Barbie e Bolsa de Valores para homens estereotipados

Nesse final de semana levei minha filha de 10 anos e meu filho de 8 para ver o filme da Barbie: ele quase "arrastado", ela vestida de rosa da cabeça aos pés e eu... usando uma calça rosa. O filme é um tanto complexo para crianças (a classificação indicativa é 12 anos) e me surpreendeu ao trazer uma série de críticas sociais extremamente relevantes de um modo bem equilibrado. Mas uma delas em especial me provocou a reflexão que compartilho aqui (sem grandes spoilers).
Em uma cena muito rápida, um Ken explica a uma Barbie como funcionam os investimentos. Usando outras palavras, ele recomenda que ela invista em CDB, porque outros tipos de investimentos já seriam mais difíceis de compreender (versão dublada).
O que esse Ken ignorou é que ele estava falando com a Barbie investidora. Aqui vem a crítica ao mansplaining, comportamento observado quando um homem quer se colocar como especialista em um assunto que aquela mulher já domina. Para isso, ele se põe a explicar algo de maneira bem simples e rasa, como se ela não tivesse qualquer noção do assunto.
Outro ponto que merece destaque é que, quando essas mulheres entram no mundo dos investimentos, elas o fazem muito mais firmes do que os homens: enquanto o valor inicial investido por eles é em média R$ 70, elas entram com uma média de R$ 300.
E por que elas fazem isso? Porque elas estudaram muito antes de tomar essa decisão. Elas se preparam psicológica e emocionalmente, organizando e separando os valores que precisam para a rotina e eventual emergência. Elas entenderam que oscilações fazem parte do processo e lidam com isso mantendo o foco no longo prazo. Xeque-mate no mansplaining!
Já os homens, no geral, tendem a tomar decisões mais rápido, sem considerar todos os aspectos envolvidos e fazer ponderações necessárias. Com foco mais no curto prazo, às vezes são dominados pela ansiedade e depressão financeira.
Mas, de fato, é difícil para uma mulher começar a investir. Uma pesquisa feita pela B3, a Bolsa de Valores do Brasil, atestou que 25% dos investidores em ações são mulheres. No início de 2023 havia cerca de 1,4 milhão de investidoras na Bolsa. Vivemos em uma cultura patriarcal de subordinação da mulher ao homem, nada saudável para ambos. Meus mais de 20 anos como educadora financeira oferecem evidências disso quando considero as falas que mais ouvi de mulheres:
Meu marido é que cuida: Posição confortável que permite identificar um culpado ao passo que rouba a tua liberdade.
Não tenho conhecimento suficiente: Insegurança cultural tipicamente feminina facilmente reversível com disciplina, dado a quantidade de conteúdo gratuito disponível no site da B3 e nos canais do PagBank, entre tantos outros.
Nunca gostei de contas: Educação financeira é muito mais comportamento e menos matemática. Além disso, também não gostamos de remédios, mas são eles que nos devolvem a saúde.
O grande sucesso de vendas do filme "Barbie" comprova que precisamos rever temas sobre empoderamento feminino, independência financeira e crescimento econômico. As mulheres — tenham a cor, corpo ou a idade que tiverem — têm contribuições absolutamente relevantes à sociedade.
E todos nós, homens e mulheres, precisamos urgentemente de autoconhecimento, porque o mundo não é cor-de-rosa, porque os estereótipos também têm seu papel e porque ninguém pode simplesmente ser o que quiser. Precisamos nos construir permanentemente.
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