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Principais índices da Bolsa caem em 2021, mas 3 setores escapam

Que índices da Bolsa ganharam ou perderam em 2021 e quais os cenários traçados por especialistas para este ano? - Cris Fraga/Estadão Conteúdo
Que índices da Bolsa ganharam ou perderam em 2021 e quais os cenários traçados por especialistas para este ano? Imagem: Cris Fraga/Estadão Conteúdo

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

04/01/2022 04h00

Resumo da notícia

  • Veja desempenho de dez índices da Bolsa este ano
  • 7 índices de ações acumulam baixa, mas 3 se destacam com variações positivas
  • Profissionais de mercado apontam cenários para 2022

Depois de cinco anos consecutivos de variações positivas, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, recuou em 2021. A alta do dólar em meio às preocupações dos investidores com os gastos do governo, o aumento do custo de vida e a elevação dos juros para conter a inflação atrapalharam as empresas e, por tabela, as ações negociadas em Bolsa.

Esse cenário adverso afetou não apenas o Ibovespa, mas a maioria de outros índices de ações da Bolsa. Numa lista de dez dos índices mais usados no mercado, sete tiveram variações negativas -sendo que alguns deles apresentam retração três vezes mais forte que a do Ibovespa.

Mas três índices escaparam dessa onda negativa e entregaram ganhos nominais (sem considerar a inflação) aos aplicadores. Veja abaixo os índices da Bolsa vencedores e os perdedores em 2021 e ainda os cenários traçados por profissionais de mercado para 2022.

Bolsa não é só Ibovespa

Como já explicamos aqui, o Ibovespa é o principal e mais usado índice de ações da Bolsa brasileira B3, mas não é o único.

53 diferentes índices na Bolsa. Cada um deles representa uma cesta de ações ou de outros ativos negociados na Bolsa, de acordo com setores da economia, perfis de tamanho ou ainda de políticas de sustentabilidade.

O objetivo de cada índice é ajudar o investidor a escolher ações que combinem com diferentes estratégias de investimentos.

Desempenho dos índices em 2021

Veja abaixo o comportamento de alguns dos principais índices de ações em 2021. Os três que se deram bem foram indústria, matéria-prima e BDR.

  • Ibovespa: -11,93%
  • Imobiliário: -31,14%
  • Iconsumo: -26,11%
  • Ifinanceiro: -25,01%
  • ISE(ESG): -11,62%
  • IEE (energia elétrica): -7,90%
  • IUtilities: -6,12%
  • INDX (indústria): +3,99%
  • Imat (matérias-primas): +13,12%
  • IBDRs: +33,65%

Ibovespa captura média do mercado

O Ibovespa é formado pelas ações com maior volume de negócios na Bolsa. A composição do indicador é revista a cada quatro meses, exatamente para manter atualizado o ranking dos papéis que estão sendo mais negociados.

Por causa desse critério, o Ibovespa reúne empresas dos mais diferentes setores. Assim, as companhias que foram bem ajudam positivamente o indicador, enquanto os negócios que tiveram desempenho mais fraco influenciam negativamente o índice.

Exportadoras e produtoras de matérias-primas vão bem

As ações da Petrobras e da mineradora Vale, por exemplo, respondem hoje por 25% do peso do Ibovespa. São duas das mais importantes companhias do país e que fazem parte do setor de matérias-primas.

Essas duas empresas pesam ainda mais no Imat, o índice de ações de empresas do setor de matérias-primas. Outras exportadoras, também do Imat, ajudaram o Ibovespa. Por exemplo: siderúrgicas, produtoras de alimentos e papel e celulose.

Além de impedir que o Ibovespa recuasse mais em 2021, essas empresas determinaram o desempenho bastante positivo do Imat e do INDX, índice das indústrias.

As empresas exportadoras que dependem das vendas para o exterior tiveram em 2021 um desempenho positivo por dois motivos: o comércio internacional estava mais aquecido que o mercado doméstico brasileiro; e o dólar se valorizou ao longo do ano, aumentando as receitas dessas companhias que faturam em moeda estrangeira.

Os índices de matérias-primas e industrial são impactados pelo ciclo econômico global. As empresas que exploram esses mercados se beneficiam de preços mais elevados. E ainda se beneficiam do dólar valorizado.
Rafael Antunes, sócio da Inove Investimentos

Indústria também ganha com exportadoras

O desempenho do INDX, que reúne ações de indústrias, alcançou variação positiva também graças às exportadoras.

Papéis de companhias como a Braskem, do setor petroquímico, a Marfrig, produtora de carnes, a Metalúrgica Gerdau, ou a fabricante de aeronaves Embraer apresentaram variações positivas em 2021.

