A semana no mercado: pacotes fiscais anulam recordes da Bolsa, e dólar cai
Ler resumo da notícia

A terceira semana de maio teve dois momentos distintos na Bolsa de Valores de São Paulo: um positivo e outro negativo. No final, o Ibovespa, principal índice da B3, acumulou queda, entre 19 e 23 de maio, de 0,97%. O dólar comercial oscilou muito e fechou o acumulado da semana em baixa de 0,13%, vendido a R$ 5,646.
O otimismo que imperou nos dois primeiros dias da semana, quando o Ibovespa ultrapassou a marca dos 140 mil pontos, se dissipou a partir da quarta (21), diante do temor de aumento da dívida pública no Brasil — e nos Estados Unidos, o que pode levar a um aumento da inflação.
O que aconteceu
No início da semana, o mercado estava positivo e otimista. Além de o Ibovespa fechar acima dos 140 mil pontos pela primeira vez, na terça-feira (20), 11 papéis bateram seu valor máximo histórico, dentre eles Cyrela (CYRE3), Totvs (TOTS3) e Itaú (ITUB4), segundo a consultoria Elos Ayta. Essas ações — e consequentemente o Ibovespa — subiram porque, dentre outros motivos, bancos e empresas bem consolidadas são a porta de entrada do mercado brasileiro para o capital estrangeiro.
No acumulado do ano até o dia 19 de maio, a entrada de estrangeiros na Bolsa havia alcançado R$ 15 bilhões. "Com a perspectiva de que o ciclo de alta dos juros tenha chegado ao fim e que o próximo passo seja o corte, os investidores compraram ações agora para ganhar quando essas empresas faturarem mais, com juros menores", disse Gustavo Mendonça, especialista da Valor Investimentos.
Virada negativa
Mas tudo mudou na quarta-feira. Naquele dia, o pacote que reestrutura a política fiscal americana avançou na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. Ele acabou sendo aprovado na quinta-feira (22). Além de ampliar gastos com segurança de fronteira, as medidas retomam e aumentam cortes de impostos aprovados em 2017, no primeiro mandato do presidente Donald Trump.
O pacote adiciona cerca de US$ 3,8 trilhões à dívida federal ao longo da próxima década, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO). A relação dívida/PIB, que já está em 124%, pode chegar a 125% até 2035, patamar mais alto desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Soma-se a isso o rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Moodys,
Tudo isso influenciou a Bolsa aqui porque, neste cenário, os investidores internacionais preferiram se proteger a correr riscos. Sendo assim, acabaram tirando o dinheiro de investimentos mais arriscados, como as bolsas emergentes, e foram para os "Treasuries". O Tesouro Americano (títulos de dívida emitidos pelo governo dos EUA) já vinha subindo nos últimos dias e agora ampliou as altas.
Na quinta, o caldo entornou de vez, com a divulgação de medidas fiscais em Brasília. "Inicialmente houve boa recepção sobre a contenção de R$ 31,3 bilhões no orçamento de 2025. Mas, em seguida, o mercado digeriu mal a informação sobre um possível aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para cumprir o arcabouço fiscal", disse Alexsandro Nishimura, economista da Nomos. Os investimentos de pessoas físicas no exterior, que atualmente têm alíquota de 1,1%, passariam a ter 3,5%. As transferências para aplicações de fundos nacionais no exterior passariam a ter alíquota de 3,5% também, contra zero atualmente.
Na madruga de quinta para sexta, entretanto, o governo mudou de ideia. Decidiu restaurar o texto que estabelece alíquota zero de IOF sobre aplicações de fundos de investimentos do Brasil em ativos no exterior. O decreto foi publicado antes da abertura dos mercados. "O que foi feito e depois desfeito sobre os fundos arranha a imagem do governo porque agora fica o medo de que isso possa voltar mais para frente", disse Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. No final da sexta-feira, porém, o mercado fechou no positivo (0,40% de alta) com o mercado aprovando os cortes de gastos do governo.
A volta da guerra comercial
Para completar o clima ruim, nos EUA, Trump lançou mais uma bomba sobre tarifas em sua rede social. Ele ameaçou impor 50% de taxas sobre as importações feitas da União Europeia a partir de 1º de junho. E acrescentou que iPhones fabricados no exterior podem sofrer impostos. Isso acabou afetando negativamente o dólar que fechou a sexta-feira em baixa internacionalmente — e frente ao real também. "O mercado voltou ao modo de aversão a risco, fazendo a bolsa americana recuar e o dólar perder força globalmente", diz André Valério, economista sênior do Inter.
Com tudo isso, o dólar comercial, que havia iniciado a semana a R$ 5,681, terminou a R$ 5,646. "Abrir mais frentes na guerra comercial era exatamente o que os 'traders', que esperavam um fim de semana tranquilo antes do feriado, não precisavam, e claramente pegou a maioria desprevenida", disse Steve Sosnick, analista chefe de mercado da Interactive Brokers. Na segunda-feira (26), os mercados estarão fechados pelo "Memorial Day".
Como será a semana que vem?
Vai depender de dados da economia, já que muitos deles serão divulgados entre a segunda (26) e a sexta (30). O principal é o PIB (produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, em 30 de maio. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de maio será divulgado na terça-feira (28), "No cenário externo, a expectativa é pela ata do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, órgão do Federal Reserve, o Fed, banco central americano) e do índice de inflação dos EUA. Na China, os índices de inflação de maio vão indicar se a recuperação da segunda maior economia do mundo está ganhando tração", diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.