Copom deve iniciar corte da Selic em agosto, diz Goldman Sachs
Em relatório divulgado nesta sexta-feira (9), o Goldman Sachs afirmou esperar que a taxa básica de juros da economia deva começar a ser reduzida a partir do mês de agosto. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Taxa Selic inalterada em 13,75% na última reunião, realizada no mês de maio.
Para o Goldman, a orientação dada pelo Banco Central (BC) de corte na taxa de juros foi "um pouco menos agressiva", destacando que as declarações pós-reunião e as atas vão em linha com o fato de o Comitê permanecer vigilante e conservador, já que a busca pela desinflação é um trabalho em andamento.
"Estamos em uma fase em que os ganhos de desinflação tendem a ser mais lentos, em um cenário em que as expectativas permanecem sem amarras e o mercado de trabalho está apertado", apontou o relatório do GS sobre a previsão de cortes de juros do Copom.
No entanto, o banco enxerga algumas mudanças ocorridas em relação ao cenário inflacionário, principalmente em relação a componentes considerados mais inerciais -- como serviços, por exemplo -- um setor que o Brasil vem se fortalecendo.
"No geral, esperamos que o Copom espere até a reunião de agosto para começar a cortar gradualmente. Mas, dadas as perspectivas instáveis de política fiscal e parafiscal e dependendo de como vai evoluir a decisão do final de junho sobre a(s) meta(s) de inflação para 2024-2026, uma espera mais longa para começar a aliviar não pode ser descartada", afirmou.
No texto, o Goldman lembrou ainda os dados do primeiro trimestre do PIB no Brasil, impulsionados pela contribuição das exportações líquidas e acúmulo de estoques que podem contribuir para a decisão de agosto do Copom. Do lado da oferta, a atividade do período teve como destaque o grande aumento na produção agrícola.
"Dadas as revisões de dados e a superação do primeiro trimestre, nossa previsão de crescimento real do PIB em 2023 subiu de 1,75% para 2,60%", destacou o Goldman, reforçando que em toda a América Latina, o trabalho de redução da inflação ainda está em andamento.
Copom manteve Selic a 13,75% pela 6ª vez seguida na última reunião
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sexta vez consecutiva, na terceira reunião do ano. O anúncio, feito na semana passada, era aguardado pelo mercado. A decisão foi unânime.
Foi a primeira reunião desde a apresentação pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva do novo arcabouço fiscal - regra que deve substituir o teto de gastos no controle das contas públicas.
A maioria dos especialistas do mercado esperava que os cortes da Selic ocorressem somente em setembro - por causa do índices de inflação, ainda altos, e da indefinição em torno das regras fiscais do governo, ainda em tramitação no Congresso.
"O Copom segue vigilante sobre a inflação, avaliando estratégia de manutenção da taxa básica. O comitê segue avaliando se manutenção por período prolongado assegurará convergência", diz o comunicado. "O Copom reforça que irá perseverar até que se consolide desinflação e ancoragem."
Desde a última reunião, em março, os membros do Copom têm reiterado que as condições para a queda dos juros básicos ainda não estão postas no Brasil. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dito que a desaceleração da inflação tem sido lenta e que é preciso redução das expectativas inflacionárias, que já "fugiram" muito da meta.
No último Boletim Focus, a projeção de inflação para 2023 era de 6,05% - bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a previsão de mercado é de 4,18%, o que já supera o centro da meta de 3,00%, mas está dentro do limite máximo de tolerância, de 4,50%.
No âmbito fiscal, a proposta de novo arcabouço foi considerada um passo na direção certa por Campos Neto. Mas o projeto ainda precisa ser aprovado no Congresso.
"Copom não hesitará em retomar ajustes" se inflação subir
O comunicado vai além e alerta até para a possibilidade de voltar a aumentar a alta dos juros: "O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado"
O comunicado faz uma sinalização ao governo sobre a política monetária: "O comitê avalia que conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária."
O texto sobre a decisão do Copom cita ainda a reoneração de combustíveis e a apresentação do arcabouço fiscal: "Reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária."
E pondera: "O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas."
"Ambiente externo adverso"
O Copom acrescenta: "O ambiente externo se mantém adverso. O episódio envolvendo bancos no exterior tem elevado a incerteza, mas com contágio limitado."
Ainda sobre o cenário internacional, os diretores do BC enfatizaram que os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.
No caso do quadro doméstico, o comunicado salientou que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho.
O colegiado ainda repetiu que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e reforçou o compromisso com as metas. "Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas."
"A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação", observou o Copom.
Os 44 analistas de mercado ouvidos pelo Projeções Broadcast na última semana previam de forma unânime manutenção da taxa Selic em 13,75% nesta reunião do Copom. Apesar da pressão do governo pela redução dos juros, a autoridade monetária continua indicando que as condições para a queda dos juros ainda não estão postas e que é preciso ver uma queda mais consistente da inflação e das expectativas de inflação.
A partir deste Copom, o BC deve mirar somente o ano de 2024 em sua estratégia de convergência da inflação à meta. A deterioração de expectativas para esse horizonte e para prazos mais longos foi estancada nas últimas semanas, mas as projeções já superam bastante as metas estabelecidas. O BC já descumpriu seu mandato de controle de preços em 2021 e 2022 e vai pelo mesmo caminho para 2023, conforme a estimativa mediana do Boletim Focus.
Foi o que disse também o comunicado desta quarta: "O Comitê entende que essa decisão de manter a Selic em 13,75% é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024."
Segundo a pesquisa do Projeções Broadcast, a maioria das instituições consultadas (74%) prevê início dos ciclo de cortes da Selic ainda em 2023. Seis de 42 casas (14%) projetam redução da taxa no segundo trimestre deste ano, 19 (45%) no terceiro e seis (14%) no quarto. Outras onze instituições esperam cortes só em 2024: nove (21%) no primeiro trimestre do ano e seis no segundo (6%). No Boletim Focus, a expectativa mediana é de início de cortes em setembro, com a taxa terminando 2023 em 12,50%.
A reunião do Copom deste mês para decidir sobre a Selic teve dois desfalques. A cadeira de Política Monetária está vazia desde a saída de Bruno Serra, no fim de março, e espera a indicação de um nome pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A diretora de Administração, Carolina Barros, também está ausente, mas devido à morte de um familiar.
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