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Orçamento é a linha que costura o bolso

Claudio Felisoni

20/11/2020 04h00

Em artigo passado foi dito que o dinheiro escapa muitas vezes de forma, pode-se dizer, imperceptível: como a água que escorre por pequenas frestas. Se o processo de perda é em grande parte quase invisível, a falta do dinheiro, ao contrário, é dolorosamente escancarada no fim do mês. Como jocosamente se diz: os meses parecem que estão se alongando.

O controle dessa situação não é absolutamente trivial. Porém, pode-se sim trabalhar para identificar as tais frestas. Talvez uma boa comparação para direcionar o esforço nesse processo é o trabalho do cientista. Algo bem apropriado a esses tempos de pandemia.

O cientista, antes de mais nada, procura identificar a razão da doença. Por exemplo, identifica o vírus da covid-19. Depois disso estabelece um protocolo para o tratamento da referida doença. Feito isso segue o procedimento estabelecido com disciplina.

Está aí o caminho que se deve seguir. É preciso antes de tudo identificar as frestas por onde o dinheiro está escapando. Do que adianta impermeabilizar uma laje sem atenção aos pontos vulneráveis? Nessas áreas, talvez seja necessário raspar a superfície antes de aplicar o material isolante. Enfim, essas partes merecem atenção especial.

Como proceder, então, com a vida financeira? As frestas, portas abertas para a saída do dinheiro, podem ser reveladas formalizando-se um orçamento. Orçamento é o resultado de um processo de planejamento. Qualquer empresa minimamente organizada tem um planejamento e, portanto, um orçamento. Ora, se uma empresa, que nada mais é do que um coletivo de indivíduos, obedece a esse preceito, por que as pessoas, que constituem essas organizações, não devem se ocupar da mesma tarefa?

Alguém dirá: mas eu tenho, é claro, um orçamento. Não se trata disso. A pergunta é um pouco mais precisa: você tem, como as empresas minimamente organizadas, um orçamento formal? Em outras palavras: você tem uma planilha dos seus gastos? Talvez alguém responda: não, não desse jeito, pois acontecem muitas coisas ao longo do mês. Verdade. O acaso é parte da vida. Não se pode prever tudo. Porém, também não é verdade que não se possa prever nada.

Quanto mais apertada é a vida, mais importante é ter um orçamento formal. Quando o dinheiro entra pela janela e pousa no caixa da empresa, trazendo aquela sensação agradável aos proprietários e acionistas, a falta de um orçamento detalhado é menos sentida. Não que não seja tão importante quanto na época de vacas magras, mas é um momento que a abundância inebriante pode ser menos comprometedora. O mesmo raciocínio vale evidentemente para as chamadas pessoas físicas.

Diante de um orçamento, os diretores de uma empresa se debruçam debatendo ideias parecidas e também divergentes. Todas elas mirando o futuro da empresa. Ou seja, aquela peça repleta de números e observações obriga que os interessados tenham um norte. Assim deveria ser também no âmbito de uma unidade familiar. Alguns poderão dizer: é, mas isso dá muita confusão. Ah é? Então será que a confusão já não existe? O que é bom fazer: mover a poeira para debaixo do tapete.

Bem, é claro também que não basta redigir um orçamento, é preciso, como já assinalado, disciplina para segui-lo. Seria suficiente obter uma rotina formal de treinamentos? Como se sabe o papel é democrático: aceita tudo. Então o melhor a fazer é estabelecer um plano que se ajuste às suas necessidades, mas que seja factível, dadas as características peculiares de cada unidade familiar.

E como saber se estou gastando muito? No Brasil, considerando todas as faixas de renda, o brasileiro gasta em média 17,5% com a rubrica Alimentação, 36,6% no item Habitação, 18,0% com Transporte, 8,0% em serviços denominados Assistência à Saúde, 4,7% com Educação e 15,2% com todo o resto. Bom, esses percentuais são valores médios. Se a renda é muito baixa, os gastos com Alimentação têm um peso maior. Mas é possível ter percentuais mais próximos das situações particulares, basta para isso consultar a Pesquisa de Orçamentos Familiares produzida pelo IBGE.

Seja qual for o bolso, é sempre bom verificar se ele não está precisando de um remendo. Não se deve fazer isso de qualquer jeito. Aquilo que for possível manter ali dentro é que vai financiar tudo de bom que se quer no futuro.

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