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Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Sebrae-SP e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em outubro de 2021

Semeando tecnologia

Oferecendo inovação "dentro e fora da porteira", agtechs querem conectar o agronegócio brasileiro ao futuro

oferecido por Selo Publieditorial ADOBE

"Oportunidade" é a palavra mais frequente nos discursos de quem faz parte da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro.

O país tem 83 milhões de hectares de áreas cultivadas, com 255 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas produzidas em 2020, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nas últimas décadas, essa produção de grãos cresceu seis vezes, enquanto a área cultivada apenas dobrou.

O que fez a diferença para alçar o Brasil a um dos principais produtores de alimentos do mundo foram os investimentos em pesquisa agrícola e modernização da produção: sementes melhoradas geneticamente, manejo de pragas, correção do solo e investimento em maquinário agrícola.

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Rio Piracicaba

Diante disso, as agtechs - startups focadas em soluções inovadoras para as lavouras e pecuária brasileiras - querem fazer com que a agricultura entre no modo 4.0 para seguir em expansão. É como se "o olho do dono que engorda o gado" recebesse um reforço tecnológico para enxergar mais longe.

"O processo de transformação digital no agro brasileiro chegou para ficar e é um ponto sem volta. Não temos dúvidas de que o uso de inteligência artificial, drones, simulação computacional e softwares para apoiar o setor só vai aumentar", disse o presidente da Embrapa, Celso Moretti, durante evento sobre startups do setor, que aconteceu em maio.

A chegada dessa nova cultura empreendedora ao campo está ligada a um ambiente efervescente que une centros de pesquisa, grandes e pequenas empresas, universidades e governos numa mesma sintonia. "O Brasil está liderando mundialmente o movimento de inovação aberta no agronegócio. Temos mais oportunidades do que desafios", diz José Tomé, cofundador e CEO do AgTech Garage, o maior hub de inovação em agro do país.

O epicentro desse movimento é a cidade de Piracicaba, a 160 km da capital paulista. Conhecida como o Vale do Silício caipira, em referência à região nos Estados Unidos com alta concentração de empresas tecnológicas, o Vale do Piracicaba fomenta a criação de micro e pequenas empresas voltadas para o desenvolvimento de inovações para otimizar a cadeia produtiva.

Toda essa inovação não fica restrita a Piracicaba. A cidade faz parte do chamado Corredor Tecnológico do Agro, que envolve São Carlos, Campinas, Ribeirão Preto, Jaguariúna e os municípios do entorno, criando uma rede de instituições de pesquisa, hubs e agtechs, um polo capaz de potencializar o desenvolvimento regional e a economia.

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Da produção de cana aos centros de inovação

Entre as 10 cidades do país que mais concentram agtechs, 5 estão no Estado de São Paulo e Piracicaba é uma delas, de acordo com dados deste ano do Mapeamento de Agtech, feito pela Abstartups (Associação Brasileira de Startups). O levantamento completo identificou 299 agtechs no país, das quais 54% estão em fase de validação e operação.

Polo de cultivo de cana de açúcar, Piracicaba tem desde 1.900 sua espinha dorsal de inovação: a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), ligada à Universidade de São Paulo. José Tomé, do Agtech Garage, identifica cinco elementos fundamentais para tornar a cidade do interior paulista um ecossistema tão potente para o desenvolvimento de negócios de ponta: talentos, capital, densidade, cultura e ambiente regulatório. "Talentos, Piracicaba já tem há muito tempo, e a Esalq é uma grande âncora para isso", diz ele.

Os demais fatores foram atraídos por esse cenário, que hoje conta com universidades, multinacionais, grandes empresas e empreendedores, Embrapa, investidores, Sebrae e hubs de inovação focados no agronegócio. O tamanho da cidade também faz com que atividades cotidianas promovam encontros, fazendo as ideias fluírem naturalmente.

"Temos um ambiente muito favorável aqui, em que todo o mercado está voltado para o desenvolvimento científico da região", diz Jacqueline Boriam de Oliveira a analista de negócios do escritório do Sebrae-SP em Piracicaba.

AgTech Garage
AgTech Garage fica em Piracicaba

Além disso, quem quer empreender ou já está com o modelo de negócios em andamento pode encontrar oportunidades para se desenvolver. Um desses centros é a EsalqTec, incubadora da Esalq que conta com 120 empresas de 8 Estados investindo em inovação para atender aos gargalos do mercado.

O engenheiro agrônomo Sergio Marcus Barbosa, gerente executivo da EsalqTec, conta que o foco da incubadora é dar suporte científico para o desenvolvimento das startups. "Poucos ambientes de inovação trabalham com risco tecnológico. Mas esse é o nosso trabalho", diz ele.

