Você não deveria aplicar em poupança ao menos até 2024, dizem especialistas
Esta é a versão online para a edição desta quinta-feira da newsletter UOL Investimentos. Para assinar este e outros boletins e recebê-los diretamente no seu email, cadastre-se aqui.
A taxa básica de juros Selic vem subindo há mais de um ano, saltando de 2%, em março de 2021, para 11,75% após o último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central —o maior patamar desde maio de 2017. Essa alta favorece a renda fixa, já que muitas aplicações dessa categoria acompanham os juros. Mas esse não é o caso da poupança, que tem ficado cada vez mais para trás em relação a opções como Tesouro Selic, LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e fundos de renda fixa.
Esse cenário vai continuar pelo menos até o começo de 2024, quando a taxa básica de juros Selic deve voltar a valer menos de 8,5%, segundo previsões de analistas. Até lá, eles afirmam que o ganho da poupança cairá em relação a outras aplicações de renda fixa. Veja abaixo por que isso acontece e o que o investidor deve fazer.
Por que a poupança está perdendo espaço?
O ganho da poupança passou a ficar menor que o de outros investimentos em renda fixa depois que a taxa básica de juros superou os 8,5% ao ano. A partir desse ponto começa a valer uma fórmula de cálculo que praticamente congela o desempenho da caderneta, enquanto as outras opções de renda fixa seguiram acompanhando os juros.
A fórmula de cálculo da poupança mudou no dia 8 de dezembro passado, quando o Banco Central elevou a Selic de 7,75% para 9,25% ao ano.
Quando a Selic vale até 8,5%, a poupança rende o equivalente a 70% dessa taxa básica de juros. Por exemplo, se a Selic está em 8,5% ao ano, a caderneta rende 5,95%. Até esse patamar de juros, sempre que a Selic sobe, a poupança acompanha —como acontece com as outras aplicações de renda fixa pós-fixadas, como Tesouro Selic, LCIs, CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e Fundos DI.
Mas a partir do momento em que a Selic ultrapassa os 8,5%, a poupança passa a render 0,5% fixo ao mês, mais a variação da TR (Taxa Referencial), que é baixa.
Na prática, a poupança parou de acompanhar a Selic. Ou seja, deixou de aproveitar toda a alta que os juros tiveram desde dezembro passado.
A poupança nunca foi um bom investimento, mas agora piorou ainda mais. O rendimento da poupança trava nos 0,5% ao mês e não entrega mais que isso. Tem a TR, mas que é quase zero.
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos
Ganho da poupança está cada vez menor
A poupança já estava rendendo menos que as demais aplicações em renda fixa antes da mudança da regra. Mas essa diferença vem aumentando a cada alta da Selic. Mesmo sem pagar Imposto de Renda (IR), a caderneta tem entregado cada vez menos.
Veja abaixo quanto rendem R$ 1 mil aplicados por um ano na poupança, no Tesouro Selic, em LCIs e em fundos DI (renda fixa pós-fixada), considerando a alíquota de IR de 17,50% para aplicações tributadas.
Vale ressaltar que poupança e LCIs não pagam Imposto de Renda. No caso dos fundos DI, foi feita uma simulação com taxa de administração de 0,5%.
Com Selic a 8,5%
- Poupança: R$ 59,50
- Fundos DI: R$ 65,65
- Tesouro Selic: 70,13
- LCI (a 100% do CDI): R$ 85,00
Com Selic a 9,25%
- Poupança: R$ 63,10 (TR de 0,136%)
- Fundos DI: R$ 84,12
- Tesouro Selic: R$ 88,69
- LCI (a 100% do CDI): R$ 92,50
Com Selic a 11,75%
- Poupança: R$ 63,20 (TR de 0,150%)
- Fundos DI: R$ 92,32
- Tesouro Selic: R$ 96,94
- LCI a 100% do CDI: R$ 117,50
Se Selic for a 12,75%
- Poupança: R$ 62,80 (TR de 0,109%)
- Fundos DI: R$ 100,54
- Tesouro Selic: R$ 105,19
- LCI (a 100% do CDI): R$ 127,50
Quando a Selic continuou subindo, a poupança continuou rendendo 0,5% ao mês enquanto os ganhos de outras opções de renda fixa, como Tesouro Selic, continuaram se aproveitando da alta da Selic.
Theo Linero, planejador financeiro pela Planejar
R$ 1 trilhão na poupança
Os brasileiros têm muito dinheiro na poupança. Segundo dados do Banco Central, as contas da caderneta somam R$ 1 trilhão. Isso representa cerca de 22% do total aplicado em investimentos no país, de R$ 4,5 trilhões.
Consultores financeiros dizem que o apelo da caderneta é grande por causa da tradição dessa aplicação, da simplicidade do produto para a pessoa aplicar e resgatar, e porque muitas vezes o correntista deixa o dinheiro aplicado automaticamente mesmo.
Mas o investidor pode aproveitar a oportunidade dada pelos juros elevados este ano para buscar alternativas que oferecem as mesmas características que a poupança em termos de liquidez (possibilidade de resgate do dinheiro sem prejuízos) e segurança, mas que rendem mais, dizem os especialistas consultados pelo UOL.
Essa dica vale também para quem usa a poupança para a reserva de emergência —ou seja, aquele dinheiro que não pode correr riscos e que pode ser sacado a qualquer momento para cobrir imprevistos.
Nesse caso, o poupador pode aplicar no Tesouro Selic, LCIs, CDBs e fundos com liquidez diária, dizem profissionais ouvidos pelo UOL.
Para reserva de emergência não é para o aplicador buscar grandes rendimentos. Mas ele precisa, ao menos, proteger o dinheiro da inflação. Das opções com liquidez e baixo risco, o Tesouro Selic é, para mim, o produto que acompanha mais de perto a alta dos juros.
Rachel de Sá, da Rico Investimentos
4 cuidados antes de mexer na poupança
A poupança tem perdido cada vez mais de suas concorrentes diretas na renda fixa. Mas o investidor deve prestar atenção em alguns pontos antes de transferir o dinheiro para "não acabar trocando o ruim pelo pior", de acordo com os analistas.
Veja no que tomar cuidado:
1. Liquidez: é preciso checar se os fundos DI e CDBs têm mesmo liquidez diária. No caso das LCIs, mais ainda, porque esse produto só têm liquidez diária após três meses.
2. Impostos: o investidor precisa colocar na conta que as aplicações que pagam imposto têm alíquotas maiores para resgates mais curtos. Saques em até seis meses pagam 22,5%, e saques antes de um ano pagam 20%.
3. Risco do emissor: nos casos de CDBs e LCIs, o investidor precisa avaliar o risco do emissor desses títulos. No caso, a instituição financeira que vende esses papéis é a responsável pelo pagamento do rendimento junto com o capital inicial aplicado. Se esse emissor falir, o investidor terá dor de cabeça para receber, porque dependerá do processo de pagamento do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
4. Taxas dos fundos: no caso dos fundos de renda fixa que acompanham a Selic, o investidor deve ficar atento à taxa de administração. Uma taxa de 0,5% já é considerada salgada. "Então, acima disso, nem pensar", dizem os profissionais de mercado.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.