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Especialistas recomendam investir em título do Tesouro atrelado à inflação

Sophia Camargo

Do UOL, em São Paulo

22/10/2013 06h00

Quem tem um dinheirinho sobrando está sempre se perguntando onde investir para obter mais rentabilidade. Nesse momento, quatro especialistas consultados pelo UOL foram unânimes em afirmar que observam boas oportunidades de rendimento nos títulos do Tesouro Direto ligados à inflação – as NTN-Bs.

Para Roberto Indech, responsável pela área de estratégia da Rico.com.vc, o papel é indicado por apresentar, no vencimento, rentabilidade bruta superior à da poupança. Nas atuais condições de venda do título, quem aplicasse nesse papel e o conservasse até o vencimento, em maio de 2019, receberia um prêmio de 5,58% ao ano mais a inflação medida pelo IPCA.

Na recomendação de composição da carteira aos investidores ligados à empresa, semana passada, Indech afirma que pela expectativa de inflação (IPCA) seguir em um nível elevado para o fim deste ano e do próximo, optou-se por sugerir os ativos do Tesouro Direto em NTN-B, que possuem perspectiva de rentabilidade bruta muito superior à poupança.

Para o especialista, a perspectiva do IPCA próximo de 5,8% no ano deverá resultar em um rendimento bruto de cerca de 11,3% ao ano. Já a poupança, no mesmo período, deve render 6,2% caso a taxa Selic seja mantida no patamar atual de 9,5% ao ano ou mesmo acima dele.

Com a taxa Selic a 8,5% ou abaixo desse nível, a poupança rende 70% da taxa Selic mais TR.

Outra vantagem do investimento de mais longo prazo é a diminuição da carga tributária sobre o rendimento. Pela tabela progressiva do Imposto de Renda, após 2 anos, a alíquota incidente sobre os ganhos da aplicação são de 15%, ante 22,5% para quem mantém um investimento por até 6 meses.

COMPARE A POUPANÇA COM O TÍTULO INDEXADO À INFLAÇÃO

POUPANÇANTN-B Principal
BC assegura remuneraçãoTítulo pós-fixado indexado à inflação
Assegurado pelo Fundo Garantidor de Crédito em até R$ 250 milGarantia do Tesouro Nacional. Só não é pago se o país quebrar.
Não incide IOF e Imposto de RendaIncide IOF para resgates com menos de 30 dias e alíquota regressiva de IR de acordo com duração do investimento
Rentabilidade: 0,5% ao mês mais TR ou 6,2% ao ano (Selic acima de 8,5% ao ano)Rentabilidade: 5,58% ao ano mais IPCA no vencimento (título de 05/2019)
Resgate diárioVenda de títulos toda 4ª feira, das 9h às 5h da 5ª feira
Investimento mínimo: não háInvestimento mínimo: R$ 30,00
Custos: não háCustos: custódia de 0,3% ao ano + taxa de corretagem
Aplicação: diáriaAplicação (compra): todos os dias, das 9h às 5h do dia seguinte
  • FONTE: RICO.COM.VC E TESOURO DIRETO

Recomendação é manter o papel na carteira até o vencimento

Indech ressalta que recomendação de compra do título é para que o investidor mantenha o papel e só resgate no seu vencimento, para evitar as oscilações no preço do ativo. "Dessa forma, o investidor garante que irá receber o que espera."

O professor de Finanças da FGV-SP Fábio Gallo diz que o investimento em títulos públicos do governo se equivalem, e que vai ganhar uma rentabilidade maior quem optar por um prazo mais longo de investimento.

Segundo o professor, as LTNs, que são títulos que pagam juros previamente fixados, estão com um rendimento muito bom também. Em 21/10/13, estavam disponíveis para compra LTNs com vencimento para 1/1/2016 com rentabilidade de 11,31% e títulos com vencimento para 1/1/2017 com rentabilidade de 11,56%.

