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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como o aumento de gastos do governo afeta os preços no mercado financeiro?

Lucas Elmor

13/09/2021 04h00

As recentes quedas nas cotações de ativos em Bolsa, devido a preocupações com a situação fiscal do governo brasileiro, perspectivas de inflação e avanços da variante delta da covid-19 pelo mundo, foram motivo de grande preocupação para investidores que vinham aproveitando bons resultados desde o final do segundo trimestre de 2020.

Contudo, a história mostra que todo movimento de queda abre também boas oportunidades de alocação, afinal de contas, onde tem alguém chorando, tem alguém vendendo lenço.

Leia o artigo completo abaixo.

O mês de agosto foi um teste que deixou muitos investidores com os nervos à flor da pele. O Ibovespa (Ibov), principal índice que mede a cotação das ações na Bolsa brasileira, apresentou queda de 2,48% dentro do mês, enquanto o Ifix, o equivalente ao Ibov dos fundos imobiliários listados, apresentou redução de 2,63%.

Todos sabemos que esses movimentos de correção acentuada ocorrem de forma recorrente no mercado financeiro, especialmente em mercados emergentes como o Brasil, que são mais voláteis do que Bolsas mais maduras como as dos EUA e de países europeus como Alemanha, Inglaterra e França.

Contudo, investidores brasileiros iniciantes vinham obtendo resultados expressivos em suas alocações em Bolsa desde o final do segundo trimestre de 2020, impulsionados pela gradual reabertura da economia e ambiente de juros artificialmente baixos como forma de estímulo da atividade devido ao ambiente de incerteza da pandemia.

As correções de preço se deram por uma junção de fatores externos e, principalmente, internos. Ao redor do mundo, o avanço da variante delta da covid-19 e o consequente aumento dos casos mesmo em pessoas vacinadas aumentavam a preocupação de investidores.

No ambiente interno, contribuíram de forma expressiva para a queda as movimentações do governo na direção de aumento dos gastos e potencial estouro do teto constitucional estabelecido durante o governo de Michel Temer, além da crescente preocupação com a inflação, especialmente devido ao aumento da conta de energia em função da estiagem de chuvas.

Somente no campo da inflação, as preocupações com um potencial racionamento de energia levaram a Aneel a elevar o preço da energia de R$ 9,49 para R$ 14,20 por cada 100 Kwh na bandeira tarifária vermelha, uma alta de 49%.

Além de ser um aumento significativo, feito para balancear o custo de acionamento das usinas termoelétricas, que possuem custo mais alto de operação, a conta de luz tem impacto relevante nos preços em geral, uma vez que a energia mais cara aumenta o custo da indústria, dos restaurantes e serviços etc.

Na prática, um ambiente de maior incerteza fiscal e inflacionária leva a uma alta das expectativas de juros e, consequentemente, a um aumento da rentabilidade mínima esperada pelos investidores para continuarem tomando risco em operações de renda variável.

Por isso, ao avaliar o ambiente, muitos investidores optam por reduzir sua exposição em Bolsa e aumentar a exposição em ativos de baixo risco ou caixa e, assim, ocorre um movimento generalizado de venda de ações e cotas de fundos listados.

Esse é um movimento parecido com o fim de feira livre de rua, em que os feirantes reduzem o preço dos produtos a fim de vendê-los para voltar para casa com menos produtos e mais caixa no bolso. Seja na feira ou nos mercados financeiros, quando há mais vendedores do que compradores, a tendência é que os preços caiam.

Contudo, é possível também olhar o momento pelo lado meio cheio do copo. Momentos de queda generalizada dos preços dos ativos também abrem janelas de oportunidade para compras de papéis de qualidade a preços interessantes, mas é preciso saber pesquisar as barganhas e diferenciar o que é bom daquilo que é ruim.

Assim como o cliente que vai ao fim da feira para aproveitar os preços baixos, mas que precisa procurar as mercadorias em bom estado.

O lendário investidor Warren Buffett disse certa vez que o mercado financeiro é uma máquina que transfere riqueza dos impacientes para os pacientes.

Essa frase não poderia ser mais bem exemplificada do que na situação vivida pelos investidores brasileiros no mês de agosto de 2021. Aqueles investidores impacientes que venderam suas posições às pressas abriram espaço para investidores pacientes irem às compras de bons ativos a preços interessantes.

Fica então a reflexão: o momento é o mais adequado para venda e proteção ou é uma janela de oportunidade? A resposta para essa questão depende de muitas variáveis e, essencialmente, do apetite a risco de cada investidor.

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