cena de morte intencional, mas não mostra nada, pode ser classificado em dez anos. A mesma cena pode não mostrar como foi, mas é possível ver o cadáver, poderia ser 12 anos. Se mostra alguém atirando, e a cena é agressiva pode ser 16 anos. Crimes de ódio, tortura ou apologia à violência são 18 anos. Tudo vai depender de como a cena é construída e seu contexto. Às vezes, 15 segundos mudam a classificação do filme inteiro", diz o coordenador.
Todas as obras precisam passar por pelo menos dois analistas. Se as opiniões são diferentes, vai para uma terceira pessoa.
Na autoclassificação, as próprias emissoras de televisão (aberta ou a cabo) e produtoras determinam a faixa etária que pode assistir a novelas, séries e programas.
O ministério assiste os programas nacionais com o público e faz o acompanhamento por 60 dias. Se a classificação sugerida não for adequada, o programa pode ser reclassificado. A reclassificação também pode acontece quando há alguma edição no conteúdo.
O ministério não faz a classificação indicativa de programas jornalísticos, noticiosos, ao vivo e esportivos, por exemplo. Teatro também fica de fora da lista.
Não é diversão o tempo todo
Apesar de poder ficar assistindo a filmes e jogando videogame todos os dias, quem trabalha com isso afirma que não se trata de diversão o tempo todo.
"É bom trabalhar com cultura? É fantástico, mas, de 100% dos filmes que são analisados, 15% você assistiria fora do trabalho e acharia fantásticos, 30% você terminaria de ver porque começou. O restante você não assistiria de jeito nenhum. Aqui, a gente não tem escolha", diz o coordenador.
Rafael Figueiredo Vilela, 29 anos, é responsável por jogos, aplicativos e RPG, mas já trabalhou em todos os setores da classificação indicativa. Ele começou no cargo em 2009 como estagiário, se formou em relações internacionais e optou por continuar no setor.
Mesmo fora do trabalho, ele afirma que não deixa o videogame de lado. "Fora do trabalho eu jogo, em média, de seis a sete horas por semana. Não canso porque em casa eu posso escolher o que jogar. Aqui tem uma demanda para dar conta. Como tem que prestar atenção e fazer relatórios, duas horas de jogo podem levar cinco horas de trabalho.”
Precisa guardar segredo
Quem trabalha na classificação indicativa precisa assinar um termo de responsabilidade e confidencialidade.
"Os meus amigos que também gostam de videogame me perguntam se apareceu algum jogo bom, mas não posso dar detalhes", diz Vilela.
"Em jogos, há um segredo a mais. Todo mundo sabe que um filme vai ser lançado e é público que ele está sendo gravado. No mercado de jogos, é comum ser revelado apenas um mês antes do lançamento, por exemplo. Enquanto os filmes chegam à classificação indicativa com 30 dias de antecedência, os jogos chegam de quatro a cinco meses antes. Por isso, tenho de esconder até a existência do jogo."
Vaga é conseguida por concurso público
Para trabalhar na classificação indicativa é preciso prestar concurso público. O último foi realizado em 2013, e não há previsão de novos.
Os funcionários ganham de R$ 5.000 a R$ 8.000 por mês. O local de trabalho é Brasília. A jornada é de oito horas.
O setor também seleciona estagiários. O salário não foi informado.
O setor de classificação indicativa tem 25 funcionários, entre estagiários, analistas e serviço de apoio, e elabora 15 mil relatórios por ano.
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