Depois que o Ibovespa ultrapassou os 138 mil pontos pela primeira vez no fechamento do dia 13, em seu recorde histórico, alguns agentes do mercado estão projetando que a Bolsa pode, agora, ultrapassar os 150 mil pontos até o final do ano. As tensões da guerra tarifária diminuíram, após acordos feitos pelos Estados Unidos com a China e o Reino Unido, e o Banco Central brasileiro indica um possível fim do ciclo de alta dos juros. O que está acontecendoA Bolsa brasileira acumula este ano uma alta de 15,08% (de 2 janeiro a 14 de maio, segundo a Economatica). A título de comparação, a inflação (medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é de 2,48% de janeiro ao final de abril. O investidor estrangeiro é o maior responsável pelo bom desempenho. No ano, o saldo de investimentos vindos de fora está positivo em R$ 16,5 bilhões. Eles retiraram recursos dos Estados Unidos — principalmente do Tesouro americano — e foram para Bolsas emergentes, dentre elas a brasileira, para se proteger da guerra comercial e da queda do dólar. A expectativa pelo fim do ciclo de alta dos juros também impulsiona as ações. O mercado já esperava que a partir do meio do ano, o Banco Central desse uma pausa na alta da Selic, que subiu na semana passada para 14,75% ao ano. Embora a ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), divulgada na terça (13), não tenha sido explícita sobre o fim do ciclo, o mercado interpretou que o tom do comunicado pode indicar mais um ajuste na próxima reunião e pausa nas seguintes. Por isso houve alta na terça-feira, dia em que o Ibovespa bateu seu recorde. Uma pausa na alta dos juros beneficiaria empresas que estão endividadas, baratearia o investimento para as que precisam crescer e destravaria o consumo, melhorando as condições de crédito. Até onde pode ir o Ibovespa?Por conta desse cenário, o mercado espera que o Ibovespa até ultrapasse os 150 mil pontos. A assessoria de investimentos WMS Capital, por exemplo, aposta que o índice feche o ano em 152 mil pontos. O Banco Inter espera algo entre 140 mil e 150 mil. A Veedha Investimentos acredita que o índice fique entre 145 mil e 150 mil. O Itaú BBA joga suas fichas em 145 mil pontos, mas já está revendo esse cenário e pode atualizar o número para cima. A casa de análises Top Gain fica com o intervalo de 148 mil a 152 mil. Que setores subiriam mais?Os setores que sofrem mais sofrem com o juro elevado. Os mais afetados são as empresas de consumo discricionário — dos setores de varejo, lazer, entretenimento e mobilidade, por exemplo. Seus consumidores dependem de crédito para comprar. Além disso, boa parte da dívida dessas companhias aumenta com os juros mais altos. Uma pausa na Selic traria melhor rentabilidade a elas. Além disso, segmentos como o financeiro, saúde, varejo e imobiliário tendem a se beneficiar. Empresas mais endividadas e com perfil de crescimento também ganham tração, já que o juro menor no futuro retira pressão dos resultados, enquanto o macro melhor acaba contribuindo para o consumo Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter As commodities - os produtos básicos - também podem crescer. Por conta da guerra tarifária, empresas exportadoras de minérios e produtos agrícolas tiveram queda no preço. Mas com o fantasma de uma recessão global se afastando, já houve alguma recuperação. Nesta semana, por exemplo, o preço do minério de ferro já subiu de US$ 98,23 para US$ 99,51 a tonelada. "Mesmo que o acordo entre China e EUA seja transitório, com duração de 90 dias, os preços já estão se recuperando", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online. Pode ser um voo de galinha?Com o alívio na guerra tarifária, os investidores estrangeiros que aplicaram no Brasil até agora podem voltar para os Estados Unidos. A taxa de juros nos EUA está alta e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pretende mantê-la nesse patamar por mais tempo, lembra Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain. "Então esse fluxo pode voltar para os EUA, não todo de uma vez, mas aos poucos", diz ele. As Bbolsas americanas também podem se recuperar e voltariam a atrair esse capital. Outro fator negativo são os gastos do governo, que podem voltar para o noticiário. Se a guerra de tarifas deixa de ser assunto, as atenções se voltam novamente para o cenário doméstico e o pessimismo pode voltar. "Aí vem novamente a questão fiscal, de gastos do governo acima da arrecadação", diz Rodrigo Moliterno diretor de renda variável da Veedha Investimentos. Além disso, mesmo que um ciclo de pausa nos juros ocorra, hoje os juros afetam as empresas. "Já vimos isso no final de 2022 e início de 2023, quando a Selic estava em 13,75%. Muitas empresas não aguentaram e tiveram dificuldades. Chegaram a pedir recuperação judicial ou fizeram reestruturações. Agora a taxa está mais alta ainda. Por quanto tempo o varejo vai aguentar?", questiona Galhardo. Bolsa barataO que pode segurar o investidor é o preço das ações. A maioria está sendo negociada a um P/L de 8,3 vezes. A relação "Preço sobre Lucro", ou P/L, indica o real valor da ação. Quanto menor esse número, teoricamente mais barato está o papel ação. O cálculo é feito dividindo-se o preço do ativo pelo lucro por ação. Na maior parte dos setores da economia, um P/L abaixo de 10 já pode ser considerado baixo. Esse espaço para recuperação do preço das ações ainda atrai os investidores. |