Dólar perto dos R$ 5,50: como fica daqui para a frente, vai cair ou subir?
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A temporada de dólar em baixa não deve durar muito — pelo menos é o que dizem os analistas de mercado. Depois de fechar na segunda-feira (16) negociado por menos de R$ 5,50 pela primeira vez desde 7 de outubro do ano passado, a cotação passou a oscilar entre altas e baixas. Hoje, a moeda está com variação negativa, a R$ 5,50 às 13h30.
A expectativa da maioria dos especialistas é de que no curto prazo, a divisa americana pode, sim, continuar caindo. Mas essa fase deve durar pouco. Até o final do ano, a cotação pode voltar a subir e chegar novamente a R$ 6, no teto das previsões, mas pode baixar para R$ 5,20.
A moeda começou junho cotada a R$ 5,708 e já caiu 3,96% neste mês. No acumulado deste ano, a baixa chega a 11,03%. Há dois principais fatores que provocam a desvalorização da divisa dos Estados Unidos: a alta taxa de juros do Brasil e o enfraquecimento internacional do dólar.
Impacto da Selic
O Brasil tem atualmente a maior taxa de juros anual desde julho de 2006. "Com a Selic em 15% ao ano e a inflação dando sinais de desaceleração, isso acaba atraindo capital estrangeiro para o país e o dólar cai", diz André Galhardo, economista chefe da consultoria Análise Econômica. E os juros continuarão nesse patamar por algum tempo, sem previsão de queda tão cedo.
Com queda da inflação, investidores estrangeiros vêm ao Brasil. A inflação mais controlada dá segurança ao investidor estrangeiro, que vêm aplicar em investimentos que pagam a atual taxa de juros. Pelo terceiro mês consecutivo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve queda em relação ao mês anterior e fechou maio em 0,26%.
Eles também vêm para a Bolsa de Valores. Só este ano, até o final de maio, o saldo acumulado no mercado de ações é de R$ 21,5 bilhões positivos. Em 2024, no mesmo intervalo, esse total era quase a metade disso: R$ 10,8 bilhões.
O principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, já subiu 15,48% este ano. Os investidores compram as ações apostando que elas devem valorizar em breve, quando a taxa de juros nacional começar a cair. Juros menores ajudam as empresas a vender mais e diminuem seu endividamento.
No cenário doméstico, outros fatores também contribuíram para atrair dólares. "Além da inflação, que apresentou melhora, houve uma leve recuperação de aspectos industriais", diz Alexandre Pletes, diretor de renda variável da Faz Capital. A atividade industrial teve avanço de 1,4% no primeiro quadrimestre de 2025, em relação ao mesmo período de 2024, segundo IBGE (O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Dólar mais fraco internacionalmente
O enfraquecimento internacional do dólar tem a ver com o déficit fiscal dos Estados Unidos. O rombo nas contas públicas dos EUA aumentou para US$ 1,31 trilhão na primeira metade do ano fiscal de 2025 (outubro a março), segundo dados divulgados pelo Departamento do Tesouro norte-americano nesta quinta-feira, 10. O número só não é maior que os US$ 1,71 trilhão no primeiro semestre do ano fiscal de 2021, durante a pandemia de covid-19.
A guerra tarifária também contribui. "As incertezas perante as políticas tarifárias impostas por Donald Trump, mesmo após ceder em grande parte, ainda provocam temores e acabam fazendo com que investidores diversifiquem seu portfólio de investimentos, numa busca por ativos diferentes dos americanos, que anteriormente eram considerados como o porto seguro", diz Marcio Riauba, gerente da mesa de operações da empresa de câmbio StoneX.
Bancos Centrais do mundo todo e grandes investidores estão vendendo dólar e comprando ouro. E esse fluxo deve aumentar, conforme pesquisa do Conselho Mundial de Ouro (ou World Gold Council, o WGC, na sigla em inglês). As reservas de ouro dos bancos centrais globais devem aumentar nos próximos 12 meses na opinião de 95% dos representantes de autoridades monetárias de 70 países, o nível mais alto desde que a pesquisa anual começou, em 2018.
Então o dólar deve continuar caindo?
No que depender dos bancos centrais, é provável que caia no curto prazo. O cenários de conflitos bélicos no Oriente Médio e na Ucrânia aumenta essa busca dos BCs por ativos mais seguros que o dólar. E isso faz a cotação da moeda cair internamente.
Por isso, um dos cenários é que o dólar termine o ano entre R$ 5,20 e R$ 5,35. A previsão é de Matheus Pires Rocha, gerente da mesa de operações B&T XP. Numa previsão mais conservadora, a cotação ficaria entre R$ 5,35 e R$ 5,60. "Mas num cenário adverso, pode ficar entre R$ 5,60 e R$ 5,90, por conta de fatores como as guerras, interferências dos EUA com tarifas", diz ele.
Mas no longo prazo, fatores domésticos podem fazer o dólar voltar subir. Por conta deles, a maioria dos especialistas e bancos preveem um dólar mais forte até o fim do ano. O Itaú BBA aposta em R$ 5,65. Já o C6 Bank é mais pessimista e projeta o câmbio em R$ 6. "Incertezas externas e riscos fiscais justificam uma revisão cautelosa da taxa de câmbio", publicou o Itaú.
O quadro fiscal continua frágil e tende a se deteriorar. É o que diz Pletes, da Faz Capital. "Por isso, projetar uma continuidade da queda do dólar é arriscado. O mais provável é que a moeda americana volte a ganhar força, encerrando o ano em patamares mais elevados, e com possibilidade de nova alta ao longo do ano que vem", diz ele. "A situação fiscal brasileira, principal fonte de volatilidade nos mercados domésticos no final de 2024, segue tão desafiadora quanto — se não pior", acrescenta Bruno Fratelli, economista da Journey Capital.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, aposta em um dólar variando entre o R$?5,50 e R$?6,00 até o fim do ano. "Particularmente, acredito em um dólar mais alto, próximo a R$6, por mais que ele possa cair, já que as incertezas no Brasil ainda são muito grandes, e elas não estão precificadas do jeito que deveriam estar", afirma ele.
Outro fator que joga contra o real é a possível queda dos juros americanos. "O bom desempenho do real pode ser prejudicado caso o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) inicie o corte de juros e a economia americana se fortaleça", diz Riauba, da StoneX. Isso poderia fazer o fluxo de investidores estrangeiros sair do Brasil e voltar a migrar para os EUA.
E quem vai viajar?
A recomendação é comprar dólar todos os meses. Seja para viajar, seja para diversificar os investimentos, essa compra aos poucos, segundo Patzlaff, equaliza o efeito de grandes quedas e subidas repentinas.
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