Representante de cannabis medicinal ganha até R$ 20 mil/mês, diz empresa
A maconha está chegando firme ao mundo dos negócios. O Brasil ainda engatinha no setor de cannabis para uso medicinal, mas mesmo assim há vagas e oportunidades para quem deseja trabalhar ou empreender no novo e promissor mercado. Uma área em alta é a de representante de cannabis. A promessa é de ganhos de até R$ 20 mil por mês, dizem empresas e profissionais do setor.
Atualmente, mais de 160 empresas exportam produtos à base de maconha para o Brasil. A maioria delas opera com representantes farmacêuticos, diz Marcelo Grecco, CEO e um dos fundadores da aceleradora de startups The Green Hub. "Geralmente contratam pessoas que já atuaram como propagandistas e oferecem um treinamento para o trabalho com a cannabis medicinal."
Contato com médicos
O representante é a pessoa que faz o meio de campo entre médicos, pacientes e produtos. O executivo afirma que as empresas que trabalham com esse tipo de profissional são as que possuem escritórios e equipes no Brasil.
Outras operam só com venda direta online no exterior. Mas, a tendência é que o número de oportunidades aumente, declara Grecco. "Há empresas com mais de 40 representantes de cannabis."
É o caso, por exemplo, do escritório brasileiro da norte-americana Carmen's Medicinals. Ela comercializa oito produtos à base de cannabis e possui 45 representantes em todo o país.
Contratações em 2022
Novas contratações devem ocorrer em 2022, diz Marcelo Silva, gerente nacional de vendas da empresa. "Estamos em expansão na parte administrativa e comercial."
Segundo Silva, os representantes prestam serviço como PJ (pessoa jurídica), e os ganhos podem variar de R$ 1.500 a R$ 20 mil, ou até mais, afirma o gerente. O valor vai variar de acordo com o volume de venda dos produtos, que custam atualmente em torno de R$ 400.
Mas quem se interessar em entrar na área vai precisar se preparar, declara o gerente da Carmen's. "É um cargo bastante técnico, que vem sendo ocupado por profissionais do setor farmacêutico, com conhecimentos sobre as áreas comerciais e médicas."
Conseguiu emprego sem experiência
Isso não significa que apenas quem trabalhou na área farmacêutica pode se tornar um representante. Um bom exemplo é Jamila Ferreira, 30, que mesmo sem experiência anterior como propagandista, foi contratada como representante de cannabis na Carmen's Medicinals no Brasil.
Ela encontrou a cannabis em 2019, procurando ajuda para um sobrinho com autismo. Depois de observar os supostos benefícios nele, decidiu também se tornar paciente. O tratamento foi um sucesso, diz.
"Tenho hérnia de disco, fiz cirurgia com 18 anos, sofri com dores por 10 anos, e hoje não faço mais uso de medicação alopática."
Convencida dos benefícios para a saúde, Jamila Ferreira resolveu investir nos estudos. Fez uma pós-graduação de 11 meses sobre cannabis medicinal na Faculdade Unyleya, de ensino a distância. Também frequentou um curso técnico online de quatro meses sobre a indústria da cannabis.
Depois encarou um processo seletivo no escritório regional da Carmen's no Piauí, onde ela vive. Poucos dias depois foi contratada e há seis meses trabalha no ramo.
Preconceito e desconhecimento
Quem estiver pensando em atuar como representante precisa se preparar para enfrentar desafios. Se por um lado o trabalho é semelhante ao do tradicional propagandista do setor farmacêutico, o mercado da cannabis exige mais, por ser muito recente.
É uma atuação mais complexa, principalmente no relacionamento com os médicos brasileiros, declara Marcelo Grecco. "Há muitos médicos que nem sabem que podem prescrever".
É a realidade que a representante Jamila Ferreira enfrenta no Piauí. "Pouquíssimos médicos prescrevem, há muito preconceito."
No cotidiano, ela precisa lidar diariamente também com a falta de informação. "Quando comecei a fazer as visitas aos consultórios, a grande maioria ainda não sabia nada sobre cannabis medicinal. Meu trabalho então também passou a ser o de educar."
Cursos de formação
Para encarar os perrengues da profissão, Jamila Ferreira foi fundo nos estudos, e não se arrepende. Hoje ela também é chamada para dar treinamento sobre cannabis medicinal para novos representantes, médicos e ainda presta consultoria para novos produtos na empresa onde trabalha.
De olho na expansão do mercado, opções de formação começam a surgir para quem pretende entrar no ramo da maconha legal, seja na área medicinal no Brasil ou até em outros nichos, como o do uso recreativo em países com regulamentações mais flexíveis.
Em dezembro, a The Green Hub vai lançar o curso focado em negócios "Oportunidades Globais da Cannabis Legal". "É dirigido a quem deseja trabalhar ou investir nesse mercado", declarar Marcelo Grecco, CEO da aceleradora.
Outra opção é a do curso online "Ciência e Indústria da Cannabis", da Inflore, empresa da brasileira Luna Vargas, que atua como educadora do setor no Canadá, onde o comércio recreativo de maconha está legalizado desde 2019.
São dois meses de aula. Já foram três turmas, e a quarta deve ser formada em breve, diz Luna Vargas. "O conteúdo vai da planta ao mercado".
"É um treinamento para formar consultores de cannabis". O profissional poderá trabalhar no Brasil como representante de produtos com foco medicinal, ou como "budtender", uma espécie de sommelier de maconha, em países onde o uso recreativo é legalizado, como Canadá e Uruguai.
Há também outros cursos oferecidos no país voltados para médicos, na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Site mostra vagas
O empreendedor Danilo Lang viu uma oportunidade de negócio no setor no Brasil. Diante da quantidade de pessoas interessadas em trabalhar na área, criou a Cannabis Empregos, uma plataforma online para atender a demanda de oferta e procura de trabalho no Brasil.
Segundo ele, o site trabalha com planos de acesso gratuitos para profissionais e empresas. "As vagas só saem do ar quando são preenchidas."
Maconha em farmácias?
A atual expansão do mercado da cannabis tem a ver com uma resolução de 2020 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que flexibilizou os procedimentos para a importação de produtos derivados de maconha para fins medicinais e que permitiu o acesso a aproximadamente 400 produtos.
A possibilidade de obter autorização para a venda de produtos derivados da maconha em farmácias físicas do país também aumentou o clima de otimismo no mercado brasileiro.
A Anvisa já concedeu sete autorizações, duas nos primeiros dias de novembro. E uma fila aguarda o aval.
Perspectivas de mais empregos
Embora ainda não exista no Brasil nenhum sinal de regulamentação do uso recreacional, está em trâmite por aqui um projeto de lei (PL 399/15) que trata do cultivo da planta, incluindo o cânhamo —variação da cannabis que pode ser utilizada principalmente para fibras têxteis.
Com isso, novas áreas do setor devem começar a contratar. Mais do que novas profissões, Grecco prevê grande demanda por especialistas. "O mercado vai precisar muito de químicos, farmacêuticos, médicos e advogados especializados em cannabis."
Nesse possível cenário, com autorização do plantio, a previsão é de que o setor possa gerar mais de 300 mil empregos para a economia brasileira nos próximos anos, segundo levantamento da Kaya Mind, empresa brasileira especializada em dados sobre o mercado de cannabis. Muitas dessas vagas devem surgir na exploração industrial do cânhamo, de acordo com o relatório.
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