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ANÁLISE

Entenda a alta dos juros nos EUA e como isso afeta seus investimentos

12/01/2022 12h00

A ata da última reunião de política monetária dos Estados Unidos trouxe um tom mais duro do que o esperado pelo mercado.

Como a alta dos juros nos EUA e a aceleração do aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) podem impactar os seus investimentos em 2022? Veja a seguir os comentários de Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos.

O Fed vai subir os juros, e todo mundo já sabia disso

Na quarta-feira da semana passada, mercados de todo o planeta cederam a um pânico que beirou a irracionalidade após a divulgação da ata da última reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), como é chamado o comitê de política monetária dos Estados Unidos, órgão semelhante ao Copom brasileiro, diz o analista.

A ata levantou oficialmente a possibilidade de antecipação do início da alta dos "federal funds", taxas de juros que têm papel de referência na economia norte-americana, semelhante à Selic no Brasil, o que já estava no radar do mercado. De acordo com o documento, os integrantes do Fomc "observaram que pode ser necessário aumentar a taxa federal funds mais cedo ou em um ritmo mais rápido do que os participantes haviam previsto anteriormente."

Diante da possibilidade de a alta de juros, por si só, não ser suficiente para conter a guinada de preços, membros do comitê avaliaram reduzir o tamanho do balanço do Federal Reserve logo depois do começo do aumento dos federal funds. Mas o que isso quer dizer?

O balanço trilionário do Fed

Quem possui uma empresa ou trabalha na área de contabilidade, deve estar acostumado com o termo "balanço patrimonial", que se refere a um relatório contábil que reúne todos os bens, direitos e obrigações da companhia. A soma dos bens e dos direitos recebe o nome de ativo, enquanto as obrigações são chamadas de passivo.

Assim como uma empresa, o Fed possui um balanço patrimonial, composto por ativos como títulos públicos do Tesouro, títulos hipotecários e empréstimos feitos a bancos, e passivos como moeda em circulação e reservas bancárias.

A partir da crise econômica de 2008, que assolou a economia global, o Federal Reserve iniciou um robusto programa de compra de títulos do Tesouro e títulos hipotecários, conhecido como "quantitative easing", ou flexibilização quantitativa, com o intuito de estimular a fragilizada economia norte-americana, fomentar a criação de empregos e retomar o crescimento econômico.

Desde então, a carteira de ativos do balanço patrimonial do Fed cresceu quase 10 vezes, impulsionada em grande parte pela pandemia do coronavírus. De acordo com dados do site do Federal Reserve, o volume de ativos no balanço do Fed em 2008, antes da crise, totalizava cerca de US$ 900 bilhões. Esse montante saltou para US$ 4,1 trilhões no começo de 2020, e atingiu a marca de US$ 8,7 trilhões em dezembro de 2021.

Para reduzir esse balanço inchado, o banco central norte-americano avalia recorrer à venda de títulos públicos e hipotecários e à não reposição de títulos próximos do vencimento.

Como isso tudo afeta o mercado brasileiro?

Por mais que todos esses movimentos da política monetária internacional sejam extremamente importantes para diversos setores da economia global, a principal pergunta que os investidores tendem a fazer em momentos como este é: mas como isso afeta meus investimentos?

"Monitorando a reação das principais Bolsas do mundo logo após a divulgação da ata, fica evidente que o mercado não recebeu bem a mudança de postura do Fed", afirma Bevilacqua.

"Isso porque a alta dos juros e a retirada de estímulos tendem a reduzir a quantidade de dinheiro em circulação na economia, o que ajuda a conter a inflação, mas ao mesmo tempo desestimula o investimento em ativos que oferecem riscos mais altos, como os mercados acionários de países emergentes."

Além disso, a perspectiva de aperto monetário dá força para a alta dos juros dos títulos da dívida pública dos Estados Unidos, os Treasuries, o que torna a renda fixa norte-americana mais atrativa em comparação às outras modalidades de investimento.

"Sendo assim, com os juros em alta na maior economia do planeta, podemos esperar um movimento de fuga de investimentos de países emergentes em direção aos ativos de renda fixa norte-americanos, considerados mais seguros", declara o analista.

Apesar do pânico inicial, o impacto exercido pelo aperto monetário nos Estados Unidos sobre a Bolsa brasileira deve ser relativamente pequeno.

Os principais pontos de atenção para os investidores brasileiros seguem sendo a delicada situação fiscal do País, a incerteza com relação aos rumos da política econômica doméstica, tendo em vista as eleições presidenciais de 2022, e a efetividade do aperto monetário conduzido aqui pelo Banco Central. Tudo isso vem causando uma robusta migração de capital da B3 para a renda fixa, diz Bevilacqua.

Economia em recuperação

Segundo o analista, a perspectiva de retirada dos estímulos nos Estados Unidos sugere que a principal economia do planeta se encontra em condições de caminhar com as próprias pernas, e sinaliza a superação não apenas da pandemia do coronavírus, mas também da crise econômica de 2008, que foi o ponto de partida para a política monetária expansionista adotada pelo Fed desde então.

"Esse é um indício de que não apenas os Estados Unidos, mas a economia global como um todo vem conseguindo se recuperar dos efeitos negativos da pandemia, o que pode beneficiar países emergentes como o Brasil, no longo prazo", afirma Bevilacqua.

Política americana não será tão relevante aqui

"O aperto monetário nos Estados Unidos é um assunto que deve estar no radar de todos os investidores ao redor do mundo, mas avalio que esse deve ser um fator secundário para os rumos do mercado brasileiro em 2022", declara o analista.

"Por aqui, lidamos com questões muito mais urgentes e que devem exercer um impacto muito maior sobre a Bolsa e sobre os ativos de renda fixa do que a política monetária norte-americana. Caso das eleições que se aproximam, da inflação, da alta dos juros e da incerteza quanto à trajetória fiscal do país."

Leia aqui o relatório completo da Levante sobre a alta dos juros nos EUA.

Carteiras conforme o perfil

Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:

- Carteira para quem não aceita risco algum

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco

- Carteira para quem é mais moderado

- Carteira para quem aceita mais risco

- Carteira para quem aceita alto risco

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL