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Emprestar dinheiro para empresas pode render 7% acima da inflação; entenda

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/09/2021 04h00

O investidor que empresta dinheiro para empresas hoje pode multiplicar por 4,5 seu patrimônio em 10 anos. Alguns títulos de dívidas de empresas privadas, as debêntures, têm oferecido em alguns casos uma rentabilidade anual de 15,47% ou algo próximo de 7% ao ano, descontando a inflação.

No primeiro semestre deste ano, o índice que mede o desempenho de algumas debêntures, o IDA-DI, foi o campeão entre os principais índices do mercado, com valorização de 3,77% no período, mais que o dobro do CDI —indicador comum entre investimentos conservadores e que acompanha a taxa de juros. Analistas alertam, porém, que há riscos a serem considerados nesse tipo de investimento. Leia abaixo quais são eles, se vale a pena investir em debêntures e quais são as mais interessantes para o investidor.

Emprestar para grandes empresas reduz risco de calote

Existem algumas formas de as empresas captarem recursos no mercado. Entrar na Bolsa e emitir ações ou emitir debêntures são as duas formas mais comuns.

Ao investir em debêntures, o pequeno aplicador está emprestando dinheiro para a empresa, que pode usar esses recursos para projetos de expansão ou aquisições, por exemplo. Segundo especialistas, quanto maior e mais bem estruturada é a empresa, menor é o risco de ela não pagar os investidores que emprestaram dinheiro a ela através de debêntures.

As debêntures da locadora de carros Movida com vencimento em 2028, por exemplo, estão pagando um dos maiores juros do mercado de renda fixa: 6,4% acima da inflação, com uma rentabilidade líquida de quase 143% no final do período, já descontado o Imposto de Renda.

Outro exemplo é a Lojas Americanas. A empresa está pagando 5,57% acima da inflação, mas como o período do contrato é mais longo, com final apenas em 2030, o investidor que conseguir manter o título até o final tem uma rentabilidade ainda maior que a da Movida, de 235%.

Para Marcos Iorio, gestor da Integral investimentos, empresa especializada em fundos de investimento de crédito, as debêntures mencionadas têm, além das altas taxas de retorno, risco quase zero de calote.

"São nomes conhecidos, pagando acima do título público, com risco muitas vezes parecido ao risco-país", diz.

É a possibilidade de ganhos altos combinada a riscos comparativamente baixos que faz das debêntures um dos investimentos mais procurados na renda fixa.

Um levantamento da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) apontou que as debêntures responderam por 40% do volume de investimentos na renda fixa no mês de agosto.

Há riscos ao se emprestar dinheiro para empresas

Iorio alerta que há, sim, possibilidade de perder dinheiro comprando debêntures. Isso tende a acontecer principalmente quando o investidor precisa vender o título antes do vencimento.

"São papéis longos, que vão ter vencimento de cerca de 10 anos. Se você precisar vender daqui a um ano, pode ser que você tenha um prejuízo porque as taxas de juros podem subir ainda mais", afirma.

Luciana Ikedo, da assessoria de investimentos RV4 Investimentos, reforça que os ativos que garantem uma rentabilidade real na casa dos 6% são muito interessantes, mas há riscos para quem não tem certeza se manterá o dinheiro aplicado até o final.

"Quando a Selic sobe, a inflação cai e o ativo fica menos interessante. Por isso, é importante dosar a alocação desse ativo na carteira. Diversificação é a palavra", diz.

Com relação à rentabilidade, Ikedo alerta que não é só a taxa de remuneração que precisa ser levada em conta, mas também a incidência de Imposto de Renda.

"Muitas vezes o investidor considera somente a taxa, esquecendo de colocar na equação o resultado, depois dos impostos. O IR pode pesar muito sobre o resultado final", diz.

Debêntures incentivadas

Estão isentas do Imposto de Renda todas as debêntures de empresas do setor de infraestrutura, que abrange setores como transporte, energia, saneamento e logística.

Nesta categoria estão as debêntures da concessionária MetrôRio, que opera algumas das linhas metroviárias do Rio de Janeiro e oferece o maior retorno entre os títulos de dívida privada.

A empresa está pagando juros de 6,6% acima da inflação, e ainda com isenção de Imposto de Renda, o que pode garantir um retorno de quase 335% daqui a 10 anos, quando o contrato terminar, e pode multiplicar por 4,5 o patrimônio aplicado.

Porém, o especialista em renda fixa Mateus Caldasso avalia o MetrôRio como um investimento mais arriscado que outras debêntures.

Os motivos, segundo ele, são principalmente os problemas políticos e econômicos que têm afetado o setor público do Rio de Janeiro nos últimos anos.

Ele diz que a taxa de rentabilidade e a isenção do Imposto de Renda não são os principais atributos de uma debênture, mas, sim, o baixo risco de calote.

Para o especialista, as melhores opções entre as debêntures incentivadas (sem cobrança de imposto) são a Rumo Logística, Eletropaulo e Sabesp, que oferecem rentabilidade de até 5% além da inflação e sem cobrança de Imposto de Renda.

"São debêntures emitidas por empresas muito sólidas, com grande geração de caixa, o que proporciona uma solidez para que o investidor pessoa física tenha acesso a produtos de poupança de longo prazo com uma alta rentabilidade", diz o especialista.

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