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Privatização da Eletrobras: o que você precisa saber antes de investir

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/05/2021 13h02

A Medida Provisória 1031/21, que cria as condições para a privatização da Eletrobras, foi aprovada na última quarta-feira (19) na Câmara dos Deputados. Nesta quinta-feira (20), as ações da companhia abriram em queda, de quase 2%.

O parecer preliminar, apresentado na última terça (18) pelo relator da MP, deputado Elmar Nascimento (DEM/BA), não agradou ao governo e mudanças no texto foram negociadas. Para o mercado, porém, a medida que abre caminho para a privatização da companhia é, em geral, positiva para os investidores.

Analistas ouvidos pelo UOL concordam com os benefícios da passagem da companhia à iniciativa privada. Eles, entretanto, permanecem com dúvidas em relação a alguns pontos do texto da MP e como isso pode impactar quem investe ou pretende investir na companhia. Confira o que eles disseram.

Privatização deve fortalecer empresa

De acordo com os analistas, a privatização pode fortalecer a capacidade de investimento da empresa, o que deve gerar valor aos acionistas.

A aprovação da MP 1031 e a consequente capitalização da Eletrobras é um passo importante e necessário, e que fortalece a capacidade de investimento, cria as condições de maior aceleração e destrava o valor percebido da companhia.
Victor Luiz Martins, analista da Planner Corretora

O modelo de privatização previsto na medida gera uma nova emissão de ações a serem vendidas no mercado e que não poderiam ser compradas nem pela União ou bancos públicos, reduzindo assim o controle acionário mantido atualmente pela União. Hoje, o Estado é dono de 58,71% da empresa. A ideia é que, com a emissão de novas ações, essa fatia caia para 45%.

Apesar disso, a União terá uma ação de classe especial (golden share) que lhe garante poder de veto na companhia.

Para Eduardo Guimarães, especialista em ações da casa de análises Levante Ideias de Investimento, apesar de o modelo não ser o ideal, ele é visto como positivo.

Esse tipo de privatização não é o ideal, mas é o possível no momento. Nunca tivemos um cenário de venda total da companhia e, por isso, sempre achamos que seria fatiada, dado que o governo não entregou nada em privatizações. É o esperado.
Eduardo Guimarães

Possível intervenção de reguladora preocupa

Alguns pontos no texto da MP, cuja versão final não foi divulgada, já preocupam os agentes do mercado financeiro.

Uma delas é a possível intervenção da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) no mercado de energia. Na sugestão apresentada pelo relator da MP há a possibilidade de a reguladora intervir para evitar excessiva concentração de mercado.

De acordo com Victor Bueno, analista da Top Gain, essa possibilidade pode gerar uma crise no setor.

A questão da permissão para que a Aneel passe a intervir no mercado de energia é ruim não só para a Eletrobras, mas para todo o setor.
Victor Bueno

R$ 40 bilhões a menos no caixa da empresa também é negativo

Além desse ponto, também há uma preocupação em relação a parte do texto da MP que prevê uma possível retirada de cerca de R$ 40 bilhões em recebíveis (contas a receber), pagos pelo governo em forma de indenização.

Alguns deputados querem que a indenização sobre a rede de transmissão, de cerca de R$ 40 bilhões, fique na velha companhia, que ainda abrigará Eletronuclear e Itaipu. E, claro, que o mercado achou isso negativo.
Eduardo Guimarães

Ações sobem no ano, apesar de preocupações

Apesar dos pontos de preocupação dos agentes do mercado, a privatização pode ser benéfica para quem já possui ações da empresa, que já subiram cerca de 50% desde o início deste ano, segundo os analistas.

Para Victor Luiz Martins, da Planner Corretora, os papéis da Eletrobras estão baratos na Bolsa e, caso a privatização seja concluída, deverão continuar a surfar uma onda de alta.

As ações da empresa estão sendo negociadas perto do preço máximo das últimas 52 semanas, a cerca de 0,9 vezes o seu valor patrimonial, e embutem parte da perspectiva de aprovação da MP. Nesse contexto, vemos espaço para valorização, caso o processo avance e seja aprovado.
Victor Luiz Martins

Para Victor Bueno, da Top Gain, o investidor que já possui ações da Eletrobras pode manter os papéis, mesmo que no curto prazo ocorram variações nos preços.

Quem já está posicionado provavelmente irá continuar com as ações até que perca essa forte tendência de alta. Apesar disso, serão dias com algumas indefinições e, talvez se ocorrer um entrave mais importante podemos ter um entrave no preço.
Victor Bueno

Já para Eduardo Guimarães, da Levante, há melhores opções no setor elétrico. Além disso, o analista prefere não ter ações da Eletrobras pois, apesar do processo de privatização, o governo ainda terá a opção da golden share —aquelas ações de classe especial —, influenciando os rumos da empresa.

Não recomendamos a Eletrobras. Tivemos a postura de sair de todas as estatais, como Eletrobras, Petrobras e Banco do Brasil, pois achamos os riscos altos demais após a intervenção na Petrobras. A Petrobras mesmo está em um bom momento e a privatização seria a cereja do bolo. Já na Eletrobras, a privatização é o tema principal e, caso não ocorra, pode causar problemas ao acionista.
Eduardo Guimarães

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