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Antes de investir, aprenda a poupar; veja dicas

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

26/04/2013 06h00

Você é sedentário e quer iniciar uma atividade física? Antes de sair correndo por ruas e parques, consulte um médico e comece a andar com regularidade. Em matéria de finanças pessoais, a estratégia é semelhante: é preciso aprender a poupar (gastar menos do que ganha) antes de aprender a investir (fazer o dinheiro render acima da inflação).

Como revelam os números sobre endividamento no país, para milhões de brasileiros a primeira tarefa está longe de ser fácil. “O descontrole financeiro é um dos principais motivos pelo qual o brasileiro tem tanta dificuldade em poupar”, diz Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian.

A descoordenação entre o que entra de dinheiro todo o mês e o que é consumido pelas despesas regulares e extraordinárias leva a outra atitude perigosa para as finanças: a ideia de poupar somente “se sobrar” dinheiro.

“Essa atitude do 'se sobrar' não adianta, porque dificilmente acontece. A maioria das pessoas sempre posterga para o próximo mês”, diz a planejadora financeira Annalisa Blando Dal Zotto, da consultoria Par Mais.”Eu prefiro a estratégia do 'pague-se antes'. Quando você separa, por exemplo, 10% do seu dinheiro logo depois que recebe o seu salário, pode ser difícil no início, mas gradualmente você aprende a viver com os 90% restantes”.

Conheça algumas estratégias para poupar

Faça um balanço de rendas e despesas: Descubra quais despesas podem ser reduzidas ou cortadas
Estabeleça projetos de investimentos (metas): Especialistas recomendam ter três tipos de meta: curto prazo (até 12 meses); médio prazo (entre 12 meses e 10 anos) e longo prazo
Faça os orçamentos para cada uma dessas metas: Busque ajuda nos casos mais complicados, como aposentadoria
Separe os recursos para cada um de seus projetos de investimento: Não misture o dinheiro previsto para a viagem daqui a 12 meses com a acumulação de recursos para a aposentadoria
Comece a poupar o quanto antes: Após pagar suas dívidas, essa pode ser a primeira tarefa financeira a cumprir
Não poupe só se sobrar dinheiro: Se você estabeleceu como meta poupar 10% de sua renda mensal, tente separar com antecedência essa parte do dinheiro
Agende seus investimentos: É um recurso disponível na maioria das contas bancárias, e pode ser usado com cadernetas de poupança, fundos de investimento e Tesouro Direto
Monitore periodicamente suas aplicações: Os recursos estão rendendo no ritmo adequado para suas metas? Às vezes, pode ser necessário trocar de aplicação ou aumentar o esforço de poupança

Diagnosticar, sonhar, orçar e poupar

O educador financeiro Reinaldo Domingos, da consultoria Dsop, sugere quatro passos para aprimorar as finanças pessoais: diagnosticar, sonhar, orçar e poupar.

Diagnosticar é fazer o planejamento financeiro. Fazer uma lista dos gastos, comparar com a renda mensal e descobrir onde é possível reduzir ou eliminar despesas.

Atacar as dívidas com os juros mais pesados também é um dos passos fundamentais para fazer a famosa “faxina” financeira recomendada por dez entre dez especialistas.

Sonhar é estabelecer metas. Especialistas recomendam ter três tipos de meta: de curto, médio e longo prazo.

A mais indicada meta de curto prazo é acumular para um fundo de emergência, aquele dinheiro reservado para imprevistos, como gastos com saúde ou a perda de emprego. Como regra geral, é melhor calcular um valor equivalente a seis meses de despesas mensais.

Metas de médio prazo podem ser tão diversas quanto financiar um curso fundamental para a carreira ou a viagem dos sonhos.

Para o longo prazo, a meta é mais recomendada é acumular recursos para a aposentadoria.

Orçar esses objetivos pode ser um passo um pouco mais complicado, principalmente tratando-se da aposentadoria.

Algumas ferramentas na Internet (a exemplo das planilhas do UOL, da Icatu Seguros e da Dsop) podem ajudar a projetar o valor necessário para se aposentar, mas o poupador também tem a opção de buscar assessoria especializada.

Evite parcelar seus objetivos

A ideia geral por trás dessa iniciativa é fugir dos longos parcelamentos, que são uma das causas mais frequentes de descontrole financeiro.

“O maior problema do brasileiro é o comprometimento com um excesso de parcelas. É o maior vilão do endividamento no Brasil”, afirma Annalisa Blando.

“Se você consegue esperar e poupar para atingir aquele objetivo de consumo, consegue um bom desconto ao pagar à vista. O parcelamento deveria ser usado somente em alguns poucos casos. Quando você quitar suas dívidas, estabeleça como meta evitar novos parcelamentos”, acrescenta.

Onde guardar o dinheiro

O destino dos recursos depende das metas definidas pelo poupador. Para formar um fundo de emergência, não é recomendado nada mais arriscado do que uma caderneta de poupança, um fundo DI ou de renda fixa.

Para os projetos de médio prazo, mais do que 12 meses e menos de dez anos, já é válido se arriscar um pouco mais, por exemplo, em um fundo multimercado (que mistura investimentos em renda fixa e renda variável).

Especialistas sempre sugerem o investimento em ações quando se trata de acumular recursos para a aposentadoria, o projeto por excelência de longo prazo (acima de dez anos).

“É preciso conhecer o seu perfil de investimentos. Se você prefere segurança à rentabilidade, é melhor ficar com a poupança e investimentos semelhantes. Se você não se importa com os resultados de curto prazo, com eventuais perdas, e pode esperar pelos retornos da aplicação, você tem outro perfil de risco”, diz o economista Carlos Almeida, da Serasa Experian.

“Não é aconselhável colocar dinheiro na poupança para os objetivos de médio e longo prazo. Você está perdendo a oportunidade de fazer o seu dinheiro render em produtos melhores. Mas se você realmente não gosta de nada além da poupança, pelo menos, separe os seus objetivos em três contas de poupança distintas”, sugere Carlos Edward Júnior, diretor da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros).