Com o ouro batendo recorde, vale a pena penhorar uma joia? Entenda
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No dia 2 de abril, com a guerra tarifária iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ouro atingiu um novo valor recorde. Naquele dia, a cotação chegou a R$ 3.157 por onça-troy (a medida padrão do mercado internacional, que vale 31,10 gramas), na Comex, divisão de metais da Nymex (New York Mercantile Exchange).
Desde janeiro, a alta do ouro em dólar já passa de 12%. No ano passado, o metal acumulou valorização de 27,2%.
Com toda essa alta, vale a pena fazer penhor?
Os especialistas dizem que o penhor é uma modalidade de empréstimo barata. As joias servem de garantia e o penhor pode ser uma saída para quem tem contas atrasadas. Mas é importante saber que o valor do penhor não acompanha de perto a cotação do ouro.
O grama do metal chegou a valer R$ 600 ontem. Mas em seguida caiu para R$ 582, após a decisão do governo americano anunciar a pausa das cobranças de tarifas e fixar em 10% para o resto do mundo.
Nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF), entretanto, não é essa a cotação usada na avaliação das joias. O banco estava pagando de R$ 215 a R$ 218 por grama e usa esse intervalo de preços abaixo da cotação para avaliar as peças. Esse valor é fixo. Em dezembro, com a valorização do ouro no ano passado, a CEF corrigiu esse total em 20%. Consultado, o banco não revelou se há algum novo aumento no valor programado para breve. É bom lembrar que o valor artístico da peça, pérolas, ouro rose, pedras preciosas não são considerados pela CEF para o empréstimo.
Caixa empresta 85% do valor avaliado. No caso de uma avaliação correspondente a R$ 1 mil, pela cotação da CEF, o banco empresta 85% disso — R$ 850. Mas o cliente também paga juros, a avaliação da joia e IOF, o que soma uma taxa de 2,19% a 3,7% ao mês, dependendo do intervalo do empréstimo, que vai de um a seis meses. Se não pagar até o final do contrato, pode renovar por até mais seis meses. A Joia vai a leilão 30 dias após o vencimento do contrato, o cliente não pode pagar o valor emprestado.
A vantagem do penhor está nas taxas. Elas são bem menores que outras modalidades. O empréstimo pessoal na própria Caixa sai mais caro, 6,29% ao mês. Em bancos privados, esse percentual varia de 8,77% ao mês a 9,49% ao mês. "Aquela joia que acaba ficando em casa pode ser uma alternativa para a renegociação de dívidas", diz Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain. "No entanto, é essencial avaliar se a pessoa conseguirá quitar a dívida no prazo para evitar a perda das joias", acrescenta Cauê Mançanares, presidente da Investo.
E se eu quiser vender a joia?
Existem casas de ouro que aceitam a compra. Essa modalidade tem crescido bastante, segundo a Ourominas, que não revela percentuais. Na empresa, somente o valor do ouro é considerado, sem pedras ou adornos, como na Caixa. O preço pago é a cotação de mercado do ouro no dia — o que é mais vantajoso do que o penhor da CEF. "O valor pago para o cliente é exatamente o que a Ourominas paga no momento da negociação, sem descontos", explica Mauriciano Cavalcante, economista da Ourominas.
Por que o ouro tem subido com as tarifas de Trump?
Apresenta menores oscilações que outros investimentos. Na semana passada, quando o tarifaço foi anunciado, até o preço do ouro caiu, tamanho foi o baque nos mercados. "Mas o metal teve uma queda de 2%, menor que a baixa de outros ativos", diz Mançanares. Essa é uma característica do investimento em ouro: ele tem menores oscilações para baixo que outros investimentos.
Essa queda já foi recuperada com altas registradas esta semana. "Até abril de 2025, o ouro acumula uma valorização próxima de 12% em dólar no ano, atingindo recordes históricos com base na expectativa de novos cortes de juros pelo Federal Reserve e continuidade da demanda por ativos de proteção", explica Cavalcante.
Bancos centrais estão comprando ouro. Com o vai e vem das tarifas de Trump, governos, companhias, bancos e investidores têm muita incerteza para decidir onde vão colocar seu dinheiro. É por isso que desde o ano passado há um movimento de bancos centrais do mundo todo comprando ouro. Antes do tarifaço, as incertezas vinham das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
O ouro é considerado um dos investimentos mais seguros do mundo. Atualmente, com o tarifaço, o ouro tem sido avaliado como uma alternativa até mais segura que os títulos da dívida dos Estados Unidos (os Treasuries), segundo Cotrim. "Toda essa bagunça das tarifas cria um risco de desaceleração econômica e quando isso acontece, o banco central americano, o Federal Reserve, pode baixar os juros para tentar trazer estímulos", explica.
Ouro também é mais rentável. Com a previsão de que os Treasuries podem pagar taxas menores, a alternativa mais rentável e segura é o ouro. Até o dólar pode sair perdendo para o ouro. Se os juros por lá caírem, é natural que a moeda se desvalorize internacionalmente.
Vai continuar subindo?
Tudo indica que sim. É o que diz Mançanares, da Investo. "Ter parte dos investimentos em ouro é essencial nesse momento", afirma ele. As incertezas sobre as guerras e sobre a situação das tarifas americanas cada dia acrescentam pessimismo ao mercado.
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