BDRs ajudados por dólar e economia internacional

Assim como as exportadoras, os BDRs (Brazilian Depositary Receipts, na sigla em Inglês), recibos de ações de empresas estrangeiras, também são destaques positivos na Bolsa brasileira em 2021.

A economia americana mais forte que a brasileira e o dólar valorizado ao longo de todo o ano alimentaram a valorização dos BDRs mais negociados no Brasil e sustentaram a variação positiva do BDRX.

Empresas que dependem da economia local caíram mais

As empresas que dependem mais do consumo doméstico apresentaram um desempenho predominantemente negativo em 2021, afetando o comportamento dos índices que acompanham esses setores.

Esse cenário foi ainda mais evidente para as empresas que dependem do consumo presencial. São as companhias que foram mais impactadas pelas restrições às atividades em meio à pandemia.

Esse quadro adverso explica as variações negativas dos índices de ações dos setores de consumo, imobiliário e mesmo financeiro.

A alta da inflação e dos juros também impactou negativamente as empresas que integram esses índices.

Algumas empresas de tecnologia e de comércio digital vinham se valorizando quando foram pegas no contrapé com a alta dos juros e com as preocupações com a inflação.
Rafael Antunes, sócio da Inove Investimentos

Cenário para 2022 parecido com 2021

Segundo profissionais de mercado, a Bolsa em 2022 tem mais risco de repetir o comportamento instável de 2021 do que potencial para retornar aos ganhos apurados até 2019. Veja os motivos.

Consumo doméstico sob pressão: A inflação deve seguir alta pelo menos ao longo de todo o primeiro semestre, os juros vão subir mais, até perto de 12%, antes de começarem a cair, e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país vai ficar perto de zero, com risco até de ser negativo.

Além das projeções pessimistas para a economia brasileira, profissionais de mercado destacam ainda fatores negativos que podem surgir no ambiente político. Com as eleições presidenciais no último trimestre de 2022, existe o risco de aumentar a procura pelo dólar e diminuir o interesse de aplicadores locais e estrangeiros pela Bolsa.

Nesse ambiente, as empresas que dependem do consumo doméstico continuarão enfrentando dificuldades para aumentar receitas e lucros.

Mesmo que o faturamento dessas empresas cresça, o aumento dos custos em reais por causa da inflação e do dólar ameaça estreitar as margens de lucro e, portanto, dos dividendos dos acionistas.

A combinação de atividade econômica desacelerando e inflação e juros em alta se refletiu sobre a performance desses setores. Afinal são fatores que atuam diretamente sobre o poder aquisitivo dos consumidores, o que prejudica os negócios dessas empresas.
Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA Investimentos

Exportadoras em melhor ambiente: Para as exportadoras, as expectativas dos analistas são de manutenção das vendas e das margens de lucro. O dólar valorizado ao redor dos R$ 5,50 e a economia global crescendo mais que a brasileira devem alimentar o desempenho positivo de exportadoras e de produtoras de matérias-primas.

Esse cenário abre espaço para que os índices Imat e INDX tenham maior potencial de valorização em 2022 que o Ibovespa e que índices de ações de empresas dependentes da demanda doméstica.

Ibovespa e ações que caíram muito podem surpreender

Profissionais de mercado alertam entretanto que o aplicador precisa colocar um outro fator nas contas antes de investir.

A queda do Ibovespa e de outros índices em 2021 reflete ações que estão sendo negociadas com descontos em relação aos preços históricos desses ativos e ainda em comparação aos fundamentos dessas empresas.

É bom lembrar que a Bolsa vive de expectativas. Assim, hoje os preços já embutem um cenário difícil. Se em 2022 houver alguma reversão de expectativas, em algum momento, o mercado poderá mostrar reversão dessa tendência.
Alexsandro Nishimura, sócio da BRA Investimentos

Isso quer dizer que, se o cenário econômico e político for mais positivo em 2022 do que o esperado, existe espaço para uma reação dessas ações.

Começamos 2022 com situação econômica complicada, com quadro fiscal deteriorado, previsões fracas para PIB, inflação ainda acima da meta e expectativa de juros perto de 12%. Mas muitas empresas de certo forma já se prepararam para esse quadro, reduzindo custos, trocando endividamento por financiamentos mais baratos e com mais dinheiro em caixa.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais

Os rumos da Bolsa em 2022 variam conforme as projeções assumam contornos mais ou menos otimistas.

No relatório do estrategista de ações da Santander Corretora, Ricardo Peretti, por exemplo, o Ibovespa termina 2022 em 125 mil pontos.

Mas, se o ambiente macroeconômico e político for mais positivo, o indicador pode ir a 155 mil pontos. Se o quadro se deteriorar em relação a 2021, o indicador deve ficar ao redor de 100 mil pontos.

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