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Bolsa cai para o nível de maio; vai continuar caindo? Até quando?

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

17/08/2021 16h21Atualizada em 17/08/2021 17h31

A Bolsa de Valores brasileira caminha para emendar a segunda queda consecutiva nesta semana. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, chegou a operar em queda de mais de 2%, e fechou a sessão desta terça (17) com recuo de 1%, próximo aos 118 mil pontos —mesmo patamar verificado em maio deste ano. Desta vez, a Bolsa refletiu não apenas os resultados ruins do mercado externo, mas também a preocupação dos investidores com o mercado interno.

Segundo analistas ouvidos pelo UOL, a dificuldade em se fazer a Reforma Tributária, que está na pauta da Câmara desta terça (17), e o "flerte" do governo em romper o teto de gastos para bancar programas sociais se unem a preocupações com o cenário externo. Será que a Bolsa vai continuar caindo? Ela pode voltar a subir? Veja o que disseram os analistas.

Mercado externo e interno preocupam investidores

Nesta terça (17), os índices Nasdaq, Dow Jones e S&P 500, os principais índices das bolsas norte-americanas, operam em queda de mais de 1%, refletindo as preocupações com a variante delta da covid-19, a instabilidade no Oriente Médio, com a tomada do poder no Afeganistão pelo grupo extremista Taleban, e a possibilidade de o país reduzir o programa de compras de títulos públicos, criado no início da pandemia para colocar mais dinheiro na economia dos EUA.

Mas o cenário externo não é o único motivo para a queda da Bolsa brasileira, segundo Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

"O grande fator que tem impulsionado a queda do mercado nos últimos dias está relacionado ao nosso ambiente interno, nosso macro. A dificuldade em se fazer a Reforma Tributária —que mais uma vez pode ser postergada —, a questão do governo ficar flertando com o rompimento do teto de gastos, seja por conta do aumento de programas sociais, seja para enquadrar qualquer tipo de despesa, estão trazendo um desconforto grande", afirma.

A briga entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Congresso Nacional e STF (Supremo Tribunal Federal), apenas agrava a crise política, avalia Moliterno, e afeta a confiança dos investidores.

"Gera mais ruído, e isso recai sobre o nosso mercado. Nessa toada, as empresas de varejo sentem muito mais, por conta da inflação", afirma.

"O Ibovespa passa por um movimento de baixa há pouco mais de dois meses, mas nos últimos pregões as pressões dos vendedores aumentaram e os investidores estão preocupados com cenário local (política e economia) e monitoram a situação no exterior", diz Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

O momento, para o investidor, é de cautela, segundo Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

"Apesar do avanço da vacinação, seguimos em um momento de grande incerteza com relação ao crescimento econômico, principalmente quando levado em conta o ambiente de inflação elevada e juros altos. Junto a isso, a falta de visibilidade com relação ao fiscal —mais recentemente tivemos um novo susto com os precatórios—, principalmente em um ambiente político altamente volátil, afastou o fluxo externo em julho e agora em agosto", afirma, referindo-se à saída de investidores estrangeiros da Bolsa nos últimos dois meses,

Os dados ruins divulgados na última segunda (17) pela China ainda pesam na conta da queda de hoje da Bolsa, segundo o analista.

"Esse conjunto de fatores impacta nos juros. A taxa de juros aumentou forte nas últimas semanas. O investidor pessoa física, por exemplo, consegue investir em um prefixado com mais de 10% ao ano. Por que ele vai tomar risco? As pessoas começam a deixar o risco de Bolsa para alocar em renda fixa", afirma Vitor Santos especialista de renda variável da Valor Investimentos.

Bolsa vai continuar em queda?

Para os analistas, é difícil prever quando a Bolsa voltará a se estabilizar, diante de tantos fatores internos e externos caminhando juntos. Mas um cenário de mais quedas daqui para frente pode ocorrer.

"Acredito que devemos ainda observar esse cenário de quedas por mais alguns dias", afirma Moliterno. Para o analista, o mercado está dependendo da votação da retorma do Imposto de Renda e de algumas definições, como o parcelamento dos precatórios, o novo Bolsa Família.

"[Tudo isso] precisa ter um desfecho, antes de voltar a subir", afirma.

"Vai ter mais volatilidade (oscilações) nos próximos meses, até pela questão das eleições de 2022, que o mercado já começa a precificar [considerar]. Tem a questão do risco geopolítico. O mercado tenta olhar lá para frente", diz Santos, da Valor Investimentos.

Para Beyruti, da Guide, os níveis de preço na Bolsa estão ficando mais atrativos, o que pode trazer uma estabilidade maior para a Bolsa, "mas sem acreditar em grandes avanços" caso a falta de clareza no ambiente interno ainda permaneça.

"Nós entendemos que essa conjuntura doméstica e externa deve levar os investidores a serem mais seletivos a partir daqui. Há setores que ainda devem desempenhar muito bem, especialmente aqueles que mais se beneficiarão da reabertura da economia, mas há setores que já surfaram a recuperação que vimos pós-recessão de 2020", afirma Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.

Bolsa pode chegar aos 140 mil pontos

Beyruti, da Guide, acredita que a Bolsa deve continuar no patamar que atingiu nesta semana.

"Podemos ver uma maior acomodação da queda nestes níveis —117 mil a 118 mil pontos—, mas também não espero uma forte recuperação no curto prazo", afirma Beyruti.

Já Chinchila, da Terra Investimentos, tem uma projeção mais otimista para este ano.

"Importante lembrar que ainda estamos na pandemia, e que o cenário continua sendo de recuperação e de volatilidade. Para o final de 2021 e meados de 2022, nosso cenário para o Ibovespa segue entre 135 mil e 140 mil pontos", afirma.

Queda pode ser oportunidade, dizem analistas

Segundo Rafael Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, a queda da Bolsa brasileira está mais relacionada com o cenário local, do que com o cenário internacional. Ele explica que, ao comparar a B3 com a Bolsa de outros países emergentes, agora, a brasileira é a única que cai.

Mas essa queda, segundo ele, é mais uma correção e uma oportunidade.

"Estamos falando mais do local. A economia está crescendo, o Banco Central está segurando a inflação, e as empresas estão mostrando resultados sólidos. Então, é uma correção, é mais uma oportunidade do que de fato uma mudança estrutural no cenário da nossa Bolsa", afirma.

"Se olharmos a relação entre o preço do Ibovespa e os lucros das empresas que compõem o índice, há sinais de que a Bolsa começa a ficar barata nesses preços. Se assim for, uma queda mais acentuada pode se transformar em uma oportunidade mais à frente", diz Caruso, do Banco Original.

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