Investiu no Tesouro IPCA a longo prazo? Entenda por que você teve prejuízo

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Para quem investiu em títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação com prazos mais altos viu seus títulos terem rendimento muito baixo e até negativo no último ano. É o caso dos investimentos voltados para a aposentadoria, como o Renda+, e para a educação, como o Educa+. Isso porque, ao longo do ano, a curva de inflação subiu, oferecendo taxas maiores em títulos novos. Ou seja, quem investiu agora tem rendimentos maiores do que quem buscou esses títulos no início do ano, e alguns títulos até tiveram rendimento negativo. Isso significa que quem investiu nele perdeu dinheiro? Não é bem assim.
Risco está maior
A incerteza está maior no mundo todo, principalmente por conta dos EUA. Desde que anunciou o tarifaço, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provoca incerteza nos mercados globais, o que impacta também o Brasil. As incertezas dificultam a tomada de decisão de posicionamento nos títulos, não só dos brasileiros. "Isso tudo afeta as taxas porque, quando os investidores percebem um risco maior, exigem mais uma taxa maior", detalha Camilla. No Brasil, país emergente, os títulos oferecem mais risco em relação às grandes economias globais.
O problema não é só dos EUA. Fernando Marrocco, CFP® e assessor de Investimentos na Qoros Capital, analisa que o Brasil está passando por um momento bastante turbulento. "Internamente há grandes problemas com o balanço das contas públicas, o governo gasta muito, e a tendência é de que isso se agrave. Para piorar, é esperado que sejam tomadas decisões que aumentem os gastos públicos na tentativa de se ganhar popularidade para conseguir a reeleição".
O que mais caiu
Neste período de turbulência, os títulos da classe mais prejudicados foram os prefixados e os atrelados à inflação de longo prazo, afirma Lucas Buffon, especialista em investimentos e sócio da GT Capital.
Os papéis indexados ao IPCA (NTN-B ou Tesouro IPCA+) com prazos acima de um ano tiveram rendimento de 3,70% nos doze meses corridos, 11,53% em 24 meses e 40,41% nos últimos 60 meses. Esse rendimento é calculado pelo IMA-B. IMA é a sigla para Índice de Mercado Anbima. O Tesouro Renda+ Aposentadoria Extra 2084, por exemplo, foi o título que mais caiu: de 1° de março de 2024 até 30 de abril deste ano, o prejuízo foi de 39,20%.
Na média dos títulos do Tesouro, no entanto, o rendimento foi positivo. O rendimento de dos títulos do Tesouro Direto com prazo superior a um ano foi de 8,62% nos últimos doze meses, 20,34% nos últimos 24 meses e 48,15% em 60 meses. O rendimento é calculado pelo IMA-G, que abrange Tesouro IPCA+ (NTN-B), Tesouro Prefixado (NTN-F), LTN (prefixado), NTN-C (que seguia o IGPM).A culpa é da expectativa em relação aos juros futuros. "Esses títulos são extremamente sensíveis às expectativas do mercado em relação aos juros futuros. Quanto maior o prazo, maior é a oscilação no preço diante de qualquer mudança no cenário econômico. E, no momento atual, com tantas incertezas, o mercado se apresenta cada vez mais cauteloso a estes riscos".
A expectativa para o futuro dos juros subiu bastante. Há seis meses, explica Fernando Marrocco, o contrato de juros futuros de dez anos estava precificado em 12,47% ao ano. No dia 25 de abril, segundo ele, o mesmo contrato estava sendo negociado a 14,08% ao ano. "Isso quer dizer que, diante das decisões do governo e acontecimentos no mundo no período, o mercado entende que a taxa Selic precisará ser mais alta, de maneira geral, para controlar a inflação nesses próximos anos", relata.
E é por isso que os títulos comprados anteriormente tiveram prejuízo. Um título comprado no ano passado, com taxas menores, vai se desvalorizar, já que o momento atual é de taxas altas.
