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Investir fora do seu banco pode ser mais vantajoso, mas exige cuidado

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

18/03/2013 06h00

Existem mais de 12 mil fundos de investimentos disponíveis no país. A maioria dos investidores somente vai conhecer, talvez, a dúzia de produtos oferecida pelo seu próprio banco.

Ampliar os horizontes pode ser uma estratégia para conquistar rendimentos melhores, cada vez mais difíceis em um cenário de juros reduzidos, inflação em alta e um desempenho pobre da Bolsa de Valores.

Além dos bancos, corretoras de valores, shopppings financeiros e boutiques de investimentos também distribuem aplicações financeiras, como CDBs de bancos médios e pequenos, além de fundos administrados por gestoras independentes de investimentos.

Buscar opções além do universo dos grandes bancos inclui boas surpresas, como encontrar fundos DI a custos bem mais baixos e CDBs com rendimento melhor, mas também alguns riscos.

A expansão do mercado

Ironicamente, o momento ruim da Bolsa de Valores está favorecendo o investidor mais interessado. A participação da pessoa física no mercado de ações encolheu nos últimos anos: representavam pouco mais de 25% do volume de negócios, e agora, mal ultrapassam 15%.

As corretoras de valores, que faturam principalmente com a intermediação de negócios na Bolsa de Valores, foram forçadas a diversificar suas atividades.

Conheça os prós e os contras de aplicar fora de bancos

As vantagensAs desvantagens
Corretoras independentes podem oferecer produtos com ganhos e custos diferenciadosA indicação de aplicações pode ser errada; bancos podem ter mais informações sobre perfil do cliente
Há maior foco e estímulo para oferecer investimentosHá custos para transferir recursos da conta no banco para a corretora
Há mais produtos para investidores com pequenas quantias na comparação com os bancosBancos têm marcas famosas; poucas corretoras são conhecidas pela maioria dos investidores

Muitas já distribuem fundos de investimentos de várias instituições financeiras, além de CDBs e letras de créditos como LCIs (uma espécie de “CDB imobiliário”, que conta com isenção do Imposto do Renda).

“O funcionário do banco, necessariamente, vai oferecer produtos somente do próprio banco. Em uma corretora independente, você vai ter acesso a fundos de várias instituições financeiras. Somente nessa diversificação você já ganha uma vantagem”, diz o educador financeiro Leandro Rassier, autor do livro “Como conquistar sua independência financeira”.

As diferenças de desempenho

Há muita diferença entre um fundo conservador de um grande banco e outro de uma corretora independente? A diferença principal está nos custos.

Com uma boa pesquisa, é possível encontrar fundos DI para valores em torno de R$ 5.000 que cobram taxas de administração inferiores a 1%. Nos grandes bancos, as taxas de administração para pequenos valores ainda seguem bem acima desse valor.

As diferenças de desempenho ficam mais interessantes nos fundos de investimentos mais sofisticados, e que podem oferecer rendimentos acima dos produtos mais tradicionais.

Grandes bancos faturam bilhões de reais e podem contratar mais analistas e os melhores profissionais na área de gestão de investimentos.

Em tese, portanto, têm todas as condições de oferecer os melhores produtos para os seus clientes. Mas a prática pode ser um pouco diferente.

Para começar, porque algumas das melhores aplicações financeiras criadas pelos grandes bancos, às vezes, podem ser oferecidas somente para a clientela de alta renda, com mais de R$ 50 mil ou R$ 100 mil para investir.

Depois, por uma questão de acomodação. Com uma ampla rede de agências bancárias, é fácil para um grande banco distribuir seus produtos para uma clientela fiel: seus correntistas.

Uma gestora independente, que ganha dinheiro somente com a oferta de seus fundos de investimentos, têm mais estímulo para oferecer um produto com ganho diferenciado. “Algumas gestoras se especializaram em um nicho de mercado e competem muito bem com os grandes bancos”, diz Frederico Skwara, especialista do portal Bússola do Investidor.

