Bitcoin, regulação e mais: o que pensam 5 protagonistas do cripto no Brasil

Eles estavam lá quando o bitcoin ainda era tratado como "coisa de nerd", suspeito de ser pirâmide financeira ou até chamado de "fraude competindo com o dólar" — definição dada por Donald Trump em 2021, antes de mudar de ideia sobre os ativos digitais.

Hoje, esses seis nomes tocam empresas que estão ajudando a consolidar o mercado cripto no Brasil, levando investidores individuais e institucionais a apostar em criptoativos, seja por meio de listagem de tokens, de fundos de investimentos ou de soluções de segurança e infraestrutura.

A seguir, André Portilho (diretor de ativos digitais do banco BTG Pactual, dono da plataforma de negociação Mynt), Edilson Osório Jr. (fundador da OriginalMy, que desenvolve tecnologias com blockchain), João Canhada (presidente do grupo Foxbit, que presta serviços de investimentos e pagamentos com criptoativos), Rocelo Lopes (presidente da SmartPay, que desenvolve tecnologias com blockchain para pagamentos com criptoativos), Rudá Pellini (presidente da Arthur Inc., fornecedora de soluções de energia para o mercado de investimentos alternativos) e Samir Kerbage (diretor de investimentos da gestora de criptoativos Hashdex) falam sobre os principais desafios do setor, as apostas para os próximos anos e o futuro das criptomoedas.

Samir Kerbage, diretor de investimentos da Hashdex
Samir Kerbage, diretor de investimentos da Hashdex Imagem: Divulgação

De olho na regulação

Um dos principais desafios do setor atualmente no Brasil, segundo a maioria dos entrevistados, é o regulatório. A lei que regulamenta o mercado de criptoativos entrou em vigor em 2023, mas o Banco Central ainda não publicou todas as regras necessárias.

''Precisamos de uma regulamentação mais definida para os provedores de criptoativos pelo BC e de um roadmap (plano estratégico e cronológico) claro para o Drex, a iniciativa de real digital e tokenização (transformar ativos como ações e títulos de renda fixa em tokens) de ativos no Brasil'', disse Kerbage, da Hashdex.

Canhada, da Foxbit, reconhece que o Brasil avançou bastante em termos regulatórios, mas ainda vê lacunas importantes. ''Falta o detalhamento técnico, principalmente sobre a atuação dos Vasps (provedores de serviços de ativos virtuais), tributação e integração com o sistema financeiro tradicional''.

Educação e acesso ainda travam o setor

Além da regulação, outro entrave para o avanço do mercado, segundo os especialistas, é a falta de educação financeira e o uso excessivamente especulativo das criptomoedas.

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"As pessoas estão sendo movidas apenas pela possibilidade de ganho rápido, em vez de buscarem entender o projeto no qual pretendem investir", diz Osório, da OriginalMy, empresa que utiliza blockchain (a tecnologia das criptos) para registro de documentos.

Rocelo Lopes, presidente da SmartPay
Rocelo Lopes, presidente da SmartPay Imagem: Divulgação

Pellini, da Arthur Inc. — uma energy tech que também atua com mineração — concorda. "Há muita desinformação, tanto por parte dos usuários quanto de instituições, imprensa e até reguladores."

Para Rocelo Lopes, da SmartPay, que desenvolve soluções de pagamento para plataformas digitais, o acesso ainda é uma barreira. "São mais de 400 blockchains no mercado e mais de 5 mil criptomoedas. Isso é muito difícil para um usuário comum entender. Precisamos de melhores aplicativos para facilitar esse acesso."

As próximas revoluções cripto

Questionado sobre os próximos saltos que o setor pode dar, Portilho, do BTG Pactul, diz que prefere sempre usar o termo "evolução" em vez de "revolução".

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André Portilho, diretor de ativos digitais do BTG Pactual
André Portilho, diretor de ativos digitais do BTG Pactual Imagem: Divulgação

"Quando falamos em finanças estamos falando da vida das pessoas. Investimentos, aposentadoria, etc... A integração de novas tecnologias nesse mundo deve ser feita com maturidade. A principal tendência no mercado de criptografia já está acontecendo: é a integração profunda de stablecoins no mercado, mudando profundamente a forma como pagamentos e transações financeiras acontecem. Paralelamente, o uso de blockchain para tokenização de ativos reais, como imóveis e títulos financeiros, tem enorme potencial para transformar os mercados brasileiro e global nos próximos anos", disse.

