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O que os juros nos EUA têm a ver com seu dinheiro e o que você pode fazer?

Como as decisões do Fed, o Banco Central americano, podem impactar os seus investimentos aqui? Veja o que fazer - Getty Images
Como as decisões do Fed, o Banco Central americano, podem impactar os seus investimentos aqui? Veja o que fazer Imagem: Getty Images

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

16/06/2022 04h00

A cada mudança na direção sinalizada pelo Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed), agentes do mercado financeiro, formuladores de política econômica dos governos e investidores a analisam com muito cuidado.

A atenção é redobrada quando os anúncios vêm do Fomc, sigla em inglês para Comitê Federal de Mercado Aberto. É como o Copom no Brasil. Ele é vinculado ao Fed (banco central dos EUA) e decide questões como a taxa básica de juros. Na quarta-feira (15), ele aumentou os juros nos EUA em 0,75 ponto. Mas o que os juros americanos têm a ver com seu dinheiro e seus investimentos? E o que você deve fazer diante dos cenários da economia dos EUA?

O peso da economia globalizada

As decisões do comitê americano têm impacto na economia brasileira e até no bolso dos investidores. "Pesa o fato de termos uma economia global e de a economia americana, em caso de crise, representar solidez e segurança", afirma Fabrizio Velloni, economista-chefe na Frente Corretora de Câmbio.

Como diz Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, o sistema financeiro global é completamente conectado entre os países. Além disso, o fluxo financeiro é muito maior que o fluxo de bens e serviços entre os países. O peso dos EUA nesse cenário é ainda maior que de outros países. "Os EUA, como maior economia e com o sistema financeiro mais liberalizado, são um grande importador de finanças, pois o capital flui para o mercado americano", declara.

Por causa do peso dos EUA na economia global, os investidores internacionais buscam oportunidades cada vez que é anunciada uma alta da taxa básica de juros americana.

Confiança na economia dos EUA atrai investidores

Os juros nos EUA passaram para uma faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano. No Brasil, agora a Selic (juro básico) está em 13,25%. Por menor que seja a taxa americana na comparação com a brasileira, ela é atraente por causa da confiança que os investidores internacionais têm na economia americana.

Por isso, cada vez que o Fomc se reúne e anuncia uma taxa mais alta, o que se vê é uma migração de dinheiro dos mercados emergentes para os EUA.

Quando os juros americanos aumentam, diz Velloni, aumenta a remuneração em uma economia mais segura. No Brasil, a taxa de juros é maior, mas o risco é mais elevado.

Se os investidores internacionais tiram o dinheiro aplicado no Brasil e levam para os Estados Unidos em busca de uma melhor remuneração e mais segurança, o efeito imediato é uma pressão sobre o real, que se desvaloriza em relação ao dólar.

"Um aumento dos juros nos EUA, mantendo todas as demais condições constantes, pode acarretar fuga de capitais nas demais regiões do mundo, especialmente nos países emergentes, como é o caso do Brasil. Um movimento de taxa de juros nos EUA, considerando a realidade brasileira, pode resultar em uma desvalorização da moeda local", diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

Aumento de inflação no Brasil

Ele também lembra que esse fluxo de dinheiro do Brasil para os EUA pode fazer com que a inflação doméstica aumente, uma vez que, com o dólar mais caro, produtores nacionais têm gastos maiores com importação e tendem a repassar esse aumento nos preços para o consumidor final.

Sobem os preços de insumos usados na produção de vários itens, como o trigo usado no pão francês ou o chip no carro.

"Os juros mais altos nos EUA comprometem a condição financeira por aqui. A Bolsa cai e há uma pressão inflacionária por causa do câmbio", declara Candido.

Por outro lado, dólar alto é uma boa notícia para empresas exportadoras, que têm sua receita atrelada à moeda americana.

Atenção para quem investe em ações

Para quem investe em ações na Bolsa, é hora de ficar de olho. Segundo Nicolas Silva, head de Investimentos da CM Capital, de alguma forma todas as classes de ativos sofrem algum impacto com as decisões do Fed.

Com a elevação da taxa de juros americana, há setores que sofrem mais, como os de consumo e varejista, que já estão com grandes perdas. É o caso da Magazine Luiza, com uma queda acumulada no valor das ações de 64,27% desde o início de 2022.

"O setor de tecnologia também tem um maior impacto, assim como está ocorrendo na Nasdaq, devido à necessidade de muito investimento e uma maior exposição ao risco. Por esse motivo, investidores tendem a migrar para setores ou investimentos mais seguros. Outros setores também poderão apresentar maiores volatilidades, como o de commodities, que sofre impacto de demanda e taxas de câmbio", afirma Silva.

Como o investidor deve se comportar

Não são só as ações em Bolsa que devem ser afetadas. Como o sistema financeiro é conectado, qualquer decisão do Fed influencia todas as classes de ativos, como as investimentos em fundos, câmbio e ações.

Em momentos como o atual, de incertezas, Camila Abdelmalack economista-chefe da Veedha Investimentos, recomenda cautela e diz que não existe uma "receita única" para preservar o patrimônio. "Depende do perfil de risco e dos objetivos do investidor. Não é o momento de tomar grandes decisões", afirma a especialista da Veedha.

Ainda segundo Camila, em um contexto de mercados muito depreciados, abrem-se oportunidades para os investidores que podem garimpar ativos que estão muito baratos.

"Mas os sinais são de que estamos para enfrentar um momento de turbulência. Quem tem uma carteira mais diversificada provavelmente não vai sentir tanto como quem tem uma concentração em uma determinada classe de ativos", diz.

Candido, economista-chefe da RPS Capital, diz que é possível ganhar dinheiro mesmo com as condições desfavoráveis no mercado financeiro interno. Mas o especialista faz um alerta: "Se a pessoa comum vai ganhar dinheiro é outra questão."

Uma forma de tentar obter ganhos mesmo em períodos instáveis, segundo ele, é recorrer a fundos de retorno absoluto. Nesses ativos, a estratégia de investimento é a busca de lucros constantes, aproveitando oportunidades pontuais sem perder de vista o foco de longo prazo.

Com isso, o gestor do fundo pode trocar a estratégia de curto prazo e assim obter melhores resultados em um momento de distorções do mercado -por exemplo, quando um ativo, seja uma ação ou um indexador econômico, está muito abaixo ou muito acima da expectativa.

No entanto, existe o risco de o gestor errar na escolha, e o investidor amargar resultados ruins.

Ele aconselha a quem tem ações na Bolsa que fique com elas até que as condições internas sejam mais favoráveis e os preços se recuperem antes de vender.

"Vale lembrar que a pessoa física deve ter em mente que os investimentos são de longo prazo, ou seja, não dá para girar a carteira todo mês", afirma.

Com a expectativa de desvalorização do real, o especialista sugere deixar uma pequena parte da carteira atrelada ao mercado internacional e manter a maior parte em renda fixa tradicional pós-fixada.

Com a taxa de juros chegando ao pico no Brasil, segundo Velloni, economista-chefe na Frente Corretora de Câmbio, a opção para o investidor é procurar oportunidades na renda fixa prefixada.

No futuro, quando a Bolsa recuar mais e chegar à faixa dos 90 mil pontos, Velloni acredita que seja a hora de buscar algumas oportunidades para comprar ações, levando-se em consideração segmentos que tenham expectativa de crescimento.

"Com a subida dos juros, os que mais sofrem são os varejistas, que podem ser punidos pela falta de produtos e o custo de crédito elevado. Mas no reaquecimento o que se espera é uma reação", declara Velloni.

O especialista descarta Petrobras, por causa da instabilidade do petróleo, e a Vale, por causa do valor do minério de ferro.

Para o mercado de Bolsa, setores como os de transmissão e saneamento agem como porto seguro em ambientes incertos e de volatilidades. Por isso, podem gerar boas oportunidades para os investidores, diz Silva, head de Investimentos da CM Capital.

Silva também diz que, com alta das taxas de juros, o investidor brasileiro tende a migrar seus recursos para investimentos de renda fixa, com taxas prefixadas de longo prazo ou até mesmo utilizar esses investimentos como proteção contra a inflação com títulos pós-fixados atrelados ao IPCA.

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