Tramita em caráter de urgência na Câmara dos Deputados o projeto de lei 36/2021, que propõe novas alterações na Lei do Código Florestal (12.651/2012). Ele foi aprovado em 2012, resultado de uma década de negociações, sendo uma das leis mais debatidas no Congresso Nacional. O PL 36/2021, de autoria do deputado Zé Vitor (PL-MG), surgiu para dar mais prazo de adesão de pequenos agricultores ao CAR (Cadastro Ambiental Rural) e, consequentemente, à implementação do PRA (Programa de Regularização Ambiental). A regularização ambiental é exatamente o cerne do Código Florestal, e flexibilizar esse prazo é postergar a própria aplicação da lei. E esta não é a única mudança proposta. Em debate na Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural da Câmara, o PL teve texto substitutivo aprovado. Nele, está indicada a anistia a todos os desmatamentos irregulares que tenham ocorrido entre 2008 e 2020, além de permitir acesso por tempo indeterminado aos benefícios do PRA, mesmo para quem desmatou depois do Código Florestal aprovado. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura está solicitando a retirada do PL da pauta, porque entender que aquilo que foi proposto em 2021 não é o objeto de votação atual. O coletivo é formato por 400 organizações, entre entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia. "A maior parte das propriedades rurais do Brasil está no CAR. Não é o produtor que precisa de tempo, são os estados que precisam acelerar a análise dos cadastros. Precisamos avançar na resolução e no operacional, isso é mais importante do que mudar o dispositivo da lei", afirma Beto Mesquita, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil e colíder da Força-Tarefa Código Florestal. Ele diz que as mudanças propostas vão na contramão do que a própria legislação de vegetação nativa busca. "O PL fere de morte o Código Florestal. É como se a lei deixasse de existir." Na prática, por exemplo, o Código Florestal aponta um prazo de 20 anos para recuperação e compensação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal. No PL, não existe mais prazo, e a flexibilização faz com que a recuperação da vegetação nativa talvez nunca aconteça. "O PL dá os mesmos benefícios de regularização para quem respeitou a lei desde 2008 e para quem desmatou irregularmente depois, até 2020. Ninguém quer prejudicar o produtor rural. Queremos que todos façam a regularização, mas é preciso distinguir os benefícios, por exemplo, para financiamento", disse em entrevista ao UOL. Mesquita ainda menciona o receio de o PL ser votado sem o conhecimento do texto da atual relatora do PL no plenário, deputada Caroline de Toni (PL-SC), à medida que ela ainda não divulgou novo parecer. Procurada pela reportagem, ela não retornou o contato. A Coalizão também chama a atenção para o fato de que a aprovação do PL 36/2021 pode aumentar a insegurança jurídica em torno da implementação do Código Florestal, enfraquecendo a governança ambiental nas esferas federal, estadual e municipal. Esse é um dos argumentos que está sendo levado a representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e da Frente Parlamentar Ambientalista para retirar o texto da pauta. Uma análise técnica do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) aponta que as alterações colocadas no PL podem reabrir disputas judiciais, e afetar a produção rural e proteção da vegetação nativa e das unidades de conservação. Diante da urgência em analisar o Cadastro Ambiental Rural, implementar o Programa de Regularização Ambiental e, finalmente, aplicar o Código Floresta, Mesquita defende a criação de um pacto nacional a ser assinado na COP30. A Coalizão busca reunir governos federal, estaduais, ministérios da Agricultura, Meio Ambiente, Gestão, multinacionais. No melhor dos mundos, Mesquita diz que gostaria de assistir os governadores compactuando a implementação e viabilizando condições para isso até 2030. "Os mercados compradores querem comprar com essa marca de regularidade ambiental. O Brasil tem essa vantagem competitiva de mapeamento vegetativo e capacidade de processamento de dados georreferenciais. É preciso unir forças para avançar", afirma. |