Dólar em alta: vale investir em dólares ou no exterior?
A alta do dólar e a instabilidade no mercado global podem deixar investidores inseguros sobre investir ou não em dólares e no exterior. Por outro lado, não param de surgir empresas especializadas em investimentos fora do país. Especialistas ouvidos pelo UOL disseram que para quem já está nesse mercado, o momento é bom, mas para quem ainda não entrou, é melhor ter cautela e continuar fora, pelo menos por enquanto.
Vale a pena investir no exterior?
O dólar funciona de forma dupla, como aplicação financeira e como reserva de valor. É o que diz Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec-RJ. De um lado, pode ser um investimento financeiro para quem aposta nessa sequência de alta. Do outro, é uma forma de colchão para proteção de valores.
Se o país tem reserva em dólares, as pessoas também deveriam ter, diz especialista. Gilvan Bueno, especialista em finanças, diz que, com altas reservas em dólares, a economia brasileira é a mais forte da América do Sul. "Essas reflexões levaram ao surgimento de diversas corretoras que falam sobre a importância da dolarização do patrimônio. Quando esses investidores presenciam o risco do dólar de ir a R$ 6, ficam super felizes, principalmente se seus investimentos estiverem ligados à moeda americana", explica Bueno ao UOL.
Dólar afeta economia brasileira. "O dólar afeta a inflação do Brasil à medida que muito do que consumimos aqui é importado e denominado em dólares, como alimentos (trigo, por exemplo), combustíveis, eletrônicos e remédios. Além disso, os produtos que o Brasil exporta (como soja e minério de ferro), também ficam mais caros no mercado interno quando o dólar sobe", disse.
Não dá para prever para onde vai o dólar
Mesmo o Focus, pesquisa do Banco Central, errou a estimativa. Em dezembro de 2023, a pesquisa estimava que a cotação do dólar estaria ao redor de R$ 5 em dezembro de 2024, o que não aconteceu. "Quem apostou nessa precisão errou e perdeu dinheiro. Quem vai viajar e comprou a moeda ou pagou as despesas em moeda estrangeira vai festejar muito mais", disse o economista.
Para quem já está com aplicações dolarizadas, o momento é muito bom, com ganhos expressivos. A tendência dessas pessoas é manter essas aplicações. Para quem não investiu ainda e está em dúvida, o fator decisivo é quanto a expectativa do que vai acontecer. Nenhum especialista é capaz de prever isso com segurança, diante de tantos fatores a serem considerados.
Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec-RJ
Como investir
Nos últimos anos, investir na moeda estrangeira passou a ser mais fácil no Brasil, já que diversas empresas passaram a oferecer esse tipo de aplicação. Na Nomad, é possível enviar dinheiro para uma corretora americana através da criação de conta no aplicativo, usando apenas o CPF brasileiro, explica a gerente de research da Nomad, Paula Zogbi.
"Vale lembrar que, além de pesquisar as taxas e disponibilidade de produtos, é importante buscar plataformas que sejam reguladas pelos órgãos de proteção de mercado", disse.
Mas comprar dólar não é a única forma. Investir no exterior é uma forma de se expor à moeda americana, sem que toda a sua rentabilidade seja atrelada só ao desempenho da própria moeda.
A Bolsa americana é diferente da brasileira e pode ser forma de diversificar. Zogbi diz que a proteção também vem de exposição setorial, já que o setor de tecnologia corresponde a 24% da Bolsa americana, enquanto a maior participação no Ibovespa está no setor financeiro e em commodities. Os EUA correspondem a 42% do mercado acionário do mundo, contra 0,8% do Brasil.
A lógica é a mesma de investir no Brasil: receber juros ou lucrar com valorizações em ativos que sejam interessantes para a sua estratégia e o seu perfil. "A grande diferença é que toda a rentabilidade também é acrescida dos movimentos do dólar, que é uma moeda mais estável e que embute uma tendência de alta em momentos de incerteza nos mercado", explica Paula Zogbi.
Já para quem deseja investir em fundos de investimentos, é preciso saber se tem essa proteção dos investimentos na alta e baixa do dólar.
Invista em ativos internacionais. "A estratégia de investir no cenário internacional é a dolarização do patrimônio para você estar protegido. Quando você está nesse cenário, é também uma possibilidade de acessar mais mercados, tendo em vista a dificuldade que o Brasil tem em fazer isso", alerta Bueno.
Qual a melhor estratégia?
Compra na baixa e venda na alta. Essa é uma máxima do mercado de ações, mas que também serve para contextualizar esses investimentos em dólar, segundo Gilvan Bueno. "Quem fez a compra da moeda americana a R$ 4,50, R$ 4,80, está super feliz. O cenário é ruim para quem deseja fazer essa dolarização agora e entende que tem esse risco fiscal, uma atividade econômica mais paralisada. Então fazer esse processo migratório agora vai pegar um dólar muito caro, o que não faz sentido, não vale a pena", disse o especialista ao UOL.
O momento é de instabilidade, com preocupações com uma possível recessão nos EUA. Isso faz com que ativos de risco, como companhias de alto crescimento, commodities e criptoativos, sofram mais. Já portos-seguros, como a renda fixa americana e setores mais defensivos da Bolsa, como o de utilidades públicas, vão melhor.
Não é hora de apostar em dólar. Especulação em um mercado de alta volatilidade, com mudanças econômicas e possíveis sinais de recessão, é um risco alto e deixa esse investidor muito exposto.
Já para quem não entende nada sobre o assunto, o especialista aconselha a esperar e se preparar para o momento mais adequado. "O ideal é ficar fora da festa e aprender um pouco mais antes de investir. Tomar uma decisão de investimentos sem conhecer, a chance de você ter problemas futuros é grande. Se você não conseguiu investir em dólar até agora, esse não é o melhor momento, pois está em alta", alerta.
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