Um relatório do BCG (Boston Consulting Group) em parceria com a plataforma de negociação de criptoativos Ripple publicado em abril deste ano dá uma ideia do potencial da tokenização: globalmente, esse mercado deve saltar de US$ 600 bilhões hoje para US$ 18,9 trilhões até 2033.

João Canhada, presidente (CEO) da Foxbit
João Canhada, presidente (CEO) da Foxbit Imagem: Divulgação

''Isso muda o mercado de capitais como conhecemos. Teremos liquidez global, 24/7, via blockchain'', fala Canhada. Ao contrário da negociação de ações, que ocorre apenas em dias úteis e em horários específicos, o mercado de criptomoedas funciona ininterruptamente, 24 horas por dia, de domingo a domingo.

Outra grande tendência do setor cripto são as stablecoins — criptomoedas lastreadas em dólar, real ou outros ativos. De acordo com Kerbage, elas já são amplamente utilizadas em países com infraestrutura financeira frágil ou rígido controle de capitais, além de contarem com o respaldo da maior economia do mundo.

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''Nos EUA, há um movimento com apoio bipartidário no Congresso para regulamentar stablecoins, que são vistas como um caminho para a digitalização do dólar e manutenção da sua relevância global'', disse o CIO da Hashdex.

E o que esperar do bitcoin?

O bitcoin é negociado na faixa dos US$ 108 mil, com alta de 5% no acumulado de 30 dias. Para os especialistas, a maior cripto do mercado deve ser encarada como um ativo risco, sujeito a volatilidade e aos fatores macroeconômicos.

Rudá Pellini (presidente da Arthur Inc.)
Rudá Pellini (presidente da Arthur Inc.) Imagem: Divulgação

''No curto e médio prazo, o bitcoin continuará com ciclos marcados por forte volatilidade, o que é natural para um ativo com emissão limitada (só 21 milhões de unidades podem ser mineradas)'', diz Pellini, da Arthur Inc.

No longo prazo, no entanto, a perspectiva é positiva. ''Devido às suas características de escassez e inflação programada , é natural que caso a demanda continue ou aumente, seu preço naturalmente subirá'', fala Osório, da OriginalMy.

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Para Kerbage, não seria surpreendente ver o preço atingir US$ 250 mil nos próximos dois anos, ainda que esse movimento continue sendo guiado mais por especulação.

Portilho, do BTG Pactual, diz que as discussões de preço no curto prazo são irrelevantes, porque atrapalham o foco no médio e longo prazos. "No longo prazo, o bitcoin assumirá um papel crucial como reserva digital de valor, funcionando como uma metodologia global ativa ao ouro, especialmente diante das incertezas econômicas e monetárias", afirma.

Além do bitcoin: onde estão as apostas?

Embora o bitcoin continue sendo o criptoativo mais famoso do mercado, os especialistas acreditam que outros setores do ecossistema cripto também devem se destacar.

As stablecoins foram mencionadas por vários deles. Lopes aposta na USDT, atrelada ao dólar na proporção de 1:1, como a mais promissora. Pellini tem visão semelhante. Ele acredita que elas serão ''a base de um novo sistema econômico, e as pessoas nem perceberão que estão usando blockchain."

Canhada destaca as criptomoedas de finanças descentralizadas (nome dado ao conjunto de serviços e produtos financeiros que rodam em blockchain), como aave, maker e uniswap. "Elas estão criando um novo sistema financeiro na marra", diz.

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Edilson Osório Jr., fundador da OriginalMy
Edilson Osório Jr., fundador da OriginalMy Imagem: Divulgação

Já Osório aposta em projetos que contribuem para a descentralização da internet, sem citar nomes específicos, mas em linha com projetos como a render (que conecta usuários com poder computacional ocioso) e a theta (focada em streaming de vídeo).

Kerbage aponta as plataformas de smart contracts (programas que executam automaticamente instruções pré-definidas) como um promissor do ecossistema cripto. Embora não tenha citado nomes específicos, esse grupo inclui criptos como ethereum e solana.

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