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Como investir em ações de fora e receber em dólar? É vantajoso?

Quer receber dividendos em dólar? Veja as opções de investimento para este objetivo - Getty Images/iStockphoto
Quer receber dividendos em dólar? Veja as opções de investimento para este objetivo Imagem: Getty Images/iStockphoto

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

04/07/2022 04h00

Com a valorização do dólar ante o real, investir para receber em moeda estrangeira se torna mais atraente. Como diz Vinicius Steniski, analista da TC Matrix, para receber dividendos de empresas estrangeiras, é possível investir em ações de empresas estrangeiras, fundos imobiliários americanos e empresas que estão fora dos Estados Unidos.

As opções são muitas, mas é necessário ficar de olho na tributação que vai ser paga em cima desses rendimentos e no câmbio, que deve ser impactado com a ameaça de recessão nos Estados Unidos. Veja abaixo as opções e o que é necessário considerar antes de investir.

São diversas as opções

Uma opção são os REITs (Real Estate Investment Trust), como são chamados os fundos imobiliários americanos.

Também é possível investir em empresas brasileiras que tenham ações lá fora. Os ADRs (sigla para American Depositary Receipt, ou Recibo de Depósitos Americano) também pagam dividendos nos Estados Unidos. É o caso, por exemplo, de empresas como a Vale, segundo William Castro Alves, economista-chefe da Avenue.

O ADR é um título americano lastreado em ações de empresas estrangeiras, ou seja, um certificado negociado internamente na Bolsa de valores americana, representando uma ou mais ações de uma companhia fora dos Estados Unidos.

O investimento com o objetivo de receber dividendos em dólar pode ser feito também por meio da compra de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) nas corretoras brasileiras. É possível ainda comprar diretamente o ativo. Para isso, é necessário abrir uma conta em uma corretora em outro país.

Caso o investidor já esteja na fase de buscar renda para viver com base em seus ganhos, diz Braz, renda em dólares é uma opção ótima e certamente vantajosa no longo prazo em relação à renda em reais.

De olho nos dividendos

Outra opção muito popular, além do investimento direto em ações, é a escolha de ETFs (Exchange Traded Fund, ou fundo de fundos) focados em empresas que são boas pagadoras de dividendos, como o VYM (Vanguard High Dividend Yield ETF), e o DGRO (iShares Core Dividend Growth ETF), que investe apenas em companhias cujo pagamento de dividendos vem crescendo regularmente, diz Rodrigo Lima, analista de Investimentos e editor de conteúdo da Stake.

Esses fundos olham para um índice específico, o dividend yield, que que mede o rendimento de uma ação apenas com o pagamento de dividendos. Einar Rivero, gerente de Relacionamento Institucional da Economatica, calculou a pedido do UOL quais foram as dez empresas americanas que mais pagaram DY nos últimos dois anos.

O ranking é liderado pela Macquarie Infrastructure Corp, que na mediana dos dois anos (até 24 de junho de 2022) rendeu aos acionistas o valor de 66,86%. Ou seja, quem tinha US$ 100 em ações ganhou mais US$ 66,86 apenas com os proventos, fora o desempenho do valor dos papéis no período.

Sócio da Urca Capital Partners, Caio Braz afirma ser vantajoso ter os dividendos de empresas estrangeiras como estratégia, dependendo do que se busca.

"É vantajoso no sentido de que o investidor pode utilizar desse recurso para reinvestimento e ajuste da carteira, caso ele esteja na fase de acúmulo de patrimônio. Empresas que não distribuem dividendos não são necessariamente desvantajosas, porém não dão essa possibilidade de reinvestimento do capital com uma porção do ganho apurado", afirma.

Porém, não há unanimidade quando se trata em investir em empresas pagadoras de dividendos em dólar. Felipe Arrais, especialista de Investimento no Exterior da Spiti, acha que essa decisão não é vantajosa para quem aplica. Primeiro, porque a taxação é de quase 30% direto na fonte.

Além disso, Arrais aponta o fato de nem sempre os bons pagadores de dividendos são as empresas com melhor performance na Bolsa, já que costumam ser companhias já estabilizadas em seus mercados. Elas geram caixa, mas não têm um grande potencial de crescimento. Por isso, recomenda, o investidor deve ter nos proventos apenas uma parte da sua estratégia de renda. "Dividendo deve ser uma pequena parte do todo, não o único objetivo."

