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Aqui os milionários são obrigados a investir em negócios com projeto social

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

08/09/2018 04h00

Eles são milionários e estão acostumados a serem atendidos com exclusividade por empresas especializadas em gestão de fortunas, para garantir o melhor investimento e a progressão de sua riqueza. Mas eles também estão preocupados com os pobres. Colocam seu dinheiro em um fundo onde são obrigados a destinar parte de seus investimentos a projetos sociais, como casa própria para pessoas de baixa renda, microcrédito para quem vai começar um negócio muito pequeno e melhorias em escolas públicas.

A gestora de patrimônio Wright Capital, fundada em 2014, em São Paulo, só atende milionários que estejam dispostos a deixar ao menos 1% de seus investimentos em projetos com algum retorno social.

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Oferece serviços para quem tem a partir de alguns milhões na conta. Tem serviços que vão desde administração dos investimentos até gestão dos bens da família, consultoria para os negócios das empresas ou as melhores maneiras de administrar a herança a ser deixada.

"Somos um 'family office' pequeno, atendemos poucas famílias e por isso o piso para começar a investir é alto", disse a fundadora da Wright Capital, a economista especializada em gestão de riquezas Fernanda Camargo.

"Mas o nosso acordo com os nossos clientes é de que ao menos 1% do patrimônio que eles nos dão para administrar seja aplicado em fundos de impacto social, que investem em negócios que, além de retorno financeiro, geram também algum retorno para a sociedade."

Atualmente a Wright Capital atende 35 famílias, com um patamar de valores investidos que Fernanda não quis dizer, mas, segundo ela, são em sua grande maioria donos de grandes empresas, incluindo companhias listadas na Bolsa.

"É um jeito de estimular as pessoas, principalmente aquelas que têm dinheiro, a fomentarem negócios e a promoverem alguma transformação social, porque, se o brasileiro só investir em renda fixa, temos algum problema."

Microcrédito e casas para a baixa renda

Os fundos de impacto social em que a Wrigth Capital aplica funcionam como qualquer outro fundo de "venture capital" ou de "private equity" --fundos de participação, em português.

São grupos de investidores que juntam seu dinheiro e, em vez de aplicar em títulos financeiros, compram participações diretas em empresas e novos negócios. A diferença é que, em um fundo de impacto social, esses negócios para onde vai o dinheiro, além de lucro, devem ter também algum propósito social.

Um dos fundos em que a Wright Capital investe o capital de seus clientes, por exemplo, chamado Mov, fomenta uma empresa que ajuda na regularização de famílias que vivem em áreas invadidas.

Ela faz a intermediação entre as famílias irregulares e o proprietário da área, evita os custos com processos judiciais e ajuda os moradores a financiarem o pagamento de sua parte na propriedade em parcelas acessíveis.

Outro fundo, o Vox, tem participações em uma startup de microcrédito para pequenos negócios sem CNPJ ou sem conta em banco, com foco no Nordeste.

Soluções tecnológicas para escolas, monitoramento ambiental, projetos em reciclagem e fornecimento de painéis solares são outros tipos de negócio que estão dentro dos portfólios desses fundos.

Lucros de 26% e retorno social

Pensar no social não impede o lucro. Há pouco mais de dois meses, por exemplo, os investidores tiveram um lucro de 26% sobre uma parte do capital aplicado quando um dos fundos vendeu a participação que tinha na Tem, uma startup de cartões pré-pago para exames e consultas médicas a preços acessíveis.

"Poderíamos dizer que o que fazemos é uma espécie de filantropia compulsória, mas não é, porque o investimento vai voltar e não é brincadeira, dá dinheiro mesmo."

Para a Wright Capital, porém, a conta só fica completa quando todos os resultados aparecem: "Nos nossos relatórios, fazemos questão de mostrar para os clientes o retorno tanto financeiro quanto em alcance de pessoas ajudadas com aquele 1% que eles investiram", disse a gestora.

"Além da valorização, mostramos que aquele dinheiro também ajudou mais de 13 mil pessoas a receberem o título de sua propriedade, 2.400 famílias a receberem painéis solares e levou melhores ferramentas para 3.000 crianças de 26 escolas, em sua maioria públicas", afirmou, mencionando os resultados dos diversos projetos abarcados pelos fundos de impacto social das carteiras da casa.