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Em pouco mais de um mês, ação do Nubank cai 20%; o que aconteceu?

Em 9 de dezembro de 2021, as ações da Nu Holdings, holding do grupo Nu, passaram a ser listadas na Bolsa de Nova York - Reprodução/Twitter @NYSE
Em 9 de dezembro de 2021, as ações da Nu Holdings, holding do grupo Nu, passaram a ser listadas na Bolsa de Nova York Imagem: Reprodução/Twitter @NYSE

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

28/01/2022 04h00

Após a euforia ao entrar no mercado de ações, o Nubank tem enfrentado uma forte desvalorização. A ação da empresa caiu 20% em relação ao preço definido em sua estreia na Bolsa de Nova York, em 9 de dezembro. Na data, o banco digital vendeu papéis a US$ 9, mas na terça-feira (25) a cotação havia caído para US$ 7,20.

O que tem influenciado a queda do Nubank no mercado? É possível que haja uma reviravolta neste cenário? Para responder a essas e outras dúvidas, leia abaixo a opinião de especialistas entrevistados pelo UOL.

O sucesso do roxinho

Em poucos anos, o Nubank se tornou um modelo bem-sucedido de banco digital. Com a grande expansão da carteira de clientes, os fundados do "roxinho", como é conhecido devido à cor do logo, viram que era a hora de abrir capital.

Em 9 de dezembro de 2021, as ações da Nu Holdings —holding do grupo Nu (símbolo NU), líder do grupo Nubank— passaram a ser listadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Simultaneamente, na Bolsa brasileira, começaram a ser negociados os BDRs (as Brazilian Depositary Receipts, ou recibos de uma ação negociadas em outro país), sob o símbolo NUBR33.

Por que as ações do Nubank estão caindo

A entrada do banco digital no mercado de capitais (chamada de IPO) causou euforia. No dia de estreia na NYSE, a valorização foi de 14,78%, com o papel cotado a US$ 10,33 no final do dia. Mas o valor do papel vem caindo.

Com os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) não foi diferente. A desvalorização acumulada do lançamento até 24 de janeiro foi de 33,67%.

A queda causou desconforto entre os acionistas, mas mostra o que muitos especialistas que acompanham o banco de perto já esperavam: não seria possível se sustentar numa faixa de preço tão alta, como a vista no IPO, por muito tempo.

Danielle Lopes, sócia e analista de Ações da Nord Research, explica o que tem influenciado negativamente nos papéis do "roxinho". Segundo a executiva, há tanto questões macroeconômicas quanto particularidades do Nubank influenciando a cotação.

No exterior, tem pesado a alta da inflação de forma global, com os EUA enviando sinais de que vão continuar a subir os juros em 2022 —e isso afeta o mercado de ações, com maior impacto em algumas empresas.

Como diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, as ações de tecnologia e fintechs listadas nos EUA e no Brasil foram mais penalizadas com a perspectiva de juros mais altos nos dois países.

Isso acontece porque são setores que precisam captar recursos para manterem o crescimento em ritmo acelerado —o que, em momentos de juros mais altos, reflete negativamente nos balanços dessas companhias.

Usualmente, bancos acabam sendo beneficiados por um resultado financeiro forte em momentos como esses [de alta de juros], mas o Nubank ainda não é lucrativo. Então, o lado do aumento da inadimplência, com juros mais altos, deve prevalecer.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus, situações como essa penalizam a Bolsa como um todo —principalmente as ações que estão muito caras e que ainda estão caminhando para um cenário lucrativo, no futuro.

Assim como a executiva da Nord Research, Larissa também esperava por uma desvalorização. Na época da estreia, a especialista não recomendou a compra dos papéis por considerar "exagerado" o seu valuation —processo no qual se estima o valor de uma empresa, e são determinados o seu preço justo e o retorno de um investimento em suas ações.

O que estava implícito no valor do Nubank é que ele se tornaria o maior banco da América Latina em pouco tempo. Os investidores pagaram por isso na frente, na época do IPO. O Nubank foi listado valendo R$ 270 bilhões, mais do que o Itaú, a R$ 215 bilhões, que naquela ocasião era o maior banco da América Latina. Achamos o valuation exagerado, mas como é um nome que chama muito a atenção internacionalmente, o IPO acabou saindo nesse preço.
Larissa Quaresma, analista da Empiricus

Ações do Nubank: comprar ou não comprar?

Hoje, Danielle, da Nord Research, acredita que não vale a pena comprar ações do Nubank devido a diversos fatores. São eles: a falta de perspectiva quanto à melhora de seus resultados; a redução dos custos; a monetização da sua base de clientes; e a geração de lucro. "Por consequência, não há a perspectiva de recuperação de preço da ação", diz.

Para o estrategista da RB Investimentos, a decisão de comprar ações do Nubank depende de qual o prazo de lucros que o investidor tem em mente.

O Nubank ganha participação de mercado a cada ano, mesmo enfrentando gigantes do setor. Para o longo prazo, [compras ações da empresa] parece interessante. Já para o curto prazo acredito que não.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

"A empresa foi avaliada em um preço alto no IPO, o que cria uma pressão extra inicial. Ao decidir atrair muitos investidores de primeira viagem com sua inovadora forma de oferecer o IPO para clientes, o Nubank acabou conseguindo a adesão de uma parte que não possui o perfil de risco para ter ações e agora está desconfortável com a oscilação", afirma Cruz.

Já a analista da Empiricus acredita que o BDR deva cair ainda mais, chegando a um preço justo em torno de R$ 2 —ou seja, a queda pode ser de mais de 50% em relação ao valor atual.

Tenho ações do Nubank, e agora?

Quem tem ações do Nubank, sugere Danielle, deve procurar a área de relações com investidores do banco para saber se existe uma perspectiva para o crescimento.

Ela recomenda, no entanto, a venda desses papéis e a sua substituição na carteira de investimentos por ativos brasileiros que já apresentem bons resultados, como têm feito os investidores estrangeiros.

"É difícil vender com perda, mas o prejuízo pode ser abatido com lucros futuros, [ou seja,] comprando uma ação que apresente crescimento de fato. Para reduzir essas perdas, o recomendado é sempre olhar se a empresa está crescendo ou não",

Já o executivo da RB Investimentos recomenda cautela a quem pensa em se desfazer dos papéis do banco digital. "Me parece um pouco precipitado pela proximidade [de agora com a data] do IPO. Existiram empresas brasileiras que realizaram IPO sem ter tamanho e estrutura adequada. Esses, sim, são papéis realmente mais preocupantes de se carregar. Não é o caso do Nubank", afirma.

Do ponto de vista do mercado, o Nubank terá de acelerar em algumas frentes, segundo Cruz."A resposta para reverter o quadro é utilizar bem os recursos captados com o IPO e seguir crescendo em um ritmo interessante. A base de clientes está em um bom tamanho e os recursos sob custódia também, mas ainda falta explorá-los melhor, inclusive sob o aspecto de investimentos. Movimentos de internacionalização também devem ser acompanhados".

O Nubank foi procurado pelo UOL, mas não quis comentar.

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