Quem mais paga dividendos

Veja as ações que mais pagam dividendos nas bolsas nos Estados Unidos, de acordo com levantamento da Economatica, em média dos últimos dois anos:

  • Macquarie Infrastructure Corp (MIC) - 66,86
  • Big 5 Sporting Goods Corp (BGFV) - 46,1
  • Patriot Transportation Holding, Inc (PATI) - 34,45
  • American Financial Group, Inc (AFG) - 24,51
  • Tredegar Corp (TG) - 23,44
  • B. Riley Financial, Inc (RILY) - 23,12
  • Qurate Retail, Inc (QRTEA) - 21,4
  • Qurate Retail, Inc (QRTEB) - 21,12
  • Onemain Hldg Inc (OMF) - 20,49
  • Shenandoah Telecommunications Company (SHEN) - 19,34

Há uma diferença

Segundo o analista da TC Matrix, os dividendos recebidos são em reais no caso de BDRs e em dólar se investir diretamente no exterior.

O investimento em empresas estrangeiras pode ser feito a partir de qualquer plataforma de investimento no exterior. Os dividendos são recebidos em dólar na conta da corretora, sem a necessidade da abertura de contas bancárias no exterior.

Cuidado com os impostos

Em relação aos tributos e taxas, é importante estar ciente das leis de cada país quando se investe diretamente, afirma Steniski. Nas BDRs, existe uma faixa de isenção de impostos para dividendos mensais recebidos de até R$ 1.903,98. Acima disso, há pagamento de impostos, com teto de 27,5% para dividendos acima de R$ 4.664,68.

"Caso exista um acordo de bitributação e reciprocidade de tratamento, é possível compensar a tributação feita no outro país no Imposto de Renda do Brasil. Os Estados Unidos são um exemplo de país que tem acordo, e os tributos em cima dos dividendos podem ser amortizados", diz o analista da TC Matrix.

Quando o investidor recebe dividendos pagos no exterior por ações, REITS, ADRs e ETFs, deve recolher todos os meses o carnê-leão, o imposto sobre a renda que deve ser pago mensalmente, de forma obrigatória, pelas pessoas físicas, residentes no Brasil, que receberem rendimentos de outra pessoa física ou do exterior.

Para isso, basta acessar o centro virtual de Atendimento (Portal e-CAC), no site da Receita, selecionar a opção Meu Imposto de Renda, depois Declarações e, em seguida, Acessar Carnê Leão.

No entanto, como os dividendos já são tributados em quase 30% na fonte, não há cobrança dupla de impostos, não cabendo ao investidor recolher impostos sobre os dividendos recebidos nos EUA.

O analista de Investimentos da Stake afirma que, como nos EUA os dividendos são tributados em 30% na fonte, muitas companhias optam por remunerar seus acionistas por meio da recompra de ações.

Por isso, possivelmente é melhor que o investidor utilize o "shareholder yield" —indicador que mostra o quanto uma empresa pode remunerar seus acionistas em relação ao seu valor de mercado considerando dividendos, recompra de ações e redução de dívidas— para selecionar companhias para investir. Assim, segundo Lima, é possível obter uma visão um pouco mais clara da remuneração que a empresa está oferecendo aos seus acionistas, não apenas por meio de dividendos.

A dica é começar com calma

Quem pretende investir de olho no desempenho das empresas americanas não deve adotar uma estratégia muito arrojada logo de cara. Steniski diz que não existe um "número mágico", já que cada investidor traz diferentes características e objetivos.

Para quem está começando, o especialista sugere ter como objetivo alcançar os primeiros 10% do capital total investido em ativos cotados em moeda forte.

Lima, da Stake, concorda que o percentual do aporte depende do perfil do investidor, mas particularmente gosta de alocações na faixa de 20% a 30% em ativos dolarizados, sejam eles ações, ETFs ou até mesmo ativos reais como o ouro e o dólar em caixa. Isso porque o dólar é a principal moeda de troca e reserva de valor internacional.

Crise global

"Em um cenário de recessão global, pode-se dizer que todos os países serão afetados, pois é um risco sistemático. Por outro lado, você pode ter um desempenho superior por aportar em moeda forte e essa se valorizar frente ao real, favorecendo o investimento em vez de ter uma alocação em uma moeda somente", afirma Steniski.

Braz diz ainda que uma recessão costuma trazer mais volatilidade, o que por muitas vezes é confundida com risco. Para a compra de bons ativos com foco no longo prazo, o melhor momento de compra, na visão do especialista, é quando os mercados estão mais estressados. O percentual de alocação, no entanto, depende do perfil de cada investidor.

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