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Banco oferece saque 'adiantado' do FGTS inativo; veja se vale a pena

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Imagem: Arte UOL

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/01/2017 04h00

O governo ainda nem definiu os detalhes para o trabalhador sacar o dinheiro de contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), mas já tem banco oferecendo aos seus clientes a possibilidade de "adiantar" esses recursos, por meio de um empréstimo.

O Santander lançou nesta segunda-feira (16) a linha de crédito, com taxas que variam entre 2,59% e 4,59% ao mês. Procurados pelo UOL, Banco do Brasil e Bradesco disseram que estão avaliando a criação de um produto semelhante. Caixa Econômica Federal e Itaú Unibanco não responderam.

O empréstimo é semelhante ao que já é feito no caso do 13º salário e da restituição do Imposto de Renda, por exemplo. O trabalhador tem um valor a receber, no futuro. O banco antecipa esse valor para o cliente, cobrando juros em troca. Em geral, os juros para esse tipo de empréstimo não são tão altos, porque o risco de calote é pequeno --quando o pagamento "oficial" cai na conta do trabalhador, lá na frente, ele é automaticamente repassado ao banco.

Vale a pena pedir para antecipar o dinheiro do FGTS para pagar outras dívidas ou comprar algo de que está precisando? Veja o que dizem os especialistas.

1. Ainda é cedo...

Se você tem recursos em contas inativas do FGTS, você sabe que esse dinheiro vai sair, mas ainda não sabe quando. O governo disse que irá divulgar o cronograma de saques até o dia 1º de fevereiro. A única informação disponível até agora é que o pagamento será vinculado à data de aniversário do trabalhador, mas isso não significa que o governo vai pagar quando você soprar velinhas. Ele pode estabelecer um cronograma de lotes, como acontece com o Imposto de Renda.

"É melhor esperar saírem as datas primeiro. Vai que o seu dinheiro demora para sair? Você vai ficar pagando juros e se enforcando ainda mais em dívidas", afirma Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest.

2. Cuidado com a burocracia

O dinheiro está lá, aparece no extrato, mas isso não necessariamente significa que é só chegar e sacar. Cuidado com a burocracia. Espere o governo regulamentar o saque, veja se você tem todos os documentos necessários e cumpre todas as exigências feitas.

"Historicamente, tirar dinheiro de FGTS, de seguro-desemprego, aposentadoria e de outros benefícios é um processo burocrático. Uma vírgula fora de lugar, um nome errado ou a falta de um número podem dificultar a vida do trabalhador", diz Calil. "Se você tomar o empréstimo no banco e não conseguir sacar o FGTS, vai ter que se virar depois para pagar essa dívida."

3. Preste atenção nas taxas de juros

O anúncio da linha de crédito do Santander diz que as taxas variam de 2,59% a 4,59% ao mês. Isso faz muita diferença. Veja exatamente qual taxa o banco vai cobrar de você e por quê. Pesquise juros menores em outros bancos ou em outros tipos de empréstimo mais baratos.

"4,5% é uma taxa altíssima para um empréstimo com garantia firme [com baixo risco de calote para o banco], como o saque do FGTS. Não faz sentido cobrar uma taxa tão alta. É preciso ficar atento a isso, mesmo que você tenha outras dívidas mais caras para pagar", afirma a professora Myrian Lund, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

"Se você pesquisar um pouco, provavelmente vai encontrar taxas melhores na concorrência ou dentro do mesmo banco, como um empréstimo consignado, por exemplo", afirma Miguel Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

4. Não troque as dívidas simplesmente. Renegocie antes

Pode parecer racional trocar a dívida do cartão de crédito ou do cheque especial, que têm taxas acima de 13% ao mês, por um empréstimo vinculado ao FGTS, com juros de 4,5% ao mês. "O banco vai estimular você a pegar esse novo empréstimo, mas sem te dar desconto na outra dívida. Não faça isso. Negocie primeiro a dívida atual. Reduza o tamanho dela. Só então avalie se vale a pena tomar uma nova dívida para pagar a antiga", orienta Myrian Lund, da FGV.

5. Não use esse empréstimo para fazer compras

Além de correr o risco de se endividar ainda mais, a taxa de juros da linha de crédito de antecipação do FGTS é considerada alta pelos especialistas para essa finalidade.

"Se a pessoa está precisando muito comprar uma geladeira, por exemplo, ela consegue parcelar essa compra em até 10 ou 12 vezes sem juros na maioria das grandes redes do varejo. Não vale a pena pegar empréstimo para isso", afirma Miguel Oliveira, da Anefac. A compra de bens mais caros, como um automóvel, também pode ser financiada com taxa de juros menores, diz ele.

6. Tenha paciência e espere o dinheiro sair

"Vale a pena antecipar um valor que você receberá em breve?", questiona Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros). "Só pegue esse empréstimo em casos extremos, como emergência de saúde ou quando a pessoa já está pagando taxas de juros muito altas, como no cheque especial ou cartão de crédito", diz.

Mesmo nesses casos, segundo Domingos, a troca de uma dívida por outra só resolve temporariamente o problema das contas fora de controle. "Antes de simplesmente buscar essa antecipação do FGTS, é necessário um bom diagnóstico financeiro para combater o que está gerando esse problema."

7. Controle melhor seu orçamento

Mauro Calil, do banco Ourinvest, compara o descontrole financeiro a uma enxaqueca. "Você começa a tomar um remédio e a dor de cabeça melhora, mas o remédio passa a te dar dor de estômago. Será que vai adiantar tomar outro para aliviar o estômago? Ou é melhor trocar o remédio da dor de cabeça?", pergunta. Para ele, a solução não é simplesmente trocar uma dívida por outra. A pessoa precisa criar hábitos de consumo mais racionais e gastar só o que pode, evitando, por exemplo, entrar no rotativo do cartão.

Myrian Lund, da FGV, também defende um esforço de controle financeiro. "Ficar trocando dívida não resolve. Se não, você vai queimar todas as reservas, como é o caso do FGTS. Vai passar a vida pagando dívida, em vez de guardar para uma aposentadoria confortável."

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