Criado em 2017, o Agtech Garage conta hoje com mais de 55 grandes empresas parceiras, líderes em seus segmentos, e mais de 860 startups conectadas em sua comunidade virtual. Já o Pulse, hub vinculado à Raízen, é um espaço em que startups podem desenvolver tecnologia para a própria empresa. Uma delas, por exemplo, é a Arpac, que oferece pulverização de plantações por meio de drones.

Outra iniciativa para fomentar esse ecossistema é um programa exclusivo de aceleração promovido pelo Sebrae-SP. Com três meses de duração, o Start Agro é online e gratuito e oferece acompanhamento com um head de aceleração e mentorias individuais com experts do mercado, além de meetups com referências no setor.

Nossa estratégia é apoiar amplamente esses empreendedores tanto na maturação quanto na realização de negócios. O Start Agro vai fazer isso, conectando startups com o mercado e produtores, ajudando a disseminar tecnologias essenciais para o aprimoramento da atividade em todos os elos das mais diversas cadeias produtivas."

Tirso Meirelles, presidente do Conselho do Sebrae-SP

Tecnologia na porteira

As agtechs podem ser classificadas de acordo com o momento da gestão agrícola em que atuam: antes (pré-cultivo), dentro ou depois da porteira.

Antes da porteira estão, por exemplo, startups que oferecem o compartilhamento de maquinário, insumos melhorados geneticamente ou serviços financeiros. Dentro da porteira estão as soluções destinadas a monitorar a plantação ou o rebanho, a fazer uso inteligente de recursos e a oferecer maquinário disruptivo em tecnologia, entre outros. Por fim, as empresas que oferecem produtos e serviços para depois da porteira se concentram em novos métodos de armazenamento da colheita, rastreamento ou marketplaces para a comercialização da safra.

Sete em cada 10 agtechs do país atuam dentro da porteira. Uma delas é a Cropman, startup que utiliza algoritmos e mineração de dados para criar mapas de diagnóstico do solo e, assim, indicar para o agricultor onde é preciso usar determinado insumo.

A ideia de negócio surgiu dentro da universidade, quando um dos sócios tentava entender por que determinada área produzia mais do que a do vizinho. Até então, o agricultor se orientava pela paisagem, buscando identificar que ponto do terreno era mais fértil. "Mas tem muita coisa que o olho não vê. A tecnologia agora consegue analisar isso sem subjetividade", diz Henrique Junqueira Franco, um dos fundadores.

Isso evita, por exemplo, que se dê a mesma dose de adubo ou de fertilizante para toda a área de cultivo, tornando o manejo da terra mais eficiente, e se quantifique com precisão o montante de sementes para cada ponto do terreno. "A inteligência artificial vai substituir o técnico de campo", diz ele.

Fundada em 2018, a empresa conta hoje com 12 pessoas na equipe. Recebeu mentoria do Sebrae-SP por meio do programa Start Agro e investimentos da Fapesp, passou pelo Pulse, hub da empresa de energia Raízen, e hoje faz parte do Cubo, maior hub de startups do país.

No início deste mês, a Cropman fez um acordo comercial com a CNH (New Holland) para que os sensores acoplados nos maquinários agrícolas possam colher dados para alimentar os serviços de mapeamento vendidos por ela em toda a América Latina. "Estamos em fase de ganho de mercado. Com essa parceria, queremos em cinco anos atingir 5% de toda área cultivável do país", prevê Franco.

EsalqTec

Muito além da fronteira

Barbosa, da EsalqTec, afirma que, nesse setor, a oportunidade é do tamanho do desafio. Com soluções escalonáveis, as startups têm um território imenso de 83 milhões de hectares à disposição no Brasil.

"Trabalhar com agricultura não é fácil, são vários tipos de cultura e cada uma tem suas características. Mas startup não é para ter endereço, é para ter posicionamento. O conceito é de alta mobilidade", sugere ele.

Franco, da Cropman, vive isso na pele e conta que, mesmo sendo filho de produtores rurais, teve que entender como se dirigir ao fazendeiro em diferentes regiões. "Demoramos para aprender como abordar o agricultor. Ele só compra quando entende que vai ganhar com aquilo. Cada visita era um aprendizado", lembra. "Mas estamos sentindo que há uma maturação do mercado."

Enquanto a pesquisa evolui em busca de soluções inovadoras para o campo, agricultores atravessam um momento de aculturamento para essas novas ideias. "É um processo natural", diz Tomé. "O futuro já existe nas fazendas brasileiras, ele só não está bem distribuído."

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