Cacau já subiu 189%; investir em chocolate é uma boa?
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Não foi a Páscoa que deixou os chocolates mais caros. A alta de 189% no preço do cacau no ano, com picos de até 300% durante o ano, impactou o preço do produto, segundo números divulgados pela Abia (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação).
Mas para o investidor, será que essa alta pode ser uma boa alternativa para ganhos com ETFs (Exchange Traded Funds)? Eles são fundos de investimentos que seguem algum tipo de índice - no caso, a variação do preço do cacau. Como o cacau é um produto básico, uma commodity, dá-se o nome de Exchange Traded Commodity (ETC) a esse tipo de investimento.
Chocolate mais amargo
Os chocolates em barra e os bombons estão 21,77% mais caros do que há um ano no Brasil. A variação é quase quatro vezes maior do que o IPCA acumulado no mesmo período.
Inflação do chocolate é motivada pela escassez da oferta de cacau. Existe um déficit mundial de cacau de cerca de 100 mil toneladas projetado para este ano. Em 2024, foi pior, chegando a 460 mil toneladas, segundo o especialista do banco americano. O Brasil é apenas o sétimo maior produtor global, e os preços aqui também são afetados pelo valor internacional.
A crise climática diminuiu a oferta global, especialmente na África, a região de maior produção no mundo. Em 2024, o fenômeno climático El Niño trouxe temperaturas mais altas e mudanças nas chuvas causadas. A Costa do Marfim e Gana, responsáveis por 70% da produção mundial de cacau, sofreram com períodos de chuvas e secas. O quadro foi agravado pela presença do fungo Vascular Streak Dieback nas plantações.
As fazendas de cacau, muitas vezes em países em desenvolvimento, têm poucos recursos de suporte ao enfrentamento climático. "Muitas das árvores estão velhas e produzem pouco", diz Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos.
O cacau é um mercado no qual o fazendeiro produz um produto de altíssimo valor, mas recebe uma parcela muito baixa da cadeia de valor real. Como resultado, as taxas de replantio de árvores doentes são baixas, e a produtividade na África Ocidental tem sido mais sujeita aos impactos climáticos
Tracey Allen, estrategista de commodities agrícolas do J.P. Morgan
O preço vai continuar alto
Há esperanças de uma safra melhor na temporada 2024/25, com o fim do El Niño. A Organização Internacional do Cacau (ICCO) estima um crescimento de 7,8% na produção global de cacau para a safra 2024-25, atingindo 4,84 milhões de toneladas.
Preços podem demorar para cair. "Mas os preços do cacau devem permanecer altos no médio prazo, oscilando em torno de US$ 6 mil a tonelada", publicou o JP Morgan, num relatório sobre o tema em dezembro. O pico do preço foi atingido em dezembro do ano passado, quando o valor chegou a US$ 12,9 mil a tonelada. Hoje, a tonelada está sendo negociadas entre US $ 8,7 mil e US$ 9 mil.
"Mantemos nossa visão de preços estruturalmente mais altos para o cacau por mais tempo", diz Tracey Allen, estrategista de commodities agrícolas do J.P. Morgan
Precisa ter conta internacional e é arriscado
Na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, não há nenhum ETF ou ETC relacionado a cacau. É o que explica Daniela Lopes, planejadora financeira da Ébano Investimentos. Então, o investidor precisa abrir conta internacional que permite investir diretamente em mercados estrangeiros, explica Gustavo Bertotti, economista chefe da Fami Capital.
O principal ETF de cacau é o COCO Exchange Traded Commodity (ETC). Ele é gerido por WisdomTree, gestora de ativos com sede em Nova York, para seguir o índice Bloomberg Cocoa Subindex. Este ETC valorizou 3,36% no último mês e 14,68% em 12 meses.
Mas aumento na produção pode fazer os preços se estabilizarem ou até caírem, diz Cecco, da Valor Investimentos. Desde o pico, em dezembro, os preços já cederam 30%. "É um investimento arriscado porque a maior parte da produção mundial está em Gana e na Costa do Marfim, países com poucas estatísticas e transparência de dados. Então, é um produto muito sujeito a boatos", explica ele.
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