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Com juros em alta, é hora de investir mais em Tesouro, fundos e poupança?

Aplicações de renda fixa vão ter rendimento maior com juros em alta - iStock
Aplicações de renda fixa vão ter rendimento maior com juros em alta Imagem: iStock

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

29/06/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Taxa básica de juros, que estava em 2%, deve ir até 6,5% este ano
  • Profissionais de mercado dizem se vale ter mais renda fixa e menos Bolsa na carteira
  • Revisar a carteira de investimentos por causa da alta da Selic depende do perfil de cada investidor

O Banco Central voltou a elevar a taxa de juros no Brasil, que estava em queda desde outubro de 2016. Depois de bater na mínima histórica de 2%, em agosto do ano passado, a taxa Selic passou a subir em março deste ano, chegando a 4,25% em junho. As projeções feitas por mais de cem analistas de mercado para o Boletim Focus apontam que essa taxa de juros vai subir mais, até pelo menos 6,5% ainda neste ano.

Como a Selic é a principal referência de muitas aplicações de renda fixa bastante populares entre investidores brasileiros -como caderneta de poupança, título Tesouro Selic e Fundos DI-, esse movimento vai mexer com os ganhos desses investimentos.

Quanto mais alta a Selic, melhor o rendimento dessas aplicações. Quem tem dinheiro nesses investimentos pode estar se perguntando se vale a pena aumentar a participação da renda fixa na carteira e reduzir a fatia de renda variável, aquela aplicada em Bolsa, fundos imobiliários ou fundos cambiais atrelados ao dólar, por exemplo. Veja o que dizem profissionais de mercado ouvidos pelo UOL.

Quando vale aumentar renda fixa nas aplicações?

Gestores de recursos dizem que a decisão de revisar a carteira de investimentos por causa da alta da Selic depende do perfil de cada investidor e dos objetivos do dinheiro aplicado.

Reserva de emergência

O dinheiro aplicado para reserva de emergência, ou seja, para cobrir despesas inesperadas, deve continuar na renda fixa mais segura e que oferece maior liquidez. Assim, a parte das aplicações que está em poupança, Tesouro Selic ou Fundos DI pode permanecer lá.

Aplicações de longo prazo

Já aquela parte da carteira de investimentos que está sendo investida com objetivos de mais longo prazo, acima de cinco anos -para compra de um bem como imóvel, para um curso ou viagem ao exterior, ou para a aposentadoria mesmo- pode ser ajustada para acomodar esse novo cenário de juros em alta.

Mas isso depende do perfil do investidor, apontam consultores financeiros.

  • Investidor conservador: esse aplicador já tem sua carteira totalmente alocada em renda fixa porque não tem estômago para riscos no mercado financeiro. Então, nesse caso, não há ajustes na carteira entre renda fixa e renda variável.

O que o aplicador desse grupo pode fazer é aumentar a fatia de títulos pós-fixados e dos papéis atrelados à inflação, corrigidos pelo IPCA. Para isso, ele pode reduzir a fatia de investimentos prefixados.
Igor Seixas, sócio e chefe de alocação da Inove Investimentos

  • Investidor moderado: o aplicador que não gosta de correr muitos riscos pode aproveitar esse momento para aumentar a posição de renda fixa na carteira de investimentos de longo prazo. Nesse caso estão pessoas que têm no máximo cerca de 20% da carteira em renda variável.

Essa fatia pode ser reduzida para 15% ou 10%, para diminuir a volatilidade da carteira, apontam consultores. Isso porque as aplicações de renda fixa apresentam muito menos oscilações que as ações ou que as cotas de fundos imobiliários cotados em Bolsa, por exemplo.

  • Investidor mais perto da aposentadoria: essa avaliação vale especialmente para o aplicador que está mais perto do momento de usufruir do capital que está aplicado. Mesmo o investidor mais arrojado -aquele que tem mais de 20% do patrimônio aplicado na Bolsa, em fundos imobiliários ou mesmo em fundos multimercados que assumem mais riscos- mas que está perto de começar a usar o dinheiro investido pode aproveitar esse momento para reduzir a parte de renda variável e colocar o resultado das vendas na renda fixa.

Ao aumentar a fatia de renda fixa neste momento, o investidor consegue reduzir a volatilidade da carteira e os riscos antes do momento em que planeja começar a usar o capital aplicado.
Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos

  • Investidor arrojado ou longe de sacar aplicação: o investidor que aceita assumir mais riscos de olho no maior potencial de rentabilidade, aquela pessoa que aceitou colocar mais de 25% de suas aplicações em produtos como ações, fundos imobiliários, BDRs, ETFs- a alta de juros neste momento não justificaria mudanças na fatia da renda fixa na carteira.

Profissionais de mercado destacam que a Bolsa, por exemplo, tem cenário positivo para os próximos meses, com projeções para o Ibovespa, por exemplo, subindo até 140 mil pontos até o fim deste ano.

Acredito que no primeiro momento, podemos ver investidores querendo deixar dinheiro na renda fixa para ganhar 6% ou 7% ao ano sem risco. Mas na nossa visão, mesmo com a alta da Selic, não vemos os juros voltando a dois dígitos, ou seja, acima de 10% ao ano. Considerando as oportunidades na Bolsa, não justifica manter o dinheiro de longo prazo na poupança ou no CDI.
Luis Politi, sócio de desenvolvimento da Consulenza Investimentos

Segundo profissionais de mercado, o aplicador desse grupo até pode fazer um ajuste na carteira, mas dentro da própria parcela que é dedicada à renda fixa. Nesse caso, trocando posições prefixadas por aplicações pós-fixadas ou atreladas à inflação.

Considerando aquela parcela do portfólio dentro da renda fixa, a gente vem recomendando ao investidor aumentar títulos com prazos mais longos, e títulos atrelados ao IPCA. Para papéis prefixados, a gente avalia que vale se a aplicação for em títulos com mais de dois anos, como CDBs que estão oferecendo 9% ao ano, para prazos de dois anos ou mais.
Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial Investimentos

Como fazer o ajuste na carteira

Para aumentar a fatia de renda fixa na carteira, o investidor pode ter que reduzir a fatia da renda variável. Veja dicas de profissionais de mercado para quem se identificou com esses casos que justificam ajuste na carteira. Segundo eles, é preciso cuidado para que esse novo balanceamento não provoque perdas.

  • Apurar o que rendeu mais e menos: antes de sacar a aplicação, o investidor deve fazer uma análise geral da sua carteira de investimento. Ele precisa checar o que já está dando ganho e avaliar se vale o resgate. Se a pessoa tem uma ação que se desvalorizou, por exemplo, talvez seja o caso de aguardar mais para que esse papel se recupere.
  • Considerar o objetivo da aplicação: antes de sacar da renda variável para aplicar em renda fixa, a pessoa precisa ver se esse movimento não vai afetar o objetivo que fora traçado antes, dizem analistas. Se alguém aplicou em fundo cambial porque terá despesa em moeda estrangeira talvez não seja indicado se desfazer desse ativo. Então, valeria olhar para outra aplicação, como ações ou fundos imobiliários, que possa ter sua posição reduzida.
  • Esperar o vencimento: o investidor não deve sacar dinheiro de uma aplicação que tenha prazo de resgate definido antes da data porque ele pode perder parte do rendimento.
  • Checar taxas: ao migrar o dinheiro, o aplicador precisa considerar eventuais custos de transferência ou taxas que serão pagas aos gestores dos recursos.

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