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Crash de 1929 não foi a 1ª e talvez nem a mais importante bolha da história

Rafael Bevilacqua

19/08/2022 10h11

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Quando se fala em crise econômica e, principalmente, em bolha de ações, a crise de 1929 e subsequente Grande Depressão tendem a vir à cabeça da maioria das pessoas. Contudo, essa não foi a primeira e talvez nem tenha sido sequer a mais importante crise provocada por uma bolha de ações na história.

Mais de 200 anos antes do crash da Bolsa de Nova York, quando a França e a Inglaterra disputavam o posto de maior potência global, o mercado de ações dava seus primeiros passos.

Aqui, estamos falando do final do século 17 e início do século 18, ou seja, um período que antecede a primeira revolução industrial, que teve início por volta da década de 1760. Por esse motivo, a maioria das companhias que negociavam ações nas primeiras Bolsas de Valores da Europa eram muito diferentes daquelas com as quais estamos acostumados hoje.

No lugar de grandes varejistas, companhias de alimentos ou gigantes da indústria e da tecnologia, os investidores adquiriam ações de empresas que exploravam os mares em busca de novos territórios e que investiam na exploração de riquezas em colônias recém-descobertas, e até mesmo ações de empresas que atuavam no comércio de pessoas escravizadas chegaram a ser negociadas nessas Bolsas.

Uma das mais icônicas empresas desse período foi a Companhia do Mississippi, fundada em 1684, na França. Na época, uma imensa região chamada Louisiana, que correspondia a cerca de um quarto do território atual dos Estados Unidos, pertencia à França, mas estava largada às traças - ou melhor, aos mosquitos.

John Law, financista escocês que posteriormente, em 1718, comandaria o Banco Royale - o banco central da França -, decidiu aproveitar esse vasto território para gerar valor para a França e tirar o país da delicada situação financeira na qual este se encontrava após o soberbo reinado de Luís 14, o Rei Sol.

Dessa forma, Law realizou a abertura de capital da Companhia do Mississippi, com suas ações sendo vendidas no mercado primário por 500 livres cada, e toda a França foi incentivada a adquirir essas ações.

Pintando os territórios franceses na América como um verdadeiro Éden, o escocês fez com que o valor de mercado da Companhia do Mississippi aumentasse exponencialmente, realizando uma sequência de ofertas de ações e captando cada vez mais dinheiro para investir em sua empreitada.

Contudo, os territórios controlados pela companhia eram pobres e pantanosos, infestados de insetos e doenças, e não traziam o retorno financeiro prometido por Law.

Para evitar que a população perdesse a confiança na companhia, Law continuou emitindo novas ações e passou a ceder empréstimos para os investidores que quisessem adquirir papéis da empresa, utilizando o dinheiro captado para pagar dividendos aos acionistas, enquanto a empresa se revelava incapaz de obter lucro.

As ações chegaram a ser negociadas a 10 mil livres cada, e pessoas comuns que haviam investido na empresa se tornaram milionárias em um curtíssimo espaço de tempo. Mas a farsa não podia durar para sempre.

Em 1719, as pessoas começaram a se dar conta de que a empresa não conseguiria continuar crescendo, e as ações começaram a cair de preço. Para evitar a queda, John Law começou a emitir notas bancárias que eram utilizadas para comprar ações da Companhia do Mississippi.

Essas notas foram convertidas na moeda oficial da França, e a impressão desenfreada fez com que elas perdessem cada vez mais poder de compra. Com a inflação galopante, o banqueiro fez inimigos poderosos, acabou preso, e o Banco Royale foi fechado.

A bolha estourou, as ações praticamente viraram pó e a França mergulhou em uma crise econômica sem precedentes. Enquanto isso, a Inglaterra consolidou seu poder e pouco a pouco expandiu sua influência para a todo o globo, criando o maior império da história.

Em algumas décadas, a crise provocada pela "Bolha do Mississippi" se tornaria tão insustentável que culminaria na Revolução Francesa de 1789, que depôs o rei Luís 16 e decretou o início do fim do absolutismo na Europa.

Leia no 'Investigando o Mercado' (exclusivo para assinantes UOL, que têm acesso integral ao conteúdo de UOL Investimentos): informações sobre os resultados da Caixa Econômica Federal no segundo trimestre deste ano.

Um abraço,

Rafael Bevilacqua
Estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo estrategista-chefe e sócio-fundador Rafael Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.