Com Trump, ainda vale a pena investir nos EUA para proteger patrimônio?
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Cada vez mais brasileiros investem no exterior. De acordo com a Receita Federal, o número de contribuintes que declararam ter ativos em outros países triplicou em cinco anos, atingindo 816 mil pessoas em 2023, último dado disponível e divulgado no ano passado.
Boa parte desse público se concentra, especificamente, em investimentos nos Estados Unidos, com o objetivo de diversificar o patrimônio e reduzir o risco da carteira de investimentos. Ou seja, muitos buscam proteção, já que a economia americana representa um porto seguro para investidores internacionais.
No entanto, desde a posse de Donald Trump, em janeiro, o que se tem visto não se parece com um porto seguro. As tarifas impostas a mais de 100 países, e logo depois suspendidas, e os frequentes ataques ao presidente do banco central americano, entre outros fatores, levaram boa parte dos investidores a desconfiarem se os EUA são, de fato, uma economia tão segura quanto se pensava.
Na coluna de hoje eu explico o que está acontecendo na economia dos EUA, quais as tendências do mercado e se ainda vale a pena aplicar lá fora com objetivo de proteção de patrimônio.
"Colapso da ordem monetária"
A quantidade de expoentes do mercado mundial questionando se o dólar está perdendo credibilidade já é, por si só, um sinal de que está. Se não estivesse, essa questão nem seria posta.
Na terça-feira (22), o investidor americano Ray Dalio, fundador de um dos maiores fundos de investimento do mundo, a Bridgewater Associates, disse em uma entrevista que a política tarifária de Trump corre o risco de provocar um "colapso das ordens monetária, política e geopolítica".
Dólar deixou de ser porto seguro?
As pessoas não estão apenas falando sobre uma possível crise do dólar, elas não estão investindo como se acreditassem tanto no poder da moeda americana, ao menos nesse momento.
Via de regra, quando ocorre uma crise econômica global, mesmo que tenha sido originada nos EUA, investidores de todo o mundo compram dólares e investem na dívida americana para se proteger. Como consequência, a moeda dos EUA sobe.
Foi assim na crise de 2008, nas crises da zona do euro em 2012 e 2013 e na pandemia, para citar apenas os casos recentes mais graves. Existe até a expressão "flight to quality", que significa "voo para a qualidade", usada para descrever o movimento dos investidores de comprarem dólares (ativo que representa qualidade) quando o mundo está em crise.
Desta vez, no entanto, não é isso que está ocorrendo. Enquanto os mercados de ações despencaram no mundo, desde o dia do tarifaço (2 de abril), o dólar também caiu em relação às principais moedas.
Plano de Trump não deu certo?
A intenção de Trump era, com as tarifas, atrair investimentos para a produção industrial dentro dos EUA. De um lado, os impostos sobre importações protegeriam as empresas americanas; de outro, a desvalorização do dólar tornaria os produtos dos EUA mais competitivos no mercado internacional.
Vendo de longe, poderíamos crer que, ao menos em parte, as coisas podem estar dando certo, pois a moeda americana está se desvalorizando.
Mas, olhando os detalhes, vemos que a desvalorização do dólar ocorreu mais em comparação com outras moedas fortes, como o euro, o franco suíço, a libra esterlina e o iene.
Em relação à moeda da China, a que mais importa para os EUA no momento, o dólar não apenas não caiu, como subiu um pouco.
Qual a tendência a partir de agora?
O que temos visto é que as medidas econômicas exóticas de Trump têm trazido resultados inesperados. Como consequência, a confiança dos investidores no dólar diminui.
A pergunta que muitos fazem é: o dólar, então, ruma para o colapso?
Nesse ponto, estou com Ray Dalio: se as coisas continuarem nessa direção, então, provavelmente, sim, teremos uma quebra na ordem monetária mundial.
Porém, acho difícil que a postura exótica de Trump continue por muito tempo. Ou ele vai interrompê-la, ou outros o farão. Bilionários americanos já perderam trilhões de dólares em valor de mercado das suas empresas. O agronegócio local está sofrendo com as tarifas retaliatórias impostas pela China. A indefinição da política tarifária faz com que empresários não possam tomar decisões.
Resumindo, em algum momento Trump precisará parar de esticar a corda, e as coisas devem se acomodar. Até lá, a tendência é continuar havendo volatilidade nos mercados.
Afinal, ainda vale a pena investir nos EUA?
Se você for um investidor conservador, não. Para um brasileiro, só vale a pena investir nos EUA se for em renda variável. Os títulos de renda fixa do Brasil pagam juros tão altos que, a longo prazo, acabam compensando a desvalorização do real.
Já se você investe em renda variável no Brasil, os EUA ainda são uma oportunidade de diversificação e redução do risco. Apenas esteja ciente de que o risco não deixa de existir. Com ou sem um eventual colapso do dólar, existe chance de perder dinheiro investindo nos EUA, mesmo a longo prazo.
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