Light sobe 245% mesmo com recuperação judicial; o que acontece com a ação?

Mesmo com problemas financeiros, as ações da holding Light S.A. (LIGT3), distribuidora e geradora de energia do estado do Rio de Janeiro, dispararam na Bolsa de Valores neste ano apesar da empresa ter entrado em recuperação judicial. Isso ocorreu, principalmente, depois que o investidor Nelson Tanure começou a comprar papéis da empresa. Por meio da gestora WNT, ele passou de 10% das ações em maio para os atuais 30,05%.
O que aconteceu?
As ações acumulam alta de 43,41% no ano, até o fechamento de sexta-feira (11). Iniciaram 2023 em queda, mas em abril, quando a WNT passou a comprar ativos da empresa no mercado, os papéis engrenaram numa escalda.
Desde o dia 5 de abril, quando atingiu seu menor valor no ano, subiu 245%. Passou de R$ 1,92 para os atuais R$ 6,64% (11 de agosto), conforme a Economatica..O intervalo de maior alta foi entre 5 de abril e 29 de junho, quando o papel disparou 408%, deixando a cotação de R$ 1,92 para alcançar R$ 9,77.
Desde o pico de alta, os papéis acumulam baixa de 32,04%. Somente na sexta-feira, depois da divulgação do balanço da empresa, as ações caíram 5%.
Uma explicação para tamanha oscilação está em Tanure. Muitos investidores, segundo os analistas de mercado, gostam de seguir os passos de grandes investidores e compram as mesmas ações que eles estão adquirindo — no caso, a LIGT3.
Normalmente, os investidores fogem de ações de empresas que pedem recuperação judicial. Mas com a Light o movimento tem sido o contrário. A companhia fez a requisição de RJ em 12 de maio e o pedido foi aceito pela Justiça no dia 15 de maio. Atualmente, 18.995 pessoas físicas têm ações da Light, segundo o formulário de referência da empresa.
Outra explicação possível é a que as pessoas gostaram do plano de recuperação da companhia. Para elas, a RJ é uma das poucas saídas que empresa tem para deixar do imbróglio em que está.
O fluxo que Tanure gera influencia outros investidores
Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.
Qual é a situação da empresa?
A Light precisa renegociar dívidas de R$ 11 bilhões. Aproximadamente R$ 7 bilhões estão com detentores de debêntures; outros R$ 3,1 bilhões em títulos de dívida no exterior (bonds). "Se a Light fosse pagar hoje essa dívida, ela quebraria" diz Hungria. O valor de mercado hoje da empresa é de R$ 2,81 bilhões.
Além das dívidas, a empresa sofre com roubo de energia. De tudo que a Light gera, 27% é desviado, geralmente por milícias. A companhia atende 4,5 milhões de pessoas em mais de 30 municípios do Rio de Janeiro. Cerca de 20% de sua área de cobertura está concentrada em áreas dominadas pelo tráfico de drogas ou por milícias. Esses grupos fazem o gato das ligações, roubando a energia produzida pela empresa. Quem mora ou trabalha nessas áreas, precisa pagar para a milícia para ter energia elétrica.
No segundo trimestre deste ano, Light conseguiu sair do prejuízo. A empresa, que perdeu R$ 80 milhões no segundo trimestre de 2022, teve um lucro líquido consolidado de R$ 109,4 milhões entre abril, maio e junho de 2023. No semestre, a empresa teve lucro de R$ 216,5 milhões ante prejuízo de R$ 186,1 milhões anotado um ano antes.
Saídas para a crise
Repasse de impostos agravou a crise. A empresa tinha fluxo de caixa negativo desde 2019. Essa situação piorou ainda mais no ano passado depois que uma lei, em junho, decidiu pelo repasse integral de ICMS sobre PIS e Cofins ao consumidor. Isso, segundo a XP, levou a companhia a um prejuízo líquido de R$ 5,6 bilhões no ano de 2022, incluindo aí as devolução de impostos por conta da redução de tarifas pagas pelos consumidores.
Uma saída para evitar a falência é a renegociação da concessão com o governo. A concessão da Light vencerá em 2026. Todo contrato de concessão prevê um limite de perdas que a empresa de energia pode repassar para a conta dos consumidores. O que a Light quer é esticar esse limite para próximo dos 30% que ela perde. Assim, boa parte do que ela perde seria compensado com aumento na conta dos demais consumidores. "Ela não conseguiria compensar tudo, mas diminuiria bastante as perdas dela", explica o analista.
Risco de falência. Na RJ, o plano da Light é transformar parte dos credores em acionistas e reduzir o valor em aberto. Se isso não der certo — existe um risco bem alto da empresa falir.
No caso de não renovação da concessão, a Light teria cerca de R$ 10 bilhões a receber. Esse valor é referente a ativos nos quais investiu e que ainda não foram depreciados, segundo relatório da XP para acionistas. "Entretanto, entendemos que haveria ainda discussões sobre prazos e valor a ser efetivamente recebido", publicou a XP.
Esses dois fatores - a recuperação judicial e a renegociação da concessão - podem fazer a ação subir mais ainda, se resultarem em cenários favoráveis para a Light.
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
Vale comprar?
Agora, não, segundo a Empiricus e o Andbank. "Quem compra ação agora tem que estar ciente dos riscos, que são enormes. Se der certo, vai ganhar muito dinheiro. Mas se não der, perdem tudo", diz Hungria, que não aconselha o investimento. Bresciani, do Andbank também acha melhor ficar de fora.
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