As ações da empresa de gestão ambiental Ambipar (AMBP3) foram as que mais subiram na Bolsa de Valores de São Paulo no ano passado. Após iniciar 2024 na casa dos R$ 15, os ativos tiveram uma valorização de 700% e estão cotados agora a R$ 125. O UOL conversou com especialistas para saber se ainda existe potencial de valorização para esse papel. Por que subiu?A valorização da ação da Ambipar em 2024 faz os olhos de muitos investidores brilhar, mas pode representar uma cilada. O motivo é que ninguém sabe realmente por que as ações subiram. No meio do ano passado, o acionista controlador, Tércio Borlenghi Junior, aumentou sua participação de 67% para 73% após follow-on (oferta secundária de papéis no mercado). Também houve a recompra de 11,7 milhões de ações (7% do total) por parte da empresa. Em agosto, o fundo acionista Trustee adquiriu 15% do total de ações. Na época, as ações valiam R$ 109. Em 16 de outubro, conforme fato relevante da Ambipar, a Trustee vendeu parte de seus papéis e passou a deter 11,89% do total. Naquele momento, os ativos já estavam valendo R$ 138. A Trustee, conforme informações de mercado, tem participação do empresário Nelson Tanure. O fundo não comentou essa informação. Essas movimentações explicam boa parte da valorização. "Mas não respondem porque a ação continua valorizada. A empresa é sólida, mas não tem fundamento para se valorizar tanto, por tanto tempo", diz o trader independente e influencer Ricardo Brasil. PerspectivasO balanço da empresa é relativamente saudável. A Ambipar encerrou o terceiro trimestre de 2024 com uma receita líquida recorde de R$ 2,1 bilhões — um crescimento de 79,5% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo seu balanço publicado. No entanto, a empresa acumula prejuízo de R$ 284,543 milhões. Há indicadores de mercado que acendem um sinal de alerta. O primeiro deles é um indicador financeiro que mostra a relação entre o valor de mercado da companhia e o valor de seu patrimônio físico. No caso da Ambipar, ele é considerado alto demais: 11,8%. Outras empresas do mesmo setor de utilidade pública/água e saneamento têm múltiplos que variam de 0,73% a 4,15%. Geralmente, um múltiplo desse tipo muito alto é comum a empresas que prometem grande crescimento no futuro. Mas também indica especulação com a ação. Para Brasil, o caso da Ambipar se encaixa melhor na segunda hipótese. É por isso que grandes bancos estão deixando de fazer a cobertura da ação — outro sinal de cuidado. "Nossa recomendação sobre a Ambipar está agora sob revisão, seguindo o desempenho recente e atualizações sobre a tese de investimento. A empresa recentemente fez mudanças em cargos de alta gerência e também aprimorou a divulgação de números operacionais para seus segmentos de negócios", disse a equipe de analistas do Itaú BBA em relatório a clientes publicado em novembro. Fizeram o mesmo a XP e o Bank of America. O único que continua analisando a ação é o Bradesco BBI, que tem recomendação neutra (o que significa melhor não comprar, nem vender). Em novembro do ano passado, no site em que a empresa mostra sua cobertura de analistas, três das sete empresas que cobriam a ação indicam que o preço alvo (estimativa) para o preço do ativo em 12 meses poderia chegar a algo entre R$ 21 e R$ 27,50 — ou seja, uma queda de no mínimo 78%. |