Por que Magalu e Casas Bahia subiram até 79% em seis dias?
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Depois de amargar quedas em torno de 70% no ano passado, as ações das varejistas Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3) estão em alta.
No final de fevereiro, elas começaram a ensaiar um movimento de recuperação. Mas foi depois de 6 de março que as ações saltaram bastante. Desde esse dia, MGLU3 acumula valorização de 16,74% e BHIA3 de 71,62%, conforme dados da Economatica.
O que está acontecendo?
Os juros altos prejudicam as duas empresas. No ano passado, Magalu perdeu 69,72% do valor de mercado e Casas Bahia, 74,69%. Além de espantar os consumidores das compras, já que a maior parte das vendas é parcelada, os juros altos pioram o endividamento dessas companhias. Mas este ano, mesmo com as taxas subindo, as duas ações estão nadando contra a correnteza, acumulando valorização em 2025 de 79,93%, caso de Casas Bahia, e de 27,69% para Magazine Luiza.
A reviravolta começou no final de fevereiro. Dois motivos explicam a virada. O primeiro foi o anúncio, no dia 24 do mês passado, da liberação de R$ 12 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para mais de 12 milhões de trabalhadores do país. A medida beneficia quem optou pelo saque-aniversário e foi demitido, mas não pôde receber os valores pela modalidade de rescisão. Nesse momento, as ações começaram levemente a subir.
O salto mesmo começou após o dia 6, quando os pagamentos do FGTS começaram a ser feitos. A primeira parcela é de R$ 6 bilhões), com liberação de R$ 3 mil por participante, limitado ao saldo disponível no fundo. Como ocorreu em outras vezes que a liberação aconteceu, a maior parte dos trabalhadores usa esse dinheiro para pagar dívidas, o que favorece as varejistas — e também para comprar bens duráveis, como eletrodomésticos.
A expectativa de que a medida governamental fosse beneficiar as ações pegou os investidores de surpresa. Muitos deles, segundo Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos, montaram operações chamadas de "short squeeze", que é um movimento especulativo, apostando na queda dos papéis.
O que é "short squeeze"?
O "short squeeze" começa com um aluguel de ações, em que o investidor pega emprestado ações de outro, pagando uma taxa. O nome disso é "venda a descoberto": o investidor decide vender um ativo que não tem, acreditando que o preço vai cair. Para conseguir fazer isso, ele aluga a ação.
Mas se essa ação de repente passa a subir, como foi o caso, quem estava alugando para vender, precisou encerrar o prejuízo. Então ele passou a comprar o papel e isso forma um efeito cascata, fazendo o valor da ação disparar. "Há uma pressão muito grande de especuladores que compram, vendem e até alugam essas ações buscando um retorno rápido. Então, vez ou outra, toda essa manada de especuladores fazem o preço subir ou cair num prazo bem curto", explica Raul Sena, educador financeiro e presidente da AUVP Capital, consultoria de investimentos. "No caso das Casas Bahia, ainda houve uma compra pesada de um investidor muito influente entre os 'traders'", diz ele, sem revelar quem é o investidor.
O que mais aconteceu?
Em janeiro de 2025, as vendas no varejo subiram 4,7%. "Ou seja, o consumidor está mais confiante, comprando mais, e isso naturalmente beneficia empresas como a Magazine Luiza e a Casas Bahia, que têm uma presença forte tanto nas lojas físicas quanto no online", explica Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.
E essa tendência vai durar?
Vai depender dos balanços. Casas Bahia solta seu relatório do quarto trimestre hoje, depois do fechamento do mercado, e Magazine Luiza, na quinta (13). "Essa alta também tem um pouco de expectativa quanto às divulgações do balanço já que alguma melhora nos números é aguardada", diz Joni Vargas, analista da Monte Bravo Corretora.
Mas Raul Sena acha melhor ficar de fora. "Geralmente, quanto alguém tenta surfar uma onda que parece muito boa na Bolsa, acaba sendo engolido por ela", afirma o especialista. Para a XP, as duas ações estão classificadas como neutras, melhor não comprar, nem vender. Para ambas, a companhia prevê perdas até o fim do ano. Para Casas Bahia, a previsão é de que a ação caia mais 27%, e para Magalu, 12%
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