Papéis sofrem marcação a mercado
Renda fixa também tem sobe e desce. "O nome renda fixa pode dar a falsa impressão de que não há variação nos preços. A oscilação acontece por conta da marcação a mercado", detalha Lucas Buffon, especialista em investimentos e sócio da GT Capital.
Marcação a mercado é a prática de atualizar o valor de um título de acordo com o preço que ele teria, caso fosse negociado hoje no mercado. Se os juros subirem, quem comprou títulos antigos com juros mais baixos pode ver o rendimento ficar negativo, e vice-versa.
Qual opção tem menos sobe e desce?
Os títulos indexados ao CDI, como CDBs e Tesouro Selic. "São os mais seguros, principalmente para quem precisa de liquidez ou tem medo da volatilidade. Esses ativos praticamente não enfrentam problemas com a marcação a mercado e acompanham a taxa básica de juros, ou seja, oferecem rentabilidade estável e previsível", diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos
Já o prefixado é um dos que mais tem oscilação, porque foi 'travado' em uma taxa. Se o investidor precisar sair antes do vencimento, estará bastante sujeito ao que está acontecendo no mercado, diz Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos.
Onde investir agora?
Importante é ter visão de longo prazo. "Esse movimento pode ser ruim, mas também pode ser muito bom, com taxas altas. Comprar agora, com a expectativa de que as taxas caiam, pode gerar um grande ganho de rentabilidade além da taxa contratada", relata Fernando Marrocco. "Se o investidor tem uma visão mais a longo prazo e consegue lidar com alguma oscilação, o Tesouro IPCA+2060, por exemplo, é uma excelente opção para fazer a marcação a mercado jogar a favor do investidor ao longo do tempo. Eles protegem da inflação e, com a alta recente nas taxas, estão apresentando lucros bem atrativos".
Os títulos mais recomendados são os de renda fixa pós-fixados, como o Tesouro Selic 2027, com baixa volatilidade. "Além disso, por acompanhar a taxa Selic, esse título não sofre tanto com a marcação a mercado. Também está com uma alta rentabilidade real. Com a Selic em 14,75% ao ano, esses papéis oferecem um retorno atrativo com baixo risco, além de possuir liquidez, ideal para reserva de emergência ou para quem deseja manter segurança no curto prazo", diz Patzlaff. "Quando falamos dos investidores mais conservadores, os pós-fixados são a melhor opção. Principalmente pensando naqueles de liquidez diária ou de prazos mais curtos Se há necessidade, é possível resgatar rapidamente - e esses ativos oscilam menos ou não oscilam", diz Camilla Dolle
Para quem tem perfil mais arrojado e prazo longo, o especialista indica o Tesouro IPCA+ 2035. Apesar da volatilidade, oferece proteção contra a inflação e alta taxa real.
Quanto mais longo for o vencimento do título, mais intensa é volatilidade.
E como evitar perder dinheiro?
Para não ter prejuízo, afirma Buffon, o ideal é manter o título até o vencimento. "Vender antes pode ser arriscado, especialmente em períodos de alta volatilidade, como os dias de hoje. Acredito que planejamento e acompanhamento da carteira são a chave para evitar possíveis surpresas com a mudança do preço dos ativos", aponta o especialista".
Se a intenção é vender antes do prazo, detalha a head de renda fixa da XP, o investidor precisa entender que está sujeito à perda. "O principal é diversificar sempre, além dos ativos, também os vencimentos. Ter títulos com diferentes prazos pode reduzir a necessidade de venda em momentos ruins, investindo de acordo com seu horizonte de tempo, pois títulos longos são mais voláteis, relata Dolle.
Para Buffon, o principal erro dos investidores na renda fixa é investir sem compreender os riscos de mercado e sem ter um objetivo claro. Muitos deles acabam comprando títulos com vencimentos longos, mas, na prática, precisam de liquidez no curto prazo. Outro erro comum, afirma o especialista, é usar títulos de longo prazo como reserva de emergência, o que expõe o investidor à necessidade de venda em momentos desfavoráveis.
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