A diferença é que, no caso das LTNs, o investidor corre um pouco mais de risco, pois os papéis não estão cobertos da inflação.

Pagar imposto lá na frente é outra vantagem

Para quem gostou da sugestão, o professor de Finanças Michael Viriato, do Insper, propõe uma outra observação. Ele diz que, além de proteger o dinheiro contra a corrosão da inflação, há ainda uma vantagem fiscal quando se opta pela NTN-B principal em vez da NTN-B que paga cupom, ou seja, um adiantamento dos resultados do título  periodicamente.

"Com a NTN-B principal, o investidor só paga o IR sobre o rendimento lá na frente. É sempre melhor postergar o pagamento do imposto.

Se o objetivo do investidor é receber o dinheiro para reinvestir, ele não deveria optar pela que paga cupom, mas seria melhor aplicar na principal. Se o objetivo do investidor é viver de uma renda periódica, o cupom fica interessante também.

Papéis ficaram baratos neste ano após perdas

Fábio Gallo, da FGV, lembra que os títulos do Tesouro tem baixo risco de crédito (ou seja, de não serem pagos, pois é o governo quem emite e paga), mas tem o risco do mercado, conhecido como marcação a mercado. Esse risco fez com que investidores no Tesouro Direto possam amargar perdas se venderem o título antes do vencimento.

Nesse ano, com a alta da Selic, o preço da NTN-B principal com vencimento para 15/5/2035 se desvalorizou em 24,92% no ano (posição de 21/10/2013), segundo dados do Tesouro Nacional. Essas perdas, porém, só ocorreram para quem vendeu o título antes do vencimento.

O economista Clodoir Vieira, sócio da consultoria Compliance, afirma que o título vai corrigir o IPCA mais o percentual que contratado, o que resultará, no final do vencimento em um ganho real acima da inflação. Mas, se o investidor se desfizer do título antes do prazo de vencimento, ele está sujeito às oscilações do mercado. 

Essas oscilações acontecem para que o preço do título seja ajustado pela taxa Selic ou pela expectativa da inflação. Quando a taxa Selic sobe, o valor de face é o mesmo e o valor de compra cai, ou seja, o papel desvaloriza. Se a taxa Selic, ao contrário, cai, o valor de compra sobe, pois o papel se valoriza. Como se percebe, mesmo a renda fixa não é um investimento sem risco.

Como o papel se desvalorizou recentemente, o título para compra está mais barato para quem quer aproveitar a oportunidade agora, explica Vieira. E quem comprou lá atrás se sair agora vai perder dinheiro. Nesse caso, a recomendação é manter o papel.

Como neste ano, a taxa Selic aumentou, os papéis desvalorizaram. Mas isso não significa que os investidores que mantiveram o título na sua carteira tenham perdido dinheiro. "No final, ele vai recuperar e receber o pagamento prometido", explica o economista.

"O problema de vender no curto prazo é que eventualmente o investidor pode vender em momentos desfavoráveis e então perder dinheiro." Só quem não tem esse risco é quem carrega o título até o vencimento. "Esses papéis são bons para compor uma carteira de aposentadoria", diz Vieira.

Poupança é válida para curtíssimo prazo

O ganho superior do título do Tesouro não significa que o investidor deva excluir a caderneta de poupança do portfólio de investimentos. "Posso ser um investidor bem agressivo e ter caderneta de poupança, sim", diz o professor Fábio Gallo.

"O especialista lembra que a caderneta é muito útil para quem está, por exemplo, com o dinheiro aplicado em investimentos travados com prazos determinados, como Letras de Crédito Imobiliário ou os próprios títulos do Tesouro, que, se forem sacados antes do vencimento, podem apresentar até mesmo perdas ao investidor.

A caderneta não tem imposto de renda, não tem prazo para saque, é fácil de compreender. E também ganha em rentabilidade se o investidor não prestar atenção à taxa de administração, no caso de fundos, por exemplo.