Embora tenha engrenado uma trajetória de queda nos últimos dias, a tendência do dólar comercial no longo prazo sempre é de se valorizar ante o real. Alternando períodos de alta e baixa, a moeda americana tem uma apreciação acumulada de 35% sobre a brasileira nos últimos cinco anos. Os efeitos do câmbio podem ser sentidos diretamente no dia a dia da do país. O preço do pãozinho francês sobe quando o dólar avança porque o trigo é cotado na moeda americana. A soja que alimenta o gado que vira bife nas refeições também. A maioria dos aparelhos celulares vendidos nas lojas locais é importada. Mesmo assim, é dificil mensurar com exatidão qual é o peso da variação das cotações no orçamento das famílias. A pedido da plataforma de investimentos internacionais Avenue, o Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) fez essa conta. Conclusão: o câmbio afeta de 16% a 18% da cesta de consumo do brasileiro, incluindo alimentos, bens duráveis e serviços. Essa porcentagem é uma boa referência para quem quer começar a investir no exterior, segundo a Avenue. É o mínimo para "neutralizar" o efeito negativo do dólar no orçamento familiar: enquanto uma parte do dinheiro está perdendo poder de compra no mercado doméstico por causa da alta da moeda americana, uma parte equivalente fica fora do país, beneficiando-se do câmbio. DiversificaçãoOs cálculos da FGV servem para lembrar que o brasileiro não é uma ilha: a realidade do cidadão local é bastante influenciada pelo que acontece no restante do mundo. Da mesma maneira, o investidor não deveria se contentar em colocar o seu dinheiro apenas em ativos do país, na opinião de William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. "O brasileiro tem um viés doméstico muito forte. Investe pouco no exterior. Mas, quando se diversifica internacionalmente as aplicações, além de proteger o consumo, reduz-se o risco da carteira", diz o economista. Isso acontece porque as diferentes regiões do mundo têm realidades diversas. Quando o Brasil sofre com uma crise causada por um fator interno, ter dinheiro aplicado em outro país minimiza as perdas. No longo prazo, os ativos brasileiros têm um desempenho pior do que os de países mais estáveis e avançados economicamente, como os Estados Unidos. Investir no exterior não é comprar dólares, e sim aplicar em títulos de renda fixa e ações de empresas estrangeiras negociadas em Bolsas de outros países. "Dessa maneira, além de se proteger do impacto do câmbio no consumo, é possível ganhar mais com a valorização desses ativos", afirma Ricardo Rochman, professor da FGV que participou da elaboração do estudo. Nos EUA e na Europa, o mercado acionário é muito maior, com opções de companhias e setores que não existem no Brasil. |