Petróleo, juros e novos negócios explicam maiores altas da Bolsa em junho

Fonte: Economatica, de 1 a 27 de junho

Por que elas subiram?

Boa parte dessas empresas fechou novos negócios recentemente. O caso mais relevante é o da fabricante de aeronaves Embraer. Durante o Paris Air Show, evento de aviação que aconteceu na França entre os dias 16 e 22, a companhia assinou contratos para vender para empresas aéreas como a Virgin Austrália, SkyWest, Amelia, Air Montenegro e Hunnu Air.

Com todas as encomendas anunciadas, a carteira de pedidos da Embraer é de pelo menos US$ 30,7 bilhões. A estimativa é do JPMorgan e supera o total de US$ 26,4 bilhões divulgado pela empresa no primeiro trimestre.

Outra que está crescendo é a Prio, antiga PetroRio. A "junior oil" carioca fechou em maio um acordo de US$ 3,3 bilhões (mais de R$ 18 bilhões) com a norueguesa Equinor para atingir participação de 100% no campo de petróleo Peregrino, na Bacia de Campos. "Isso dobra o tamanho da empresa", diz Max Bohm, estrategista de ações da Nomos. E quando a empresa cresce, segundo ele, as ações acompanham.

Mais um fator que ajudou a Prio foi a alta do petróleo. Mesmo com todo o vai e vem no preço do barril, o conflito entre Israel e Irã fez, no fim das contas, o petróleo do tipo Brent (o do Brasil) se valorizar 4,11%, no mês até dia 27. Essa elevação também ajudou as ações PETR3, as ordinárias da Petrobras (PETR3 e PETR4), a se tornarem a nona mais valorizadas do mês.

Expectativa de queda

O Banco Central brasileiro sinalizou que deve interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros Selic nas próximas reuniões. Isso continua animando muitos investidores a comprar agora ações que podem se beneficiar desse corte nos juros no futuro. É o caso da construtora MRV e de Lojas Renner.

Pagamento de dividendos

Houve também ações que subiram, principalmente, porque anunciaram o pagamento de proventos. A farmacêutica Hypera, por exemplo, aprovou a distribuição de R$ 185,134 milhões na forma de juros sobre capital próprio (JCP). Para receber, o acionista precisava ter comprado o ativo da empresa até 26 de junho deste ano — o que gerou uma busca pelo papel.

Já a TIM vai emitir R$ 5 bilhões em debêntures. Isso significa que a companhia de telecomunicação está colocando títulos de dívida no mercado para captar recursos financeiros. "Isso faz a máquina financeira da empresa ser mais redonda", diz Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos. E com isso as ações sobem.

Relatórios

Algumas ações foram beneficiadas por relatórios divulgados por bancos e corretoras. A Marcopolo, por exemplo, foi assunto de um estudo do BTG, em que o banco diz que um possível novo leilão do programa Caminho da Escola, em que prefeituras compram ônibus para o transporte escolar, "provavelmente será o próximo grande fator de desenvolvimento para a Marcopolo".

O BTG também divulgou um relatório sobre a Gerdau Metalúrgica e as tarifas americanas. Em 4 de junho, os Estados Unidos passaram a cobrar 50% de tarifa (antes era 25%) do aço importado que entra no país. Consequentemente, o preço do vergalhão lá deve subir. E ele já é caro: US$ 838 por tonelada, 88% acima do preço equivalente na China (US$ 445/t).

Isso beneficia a Gerdau, diz Max Bohm, estrategista de ações da Nomos. A companhia tem 60% do lucro gerado em fábricas nos EUA. Se os preços subirem 5% no mercado americano — uma estimativa conservadora —, o lucro (antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa pode crescer 12%. E isso fez as ações saltarem.

O Citi divulgou um estudo sobre Engie, de geração de energia renovável. Na semana passada, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) anunciou que aumentará a capacidade de exportação de energia do Nordeste. Com isso, haverá menos cortes na geração de energia renovável, Os cortes ocorrem quando usinas eólicas e solares precisam reduzir ou interromper a produção mesmo por conta de limitações na rede de transmissão. O ONS é responsável por determinar esses cortes. Desta maneira, o Citi avaliou que menos cortes vão melhor a situação para os geradores com a Engie e as ações subiram.

Quais valem a pena comprar?

Só uma ação — Lojas Renner — das dez maiores altas de junho está na lista das mais valorizadas de maio. Naquele mês (de 1 a 31), as ações que tiveram maiores valorizações foram lideradas por Azzas 2154 (AZZA30, com 38,66%, Lojas Renner (LREN3), com 24,30%, Hapvida (HAPV3), com 23,28%, Assaí (ASAI3), com 22,09% e PetroReconcavo (RECV3), com 18,72%.

O que mudou? No mês anterior, a aposta de que os juros iriam se estabilizar e, em seguida, cair era mais forte. Essa tese ainda tem força, mas já se sabe que a queda vai demorar mais a acontecer, depois de o Banco Central ter subido novamente a Selic, agora para 15% ao ano.

Por isso, a alta de agora tem muito mais a ver com o fortalecimento dos fundamentos das companhias individualmente. É o que diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. Ele acredita que Embraer e Prio, por exemplo, devem continuar subindo.

No ano, elas vem apresentando uma curva ascendente de valorização. Embraer, por exemplo, acumula, segundo a Economatica, alta de 32,97% até o dia 27 de junho. Outras que vêm subindo bem no acumulado do ano são Hypera (52,28%) e MRV (11,49%). "Todas têm bases operacionais e financeiras robustas. Enquanto essas empresas entregarem resultados consistentes e o contexto externo permanecer neutro ou positivo, é razoável acreditar que essa tendência de alta pode continuar após junho", diz o especialista.