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Bolsa ganha 17% em um mês, e Magalu sobe 45%: o que aconteceu?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/08/2022 10h00

Nos últimos 30 dias, o Ibovespa, índice da Bolsa de Valores de São Paulo já subiu 16,79%. Só em agosto (do dia 1 a 12), as ações acumulam uma alta de 9,31%, segundo levantamento da Economatica.

Os investidores estrangeiros parecem ter voltado: somente no dia 10 de agosto, eles injetaram R$ 1,64 bilhão na Bolsa. Com isso, o ponteiro do investimento vindo de fora para a B3 voltou ao azul, com R$ 61,19 bilhões no ano. No mês, há um superávit de R$ 7,43 bilhões.

Com tudo isso, a pergunta que fica é: a maré mudou e as ações vão continuar se valorizando? Ou é só um movimento pontual, algo momentâneo? Veja abaixo o que dizem analistas consultados pelo UOL.

A maior parte dos analistas acha que esse é um movimento de curto prazo. "O mercado é exagerado e dramático: quando é para cair, cai muito e quando sobe, vai que vai", diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

O que mudou no cenário econômico? Ele explica que o que fez a Bolsa sair da recente maré de perdas, que afetava o mercado desde abril, foi principalmente a inflação mais amena, provocada pela mudança no preço dos combustíveis.

Na semana passada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho veio negativo, com queda de 0,68% na comparação com junho. É a maior deflação desde o início da série histórica, em janeiro de 1980.

Isso aconteceu basicamente por conta do desconto de impostos na comercialização de combustíveis e também pela redução do preço do petróleo internacionalmente.

Hoje, por exemplo, os preços do petróleo caíram para o nível mais baixo desde antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em fevereiro. A última queda levou o preço do barril de petróleo Brent chegar a US$ 92,78. Após Vladimir Putin ordenar o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o barril chegou a custar US$ 104.

Por isso, a Petrobras informou nesta segunda-feira (15) que vai reduzir o preço da gasolina vendida às distribuidoras em 4,85%. A partir de hoje, o preço do litro para as distribuidoras passará de R$ 3,71 para R$ 3,53 por litro, uma redução de R$ 0,18 por litro.

Com isso, a inflação cai. Essa queda ainda está muito atrelada ao preço dos combustíveis, mas já anima os investidores.

E quanto tempo a boa maré da Bolsa vai durar? A expectativa é de que, com o preço da gasolina, do álcool e do diesel caindo, em seguida o preço dos alimentos comece a baixar também. Os aluguéis podem seguir o mesmo caminho, diz Moliterno. É essa perspectiva que tem ajudado principalmente as empresas de varejo na Bolsa.

"Se nada mais interferir nesse processo, a inflação deve sim continuar caindo e as expectativas para a Bolsa seriam boas", diz ele.

Ontem, 15, as empresas de varejo dispararam na Bolsa. A Americanas (AMER3) subiu 18,29%, a Via (VIIA3), dona das Casas Bahia, disparou 14,47%, e Magazine Luiza (MGLU3) subiu 12,85%. Essas ações estavam entre as maiores altas do dia. Em um mês, Americanas caiu 7%, Via subiu 51,67% e Magalu subiu 45,32%.

E os juros, também interferem na Bolsa? O Banco Central já sinalizou, por meio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que a Selic, a taxa básica de juros e que hoje está em 13,75%, está perto do pico. Na reunião de setembro, a autoridade monetária deve decidir pela manutenção da taxa ou por uma alta pequena.

Que ações são mais beneficiadas? A sinalização de que os juros não vão mais subir tanto impacta diretamente ações de consumo, de tecnologia e as chamadas small caps, as pequenas empresas, diz ele. Essas companhias são beneficiadas quando os juros estão menores porque elas precisam de investimento para crescer.

Uma delas, por exemplo é a rede de produtos para pets, Petz (PETZ3), que teve alta de 21% desde o começo do mês, chegando a R$ 11,89. "O mercado gosta de antecipar os movimentos e como as ações estão com preços muito baixos, acontece essa recuperação agora", afirma Moliterno.

As empresas de varejo e consumo ganham porque, com os juros menores, o crédito também fica mais barato e as pessoas voltam a comprar itens caros, como televisão e outros eletrônicos.

O bom momento pode não durar: Nem todo mundo acredita numa recuperação sustentável. "O que ajuda muito é que o balanco das empresas divulgados desde o final de julho vieram bem melhores que a expectativa do mercado, mostrando que as empresas brasileiras são muito resilientes", diz Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.

O problema, segundo ele, é que o que tem ajudado a ação baixar não são fatores estruturais, que provocariam uma queda duradoura, mas sim fatores momentâneos, como o preço dos combustíveis. "O cenário de recessão avançando na Europa e na China ainda pode prejudicar muito", diz ele.

E as eleições, devem influenciar as ações? A campanha eleitoral começa oficialmente hoje (16). O horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão estreia em 26 de agosto. "Vamos saber mais detalhes dos planos de governo de cada candidato e isso pode mexer com a Bolsa, que pode cair e subir muito. As ações que devem oscilar mais são as de varejo, tecnologia e vestuário", afirma Milena Araujo, especialista em renda variável da Nexgen Capital.

"Muitas casas de análise apostam numa recuperação da Bolsa, com o Ibovespa atingindo 110 mil, 120 mil até 130 mil pontos. Esse último patamar eu acho muito exagerado. Penso que vai haver ainda muito sobe e desce", afirma Milena. Ontem, o Ibovespa chegou a 113.031 pontos.

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