A febre do ouro acabou? Com acordos comerciais dos EUA, metal cai 9%
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O preço do ouro subiu mais de 20% desde a eleição presidencial dos Estados Unidos, em novembro de 2024. Nos últimos cinco anos, o metal teve valorização de 95% com a covid, a guerra na Ucrânia e agora os conflitos comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.
Mas desde o preço recorde de US$ 3,5 mil a onça, alcançado em 22 de abril, a cotação já baixou para US$ 3.183 — queda de 9%. Os acordos de tarifas entre EUA e Reino Unido, anunciado dia 8, e com a China, no domingo, foram alguns dos catalisadores da queda.
O que está acontecendo
É para o ouro que os investidores correm quando os riscos estão altos demais e o cenário parece complicado demais. Foi isso que aconteceu, principalmente com a guerra das tarifas de Trump este ano. A corrida, entretanto, começou bem antes.
Na pandemia, grandes bancos centrais em todo o mundo compraram o metal para se proteger. Esse movimento se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, segundo o World Gold Council, ou Conselho Mundial do Ouro, a associação comercial internacional do setor.
No último trimestre de 2024, quando Trump venceu as eleições nos EUA, as compras dos bancos centrais aceleraram. Houve alta nas compras de 54% em relação ao ano anterior, chegando a 333 toneladas, de acordo com o WGC.
Mas o cenário começou a mudar esta semana. Com o acordo entre EUA e China firmado nesta segunda-feira (12) e depois de o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ter aceitado a proposta do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para iniciar negociações de paz (no domingo 11), muitas das incertezas que fizeram os investidores correrem para o ouro estão se dissipando.
Por isso, na segunda-feira (12), o ouro teve uma queda expressiva de 3%. Isso assustou muitos dos investidores que colocaram seu dinheiro na aplicação pela primeira vez.
É o fim da febre do ouro?
Ainda não, dizem os especialistas. Mas uma coisa é certa: no curto prazo, a cotação não deve mais subir tanto, nem tão rápido como aconteceu neste começo de ano. O primeiro trimestre de 2025 foi o segundo mais forte já registrado em entradas globais de fundos negociados em Bolsa (ETFs), atrás apenas dos três primeiros de 2022, quando a guerra no Leste Europeu começou. O dado também é do WGC. Nos primeiros três meses do ano, os investidores injetaram US$ 21 bilhões nos "Exchange Traded Funds" que acompanham o valor do mineral.
Tudo o que cair agora será uma correção do valor. É o que diz Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain. Ou seja, as altas que ocorreram por exagero dos investidores agora devem se desfazer.
Então, a previsão no curto prazo não é animadora. "Haverá uma estabilidade dos valores, com uma tendência de leve queda", diz Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
A dica agora é não comprar, se o objetivo for de curto prazo. Mas e quem já investiu? Se a aplicação já rendeu bastante, é uma boa hora para vender e colocar o lucro no bolso. Se não for esse o caso, é melhor esperar. Afinal, as tarifas americanas aos produtos chineses cairão de 145% para 30%. Já as taxas da China sobre os produtos americanos serão reduzidas de 125% para 10%. Ou seja, são tarifas ainda bem altas, o que ainda pode provocar efeitos danosos à economia dos dois países. E isso elevaria os valores do ouro.
No longo prazo, porém, existe uma chance de o ouro voltar a subir. Isso porque o metal historicamente acompanha inversamente as taxas de juros dos Estados Unidos. "Enquanto não houver um corte do juro americano, o ouro não vai subir", diz Cotrim.
Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), manteve inalteradas as taxas americanas. O comunicado divulgado pelo Fed destacou que a incerteza quanto às perspectivas econômicas aumentou. Nesta terça (13), o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) mostrou alta de 0,2% em abril. Ou seja, esse ciclo pode demorar a terminar. Mas um dia os juros vão precisar cair.
Além disso, o ouro ainda é estratégico como ativo de proteção. "Para quem já lucrou bastante, pode ser momento de realizar parte do ganho. Mas para investidores de longo prazo, a correção pode ser uma oportunidade de entrada, desde que se tenha uma visão clara do ouro como reserva de valor e não como ativo de crescimento", diz Paulo Silva, cofundador da consultoria Advisory 360.
E o penhor, continua valendo a pena?
O penhor não é investimento, mas uma modalidade de empréstimo barata. As joias servem de garantia e por isso os juros são menores. Nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF), o banco avalia somente o peso em ouro de joias entre R$ 215 a R$ 218 por grama. O valor artístico da peça, pérolas, ouro rose, pedras preciosas não são considerados pela CEF para o empréstimo.
A CEF empresta 85% do valor avaliado. No caso de uma avaliação correspondente a R$ 1 mil, pela cotação da CEF, o banco emprestaria R$ 850. Mas o cliente também paga juros, a avaliação da joia e IOF, o que soma uma taxa de 2,19% a 3,7% ao mês, dependendo do intervalo do empréstimo. São percentuais bem abaixo do mercado. O empréstimo pessoal tem taxa média de 8,12% ao mês, segundo pesquisa do Procon-SP.
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