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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como a guerra entre Rússia e Ucrânia impacta os fundos imobiliários?

Depósito de petróleo na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, foi atingido por um bombardeio durante um ataque aéreo - Serviço de Estado da Ucrânia para Emergências/Divulgação
Depósito de petróleo na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, foi atingido por um bombardeio durante um ataque aéreo Imagem: Serviço de Estado da Ucrânia para Emergências/Divulgação
Lucas Elmor

07/03/2022 04h00

Após alguns meses de tensão mundial, devido ao acúmulo de tropas e exercícios militares das forças armadas russas próximo às fronteiras com a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro de 2022 foi deflagrada a guerra entre Rússia e Ucrânia.

O conflito tem raízes históricas e foi acelerado pelas negociações para a entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos e criada durante o período da Guerra Fria com o objetivo de unir e proteger países do Ocidente contra eventuais agressões de países de fora da aliança, em especial da antiga União Soviética.

Feita a introdução às raízes do conflito e aos principais desdobramentos até o momento em que este artigo está sendo escrito (veja mais abaixo) —e retirando da equação por um momento quaisquer juízos de valor quanto à legitimidade ou não da invasão russa—, voltemos nossa atenção para os eventuais impactos que esta guerra pode trazer aos seus investimentos em fundos imobiliários.

O conflito entre Rússia e Ucrânia

Como a Ucrânia —um país atualmente independente, mas antigo membro da União Soviética— não chegou a filiar-se formalmente como membro da aliança ocidental, os países membros da Otan se limitaram até o momento a enviar recursos financeiros e decretar sanções econômicas ao governo e companhias da Rússia, além de confiscar bens de oligarcas russos ligados a Vladimir Putin, presidente russo que está no poder desde 1999.

A atuação das potências militares ocidentais, que foi considerada tímida por alguns —apesar dos apelos do governo de Kiev para obter ajuda militar—, tem sido meticulosamente calculada a fim de evitar um conflito de maior escala, podendo levar a uma Terceira Guerra Mundial e ao uso de armas nucleares, o que obviamente teria consequências devastadoras para o mundo todo.

Como a guerra afeta o Brasil

Para entendermos como esse conflito pode afetar o seu bolso, é preciso entender como ele também influencia a economia brasileira em especial.

Apesar de sua manifestação contrária ao conflito na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o governo brasileiro via Executivo e/ou via órgãos da esfera diplomática tem sido cauteloso no posicionamento do Brasil no tema em questão.

Isso por conta da Rússia ser um importante parceiro comercial na venda de fertilizantes, insumo essencial para a agricultura, que é hoje o principal motor do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Apesar de o impacto direto estar relativamente limitado à importação de fertilizantes, um cenário de guerra mais prolongado pode levar ao aumento dos preços de commodities (matérias-primas) em geral, sob o risco de escassez de produtos como milho, trigo, petróleo e gás natural. E esse cenário de alta de preços de commodities afeta diretamente a inflação global, inclusive no Brasil.

Os efeitos em fundos imobiliários

Descobrimos, portanto, que inflação é a palavra-chave para entender os efeitos deste conflito nos fundos imobiliários (FIIs).

Dito isso, em caso de cenário prolongado de guerra na região, é de se esperar que tenhamos um cenário de inflação mais alta. E, portanto, os dividendos pagos pelos FIIs de CRI (Fundos Imobiliários de Certificados de Recebíveis Imobiliários) —que, em geral, possuem mecanismos que permitem capturar a inflação de forma mais acelerada— tendem a se beneficiar neste momento.

Os fundos imobiliários de tijolo, aqueles que investem diretamente em imóveis, também capturam o aumento da inflação, mas os contratos de aluguel, em sua maioria, possuem correção anual, levando a uma captura mais lenta da inflação nesse caso.

Contudo, se olharmos pelo lado meio cheio do copo, pode ocorrer um maior fluxo de recursos de investidores estrangeiros com carteiras focadas em países emergentes. Esse fluxo pode ser explicado por três fatores:

  1. Rotação global de investimentos com foco em crescimento para aqueles com foco em valor, ou seja, companhias mais maduras;
  2. Aumento da exposição a commodities, e
  3. Múltiplos de entrada muito baixos, devido à cotação favorável do câmbio

Segundo dados da Bloomberg, a Rússia atualmente possui 1,45% de participação no ETF de mercados emergentes (EEM), enquanto o Brasil tem uma participação de 4,94%. Assim sendo, o Brasil poderá seguir recebendo fluxos de investidores de mercados emergentes que queiram diminuir sua exposição à Rússia.

Esse movimento deve ser mais bem observado no mercado de ações, mas deve ter um "upside" limitado nos FIIs —dado que esta é uma classe de ativo detida essencialmente por investidores locais e, portanto, tende a surfar menos essa onda de alocação de investidores estrangeiros.

O que esperar

Independentemente das razões que levaram à guerra, todo conflito armado é desastroso e esperamos que tenha um final pacífico o mais rápido possível para retomada da vida normal nas regiões afetadas.

Pois as consequências de um conflito em escala mundial com uso de armas nucleares seriam devastadoras e imensuráveis, podendo levar a um cenário de estagflação, que seria uma situação de inflação alta e estagnação econômica simultaneamente.

Ao investidor atento, contudo, cabe analisar o cenário, diversificar investimentos em diferentes fatores de risco e se proteger de eventuais oscilações a fim de evitar perdas definitivas de patrimônio.

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