A diferença de foco

Fora dos universo dos grandes bancos, especialistas também veem diferenças no atendimento ao cliente, outra vez, por uma questão de estímulos de cada parte.

Bancos ganham dinheiro de diversas formas, como a prestação de serviços (pagamento de contas, transferência de recursos entre outras) e a concessão de empréstimos. A oferta de investimentos é uma parcela importante dos ganhos, mas não a atividade principal. A função primordial dos bancos é captar recursos (através de CDBs, por exemplo) e emprestar a um custo mais alto.

O fato de o título de capitalização ser um produto mais popular nas agências bancárias do que o Tesouro Direto já fornece uma pista das prioridades da instituição financeira.

Uma distribuidora de produtos financeiros, como uma corretora ou uma boutique de investimentos, ganha dinheiro com as taxas cobradas nos produtos. Têm mais estímulo, portanto, para oferecer aplicações com ganhos melhores para fidelizar o cliente.

Há pelo menos duas ressalvas importantes para o cenário anterior. Primeiro, porque concentrar a vida financeira (o pagamento de contas, o financiamento de um imóvel, a caderneta de poupança) em um banco traz vantagens em termos de custos para o correntista.

Em tese, um gerente de banco também possui muito mais informações sobre o perfil de um cliente na comparação com um profissional, mesmo que especializado, de uma corretora independente.

A questão dos custos e o obstáculo da burocracia

Migrar do banco em que o investidor mantém sua conta corrente e buscar alternativas em uma corretora independente exige algum esforço do interessado.

É preciso preencher contratos e entregar cópias de documentos, em um processo um pouco mais burocrático do que abrir uma conta corrente. Algumas corretoras têm facilitado essa tramitação por meio da Internet: é possível cumprir todos esses passos por e-mail.

Outro ponto importante é a questão dos custos. Para transferir recursos de sua conta corrente, é preciso pagar DOCs e TEDs. Negociar com o gerente do banco a gratuidade de algumas dessas ordens de pagamento por mês é recomendável.

Quais os riscos?

O investidor deve manter o valor mínimo possível de dinheiro parado na conta aberta em uma corretora. Caso essa distribuidora de produtos quebre, pode ser mais complicado recuperar a quantia depositada.

Mas, uma vez que o dinheiro já esteja aplicado, os riscos caem bastante. CDBs são cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até o limite de R$ 70 mil. O patrimônio de um fundo de investimento (o  dinheiro aplicado pelos investidores) não se confunde com o patrimônio da instituição responsável pela gestão dos recursos.

No caso da Bolsa, as ações compradas ficam sob responsabilidade da CBLC, uma empresa da BM&FBovespa.

Cuidado com as roubadas

Os grandes bancos são marcas conhecidas pelo investidor há vários anos. Têm credibilidade e tradição. Fora desse universo, o investidor pode estar sujeito a golpes ou aplicações equivocadas, mais arriscadas do que era sua intenção inicial.

Há pelo menos duas saídas para esse problema:. checar o registro da instituição financeira em questão na CVM e pesquisar bem antes de aplicar o dinheiro, para se prevenir contra ofertas miraculosas de investimentos e potenciais pirâmides.

“Os bancos são muito cobrados para conhecer o seu cliente, para aplicar testes que realmente definem qual o perfil daquele investidor. Eu tenho dúvidas se já existe esse nível de cobrança sobre as corretoras [independentes]”, diz Mário Amigo, professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras, de São Paulo).

Contra os investimentos enganosos, a melhor solução é conhecimento. “O investidor tem que realmente pesquisar antes de investir. Precisa conhecer os produtos, as regras de jogo. Esses golpes acontecem por uma combinação de ganância e desinformação”, diz Richard Rytenband, Diretor da Infopro Brasil (Instituto de Formação Profissional).

“Mas acho que, se o investidor procurar as grandes casas de investimentos, dificilmente vai ter problemas”.