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Tesouro Direto cai 9% no ano e assusta investidor; saiba o que fazer

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL

12/03/2021 04h00

Investidores de títulos do Tesouro Direto se assustaram após alguns papéis caírem quase 9% desde o início do ano. Os títulos são famosos entre os investidores mais conservadores, de renda fixa, e são conhecidos por ser uma das opções de menor risco. Segundo especialistas, os títulos do governo oscilaram devido a incertezas nas contas públicas brasileiras e ao aumento das taxas dos títulos dos Estados Unidos.

De acordo com cálculo feito pela Economatica, o retorno do Tesouro prefixado com juros semestrais, com vencimento em 2031, caiu 8,58% no acumulado de janeiro e fevereiro. Já o retorno do Tesouro IPCA 2035 caiu 3,66% no mesmo período. O Tesouro IPCA 2055 teve queda de 5,61% no rendimento desde o começo do ano. O cálculo leva em consideração o ajuste com o pagamento de rendimentos.

Os títulos atrelados à taxa Selic são os que apresentaram as menores quedas de retorno no ano, de 0,14% a 0,55%, dependendo da data de vencimento. Para quem ficou aflito com a queda do valor, especialistas ouvidos pelo UOL dizem o que fazer.

Nada de se precipitar

Segundo especialistas, em geral, o investidor precisa apenas manter os títulos do governo brasileiro até o vencimento. Assim, ele será pago pelo valor do título no momento da compra mais a taxa acordada, como a Selic, IPCA ou taxa prefixada.

"O investidor só precisa entender que não é porque o valor caiu em determinado momento que ele precisa sair vendendo, assustado com a queda. Caso ele carregue o título até o fim, ele terá a remuneração acordada na hora da compra", afirma Eliseu Hernandez D'oliveira, especialista em renda fixa da BlueTrade.

Renda fixa pode ter variação?

Quem está começando a investir provavelmente já leu que os títulos do Tesouro Direto são a opção mais segura de investimento e um dos principais ativos de renda fixa existentes. O que pouca gente sabe, no entanto, é que esses títulos também podem ter um rendimento negativo.

Isso ocorre pois os títulos acompanham a oferta e demanda do mercado, com investidores comprando e vendendo esses títulos todos os dias e apostando na alta ou na queda da taxa DI, que acompanha a taxa básica de juros (Selic).

Como essa expectativa de sobe ou desce dos juros futuros, os títulos acompanham tal variação. Ou seja, o preço do título hoje pode ser diferente do preço desse título amanhã —e essa variação depende da procura desses títulos por parte dos investidores. Essa variação é chamada de "marcação a mercado" e acompanha os riscos do mercado.

"Os títulos do governo são muito seguros. O risco de calote é muito baixo, é o papel mais seguro nesse caso. Mas também existe o risco de mercado, que é pouco falado, que é justamente essa oscilação de taxa e preço", afirma D'oliveira.

Portanto, caso a expectativa de juros para o futuro suba, o preço de um título do Tesouro Direto já comprado deve cair. Assim como, caso a expectativa de juros futuros caia, o preço do título deve subir

Para Rafael Gouveia, especialista da Speed Invest, quanto mais longo for o título, ou seja, quanto mais ele demorar para vencer, maiores são as chances dessas variações ocorrerem.

"Títulos com risco menor são os pós-fixados, chamados de Tesouro Selic. Esses vão acompanhar a variação da Selic. Dificilmente entre um mês e outro eles vão render negativamente. Depois deles, na teoria, os menos arriscados seriam os atrelados à inflação, o Tesouro IPCA, com vários vencimentos. E, por último, o Tesouro prefixado", disse.

Os especialistas, no entanto, afirmam que não há risco de que o investidor perca dinheiro caso opte por segurar o título até a data do vencimento. Portanto, caso o título escolhido ofereça um pagamento de IPCA+3,5% ao ano, por exemplo, ele pagará exatamente isso no vencimento. Segurando o título até o vencimento, o investidor se protege do efeito de marcação ao mercado.

Já caso ele opte por resgatar o título do Tesouro Direto antes do vencimento, estará sujeito a variação diária que pode, sim, ser negativa.

Por que o Tesouro Direto está caindo?

Essa queda no valor dos títulos do Tesouro Direto vem ocorrendo pela percepção do mercado de que os juros devem subir em breve, já que os agentes do mercado se mostram desconfiados quanto à saúde das contas públicas brasileiras.

"Tem toda a questão do ajuste fiscal, quais serão as contrapartidas, se haverá aumento de imposto ou não, todas essas incertezas fazem com que o mercado fique arriscado", afirmou D'oliveira.

Além disso, os títulos americanos vêm acumulando altas, pois o mercado vê indicações de que haverá um aumento de juros nos Estados Unidos.

"Há também a questão do cenário econômico, como os títulos dos EUA subindo e fazendo com que o Brasil tenha que aumentar os juros para conseguir que seus títulos fiquem interessantes aos olhos do investidor", diz o analista.

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