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Ela teve loja de lingeries; hoje, ensina finanças a mulheres no YouTube

Paula Reis é investidora e dona do canal Mulher Trader, que aborda o dia a dia e explica jargões da Bolsa - Divulgação
Paula Reis é investidora e dona do canal Mulher Trader, que aborda o dia a dia e explica jargões da Bolsa Imagem: Divulgação

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/11/2021 04h00

"Te ajudo a entender que Bolsa não é bruxaria nem cassino". É assim que a investidora Paula Reis, 37, apresenta nas redes sociais o Mulher Trader, seu canal voltado ao público feminino que aborda os detalhes e as estratégias utilizadas no dia a dia da Bolsa de Valores e nas operações de day trade (a compra e venda de ações no mesmo dia).

Sua experiência é eclética: formou-se em letras e administração de empresas, trabalhou em bancos e teve uma loja online de lingeries. Ela é uma das participantes do próximo Guia do Investidor UOL para dar dicas de como evitar armadilhas e ter sucesso na hora de investir na Bolsa de Valores. O evento acontece no dia 23, às 11h, nas páginas do UOL, do UOL Economia e do UOL Investimentos.

Quem se depara com o perfil didático da investidora e a sua tarefa de traduzir termos complexos para quem está fora dos investimentos acredita que ela sempre esteve na área de exatas. Mas, antes de lidar com os números, ela ingressou no curso de letras com especialização para tradução em inglês, na Fundação Universitária Iberoamericana (que hoje integra o grupo Anhanguera), com apenas 17 anos.

Paula concluiu o curso quatro anos mais tarde, aos 21. No entanto, no meio do caminho, a então professora de inglês começou a conciliar a sala de aula com as seis horas diárias em funções comerciais no Unibanco (antes da compra pelo Itaú), para ter condições para bancar os estudos, a convite de um amigo.

Na época, a oferta de investimentos não era algo tão difundido, mesmo em grandes instituições financeiras. "Como as gerentes não falavam sobre investimentos, elas incentivaram que eu, que era mais nova, tivesse a certificação para que pudesse explicar aos clientes sobre CDB e renda fixa. Era algo recente, então não tinha em outros produtos. Foi um período muito louco", declarou.

Atualmente, Paula Reis é formada também em administração de empresas pela Fatec Sebrae e possui pós-graduação em controladoria de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Depois da jornada no Unibanco, ela foi trabalhar no Citibank, onde era responsável pela abertura de conta de clientes. Por lá, o objetivo não era ter um contato mais próximo, mas abrir uma primeira porta para o aumento de correntistas na instituição. Se fosse necessário, falava também sobre investimentos.

Após quase dois anos, Paula retornou ao Unibanco, no segundo semestre de 2008, e pegou parte da transição durante a fusão com o Itaú.

Em seguida, foi convidada para uma posição no Banco Safra, instituição focada em investidores qualificados, aqueles com mais de R$ 1 milhão. Na companhia, atuava com um público intermediário entre os clientes milionários e muito ricos.

Assim, estabeleceu uma relação de proximidade e confiança com as famílias tradicionais de São Paulo, como políticos, famosos e até jogadores de futebol de divisões menores em ligas europeias.

O começo como trader (e o início da Paula influencer)

Anos mais tarde, depois de uma passagem pela XP Investimentos, Paula passou a oferecer serviços de consultoria como uma forma de pavimentar o caminho para a atuação como trader.

Um dos clientes em carteira era gestor de fundo de investimentos austríaco no Brasil. Com as dificuldades em participar das reuniões e prestar esclarecimentos à matriz, o investidor lembrou da antiga professora de inglês. Desta vez, porém, ela passou a conciliar a paixão pelo inglês com a habilidade pelos números.

"Eu disse que não fazia isso no banco, mas que poderia tentar ajudar. Passei a participar de 'calls' e a fazer traduções dos relatórios para prestar informações. Como precisava de tempo para estudar as operações diárias do mercado financeiro, estabeleci esse modelo de consultoria. Deu supercerto", disse Paula.

A malsucedida tentativa de ter o próprio negócio

No hiato de cerca de um ano entre a saída do Safra e a entrada na XP, a investidora tentou empreender e escolheu a moda para a nova empreitada: um e-commerce de lingeries —o que, hoje, considera um erro.

O negócio enfrentou inúmeras dificuldades, como a alta do dólar sobre os itens do portfólio (que eram importados) e também na estruturação da loja online, para manter um bom fluxo de clientes.

No período de um ano e meio, viveu altos e baixos. Quando a empresa começou a engrenar, viu que o faturamento ficava aquém do esperado e decidiu fechar as portas.

Para ela, ficou a lição de que era necessário trabalhar no que gostava. "Eu entrei nessa de que, só por ser mulher, daria certo trabalhar com moda. Mas era um segmento em que eu vivia pisando em ovos na hora de lidar com a gestão e os fornecedores. Eu gostava de números", afirmou.

O início como influenciadora

Ao entrar na XP como assessora de investimentos, percebeu que realmente havia se encontrado no mundo das finanças. No entanto, tinha o desejo de atuar na linha de frente como investidora.

Assim, enquanto oferecia a consultoria, passou a estudar mais o mercado. Com os estudos e a compreensão de análise gráfica, veio a percepção de que era possível atuar com operações de curto prazo.

Quando começou a compartilhar com as amigas o sucesso da nova jornada, notou que elas se distanciavam do assunto.

Eu queria explicar que era possível ganhar dinheiro, mas elas me pediam para investir e lidar com o dinheiro delas, o que não é possível. Eu ficava chateada porque elas eram inteligentes e capazes.
Paula Reis

Da frustração, porém, veio a motivação para agir. Em 2018, o canal na internet surgiu como Trade Girls. Com a dificuldade de pronúncia do nome, o espaço veio a ser o "Mulher Trader", em que 70% das interações são de mulheres. Estreou no YouTube em 2020, plataforma em que recebe mais contatos de homens.

Ao explicar a distância delas da Bolsa, Paula observa o contexto histórico. "O acesso da mulher ao crédito foi muito tardio, apenas nos anos 1970. Para mim, não existe essa coisa de que dinheiro não tem gênero. A mulher tem que se provar muito mais. O custo dela é mais caro, com a compra de roupa, sapato e maquiagem, e ela ganha menos. Sem contar no percentual de mães solteiras, de chefes de famílias", declarou.

Para aproximar os mais de 30 mil seguidores do setor financeiro, ela explica como desenvolver a análise gráfica das empresas e aborda temas que impactam diretamente os investimentos, como a alta da taxa básica de juros ou da inflação.

Também fala sobre jargões rotineiros do mercado, como "stopar" (saber a hora certa de interromper um investimento que está dando prejuízo) ou "gapar" (que é a lacuna no preço entre o momento em que a ação deixa de ser negociada e o valor quando o papel volta a estar disponível).

Ser trader é para todos. Mas é necessário ter foco e disciplina. A armadilha de operar com day trade é tentar ser imediatista, querer ganhar R$ 1 milhão com apenas R$ 100. Não é assim, isso não vai acontecer. É preciso uma estratégia para a construção de capital.
Paula Reis

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